segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Retratos da West Coast da Europa - Publicidade Estatal (ou a propaganda para o inglês ver).


Uma imagem vale mil palavras...esta foto fala por si mesma: grita por largas centenas de milhares de indigentes e sussurra por uma mão-cheia de multimilionários. ALLdrabices que servem apenas para torrar o erário público em cartazes e em empresas de publicidade

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

1984, George Orwell, uma ficção na realidade de 2007?



Além da propaganda, da ficção dos filmes de hollywood e da situação de facto, é preferível a leitura da mais conhecida das obras literárias do jornalista e escritor inglês George Orwell : “Mil Novecentos e Oitenta e Quatro” que adverte para as várias realidades do poder político, incluindo o terror.

Na ficção, deambulamos sobre um mundo que está dividido em três super-estados: Oceânia, Eurásia e Lestásia, em que a guerra entre ambos é permanente. No super-estado da Oceânia vivem as personagens Winston, Júlia, O’Brien e todos os outros personagens. Vivem uma vida peculiar: existe apenas um idioma totalitário chamado Novilíngua; a História e os Direitos dos cidadãos são alterados conforme o interesse do Estado. Existem telas gigantes que vigiam os cidadãos onde quer que eles estejam. A opressão está por todo o lado, a mentira é a verdade e qualquer opinião oposta à do Partido significa a morte certa. E quem é que governa este Partido? O Grande Irmão ou Big Brother…hum… assustador? Familiar? Seja como for, no fundo há quem defenda que o livro, apesar de ser um romance, trata de uma advertência racional sobre as tendências totalitárias das sociedades.

Orwell sobreviveu à II Grande Guerra com intensa actividade literária, legado que vale a pena conhecer 57 anos após a sua morte. Ao longo da sua vida publicou ensaios, poemas e romances, de modo que há muito por onde vaguear a imaginação e alargar a consciência. Até porque, existem histórias que têm muito para nos ensinar assim como os ensinamentos da própria História.

O vídeo acima colocado, faz parte da actual disputa eleitoral norte-americana e é um remake irónico de um outro anúncio publicitário da Corporação Apple na guerra comercial contra a corporação Microsoft (anúncio esse que, por sua vez, já fora inspirado numa produção cinematográfica de Hollywood).

Eis pois uma sequência de ficções todas premonitórias de uma realidade possível ou provável; neste post retirado do youtube é-nos mostrado como foi (é) utilizada, por uma facção americana, a imagem e os discursos políticos reais de uma candidata à presidência de um dos mais poderosos estados do mundo, sendo a candidadta, por acaso ou nem por isso, esposa de um anterior presidente; oligarquias e propagandas à parte, se fosse em Portugal, uma campanha deste nível jamais passaria, por enquanto, por uma multiplicidade de motivos.

Daqui se conclui: vale a escrita de Orwell, recriação da sua própria vivência ou imaginação, não sendo porém original tanto na fantasia como na memória dos povos.

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Portugal retrato social

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Chefchaouen


Uma justa homenagem à amizade, às viagens que iluminam o nosso conhecimento, aos momentos de felicidade partilhados e que permanecem na memória ditada por uma fotografia, segurança da recordação em caso de futura senilidade.

Chefchaouen é uma localidade marroquina que possui um encanto particular: pessoas afáveis, ar puro de montanha, caminhadas intermináveis pelas cercanias, àgua cristalina nas cascatas que envolvem a cidade, tecelagem e marroquinaria interessante para os fanáticos das pechinchas.

Tem história de séculos na arquitectura e, para os apreciadores, há o kif fumado em longos cachimbos, acompanhado por chá de hortelã. Aconselho os doces, os chás, a visita a pé aos bazares do souk, as melodias dos músicos tradicionais na praça central, os jantares à noite nas esplanadas. Perdoem-me os puristas, mas também recomendo levar latas de conserva, ovos cozidos, pão alentejano, queijo curado, vinho e cerveja nacionais... só para garantir apetites inesperados.

sábado, 1 de dezembro de 2007

The Top Ten Myths About HIV/AIDS



Informação, prevenção, tratamento e investigação. Os "Dia Mundial de... " são importantes na celebração do combate e no reforço das estratégias, mas a luta faz-se por todos nós, técnicos e cidadãos, numa batalha diária contra um inimigo ilusoriamente invisível.

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domingo, 25 de novembro de 2007

A Psicologia não é uma Ciência Exacta, é uma Ciência Humana


Ontem ouvi um comentador do programa televisivo O Eixo do Mal, da SIC Notícias, dizer convicto e em tom displicente que no caso da criança Esmeralda e em geral nos casos judiciais em que há uma divergência entre os magistrados e os técnicos especialistas, existia uma dúvida legítima sobre as ciências que não eram exactas ou nem sequer eram ciências e que por isso não deviam ser tidas em consideração. Há dias assim, nem sempre se pode estar inspirado, e isso reconheço poder ter sido a situação do comentador cuja participação no referido programa aprecio com agrado, sempre que não tenho mais nada para fazer do que me entregar ao prazer dum sofá defronte à janela para o mundo, com todos os riscos que dessa indulgência podem advir.

Não farei comentários sobre competências técnicas em causa da lamentável situação real do caso da criança, a Esmeralda, tornado público pelos média; não vale a pena repetir aquilo que os especialistas de saúde mental infantil já relataram acerca deste caso.

O que me quero realçar neste comentário é que o tal Senhor comentador, que além de confundir a pedopsiquiatria (ramo da medicina especializado em psiquiatria infantil) com a psicologia, utilizou para desvalorizar os pareceres técnicos um neologismo carregado de ironia, aparentemente fina e inteligente: os criançólogos, disse o tal senhor. E lá discorreu sobre o tema assim como alguém que sabe em absoluto do que fala, olvidando que o seu saber sobre esta temática é muito mais subjectivo do que a subjectividade que criticava, além de não estar mais do que fundamentado sobre a sua própria opinião, a qual respeito mas com a qual não posso concordar.

Talvez esse Senhor comentador quisesse dizer que seria melhor que as decisões judiciais, também elas subjectivas (ou será o Direito uma ciência exacta?), ganhariam mais em serem fundamentadas na mera opinião dos homens que julgam, discurando os saberes dos peritos que permitem esclarecer os magistrados sobre aspectos que não dominam e que podem ser cruciais para o processo de decisão judicial.

Esqueceu também o Senhor comentador que, na posição de comunicador ouvido por milhares de pessoas, tem uma responsabilidade pedagógica que implica pelo menos assumir com humildade que aquela era apenas uma mera opinião pessoal e que não representava, nem podia representar, o consenso da comunidade científica.

Neste caso particular, que representa muito daquilo que se faz impunemente na televisão comentada, não posso aceitar indiferente que se faça tábua-rasa das últimas décadas (pelo menos) de produção de conhecimentos compilados e validados pela metodologia de investigação científica actualmente em vigor; tentar fazer passar por meio de um mero comentário televisivo uma certa visão de senso comum, ainda por cima meramente pessoal, é tentar colocar absurdamente em causa precisamente aquilo que o conhecimento científico sistematizou a partir do caos. Mas no entretenimento tudo é possível, e a televisão comercial é (infelizmente cada vez mais) disso paradigma.

Se aquele senhor fosse um cientista, teria que comprovar a sua tese precisamente através do método que suporta a validade das ciências que criticou. Como não é cientista, nem sequer um técnico das áreas por si opinadas, ficamos apenas com o conhecimento superficial que demonstrou possuir acerca das ciências e da produção científica em geral. E como uma mentira (ou uma asneira) repetida muitas vezes pode passar a ser uma verdade, convém desconstruí-la logo à partida.

A propósito, faço então um esclarecimento sumário daquilo que diferencia as ciências exactas das ciências humanas, reconhecidas que são ambas como ciências por via do método de investigação teórico-prático em que se fundamentam.

Existem outras denominações comuns para as ciências exactas, como seja “ciências puras” ou “ciências fundamentais”. Como exemplo das ciências exactas temos a matemática, a física, a geologia, a química e alguns ramos da biologia.

No âmbito das Ciências Exactas incluem-se a matemática e todas aquelas ciências que além de se sustentarem na observação e na experimentação, podem ser sistematizadas através da expressão dos seus constructos com total objectividade por via de uma linguagem definida operacionalmente e do rigor matemático absoluto.

Assim sendo, as ciências exactas admitem predições especialmente precisas e aqui reside a diferença relativamente às ciências Humanas.

Mas tal como acontece nas ciências humanas, as ciências exactas utilizam métodos rigorosos (na metodologia de investigação científica pretende-se rejeitar a H0 – Hipótese Nula) de modo a que seja possível (altamente provável com um grau de erro reduzido) confirmar as hipóteses formuladas mediante deduções ou conclusões demonstráveis e irrefutáveis (ou razoávelmente irrefutáveis). A validade dos constructos de uma ciência, seja Exacta ou Humana, está permanentemente sujeito a experiências repetíveis (ou replicáveis) em que as medidas e as predições são objectivamente quantificáveis, sejam elas irrefutáveis ou sejam altamente prováveis com elevado grau de confiança (geralmente aceita-se um alfa menor que 0,05).

O termo “ciência exacta” implica uma diferença fundamental entre as ciências exactas e as ciências humanas, como por exemplo as diferenças entre a matemática e a química relativamente à medicina ou a psicologia. Nas ciências humanas a experimentação matemática e a predição existem mas não possuem um papel tão relevante e não produzem, nem procuram normalmente produzir, resultados que sejam calculados dum modo absoluto como no caso das ciências exactas (também chamadas de fundamentais ou puras); o motivo é simples: as ciências humanas encerram em si mesmas um certo grau de subjectividade em virtude da idiossincrasia do seu objecto de estudo (o Ser Humano).

No entanto existem pontos em comum, entre eles a validação, já que as ciências humanas partilham com as ciências exactas o mesmo método para a rejeição ou de não rejeição das hipóteses, através da utilização da mesma metodologia de investigação científica e de análise estatística; a diferença essencial centram-se no grau de certeza ou de probabilidade da predição em face da particularidade dos resultados obtidos em função do objecto de estudo.

De facto, o que se passa hoje em dia é que a denominação de ciências exactas está em desuso por vários motivos; um deles é que a validação dos constructos científicos de qualquer ciência reconhecida como tal está baseada na metodologia de investigação científica suportada em constructos teórico-práticos bem definidos, que incluem a estatística ou as relações de probabilidade sistematizada, demonstrável e replicável, sendo tais procedimentos a base de trabalho comum às ciências exactas e a numerosas ciências humanas.

sábado, 24 de novembro de 2007

APAV - Violência Doméstica e o Apoio à Vítima


Em jeito de (auto)homenagem: um grande bem haja para todos, caros colegas e amigos. Força e coragem para que, como voluntários que nos dedicamos graciosamente a auxiliar quem sofre e pede ajuda, possamos permanecer firmes nos nossos propósitos de auxílio em prol do próximo.

Dito isto, passo a transcrever a notícia do jornal Público (do dia 24.11.2007) que esclarece sobre a indispensabilidade do nosso trabalho:

- «Violência Doméstica: Procura de ajuda aumentou 10 por cento no primeiro semestre deste ano.

A procura de ajuda na Associação de Apoio à Vítima (APAV) por parte de mulheres que sofreram violência doméstica aumentou dez por cento no primeiro semestre deste ano.

Na véspera do Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra as Mulheres, que se assinala Domingo, a APAV alerta para que o fenómeno abrange vítimas de todas as condições e estratos sociais e económicos.

Dados de um estudo de 2006 elaborado entre os diversos Estados Membros do Conselho da Europa, indicam que 12 a 15 por cento das mulheres europeias com mais de 16 anos de idade vivem situações de violência doméstica numa relação conjugal e que muitas delas continuam a ser alvo de violência física e sexual após a ruptura.

Um outro estudo apresentado pela Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género revelou também que no ano passado 39 mulheres portuguesas foram mortas pelos maridos ou companheiros e outras 43 ficaram gravemente feridas.

O homicídio conjugal representa 16,4 por cento do total de homicídios.

Nos últimos seis anos (entre 2000 e 2006), o número de ocorrências de violência doméstica registadas pelas forças de segurança quase duplicou, passando dos 11.162 para 20.595.

Contudo, para os peritos, este indicador não deverá corresponder a um aumento da violência, mas a uma maior visibilidade do fenómeno, levando assim ao crescimento das denúncias.

A APAV assinala Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra as Mulheres com a divulgação de um anúncio em jornais e revistas com a mensagem de que durante toda a sua vida uma em cada cinco mulheres europeias é vítima de actos de violência.

Durante 2006, a APAV contabilizou, na sua rede nacional de 15 Gabinetes de Apoio à Vítima e duas Casas de Abrigo, cerca de 13.600 crimes praticados no âmbito da violência doméstica (maus tratos físicos e psíquicos; ameaças; coação; difamação e injúrias; violação e outros crimes sexuais; subtracção de menores; violação da obrigação de alimentos; homicídio e outros).

Em 2006, segundo os dados da APAV, 112 mulheres foram vítimas de violência doméstica por dia.

Aos dados das organizações não governamentais há que juntar os dados dos crimes de violência doméstica reportados às autoridades.

A PSP, por exemplo, registou em 2006 um total de 8828 denúncias e em 2007 este número já atingiu os 9218 casos.

A tendência dos dados estatísticos da APAV para o 1.º semestre de 2007 revela também um aumento da procura de apoio por parte das vítimas de violência doméstica (cerca de 10 por cento).

A APAV alerta que a violência contra as mulheres é um problema de saúde pública que gera custos indirectos para toda a sociedade, tal como o indica o Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial de 1993 do Banco Mundial.

Este documento revelava que as violações e a violência doméstica conduzem à perda de mais anos de vida saudável entre as mulheres entre os 15 e os 44 anos do que o cancro da mama, o cancro do colo do útero, a obstrução no parto, a guerra ou os acidentes de viação.

O fenómeno da violência doméstica é visível em quase todos os países.

Em Espanha, por exemplo, todos os anos cerca de 100 mulheres são mortas pelos actuais ou ex-companheiros, estimando-se que, por semana, uma mulher espanhola morra nas mãos do seu companheiro, enquanto no Reino Unido cerca de 120 mulheres são mortas por ano.

O combate à violência contra as mulheres tem levado vários Estados a criar planos específicos de combate.

A nível internacional, várias medidas têm vindo a ser definidas no combate à violência doméstica e, no âmbito da União Europeia, a erradicação de todas as formas de violência em razão do sexo constitui uma das seis áreas prioritárias de intervenção do Roteiro para Igualdade entre Homens e Mulheres para o período 2006-2010.

Portugal tem em vigor o III Plano Nacional Contra a Violência Doméstica, tendo o governo tomado ainda iniciativas legislativas de ajuda às vítimas, entre as quais a isenção do pagamento de taxas moderadoras no acesso à prestação de cuidados de saúde.

Contudo, algumas organizações não governamentais consideram que não existe legislação eficaz que garanta a protecção das mulheres.

Segundo a presidente da União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), a legislação em Portugal, mesmo após recentes reformas, ainda não é capaz de traduzir a vontade, anunciada pelo Governo, de acabar com a violência contra a mulher e de garantir a sua efectiva protecção.

De acordo com Elisabete Brasil, o combate para impedir a violência exercida contra a mulher em Portugal tem que "ser melhor estruturado", nomeadamente "em termos de procedimentos legislativos e policiais".

A responsável defende que não faz sentido que um sistema que se diz protector "não tenha mais nada a oferecer à vítima do que uma casa de abrigo, uma solução que apenas revitimiza as vítimas".

Também a Associação Portuguesa de Mulheres Juristas (APMJ) chamou a atenção para alguns obstáculos legais no combate aos crimes de violência doméstica resultantes da aplicação da recente reforma das leis penais e processuais penais.

A APMJ diz-se apreensiva com a aplicação de algumas das novas normas penais e processuais penais, no tocante à prevenção e punição do crime de violência doméstica (artigo 8º nº3 da Lei nº51/2007 de 31 de Agosto), e solicitou a intervenção do Procurador-Geral da República (PGR).».

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Depressão - Atenção aos indícios de suicídio



A doença mental e o suicídio é uma importante causa de morte, nomeadamente junto de uma população muito jovem e activa.

Os indivíduos suicidas dão indícios de que não são atendidos nas suas necessidades emocionais e afectivas por quem está em seu redor. De facto, é frequente entre as pessoas com impulsos suicidas ou comportamentos suicidários a emissão de sinais de alarme manifestados consciente ou inconscientemente. Tais sinais indicam a necessidade de ajuda e a esperança de poderem ser salvas.

Assim sendo, é importante que as pessoas próximas a indivíduos de risco entendam e actuem sempre que se apercebam a existência de apelos de ajuda emanados sob a forma de sinais suicidários, já que essas mensagens também significam a necessidade de ajuda médica e/ou aconselhamento psicológico.

Entre os sinais de alarme mais frequentes contam-se o afastamento dos amigos e da família, a depressividade ou tristeza persistente, o choro frequente ou ocasional sem razão aparente, perda de auto-estima, agressividade inusitada, isolamento ou solidão dentro do meio familiar e/ou social, desesperança acerca do presente (sensação de nada valer a pena), desesperança sobre o futuro, culpa persistente acerca do passado, pessimismo persistente, consumos excessivos ou abuso de substâncias que alteram o estado de consciência (inclusive a toma de alguns antidepressivos sem monitorização frequente do especialista), entre outros sinais que geralmente são percepcionados pelos outros como acontecimentos estranhos ou bizarros no modo de ser habitual daquela pessoa.

Estes e outros sinais mais evidentes (como falar claramente sobre a morte como meio para resolver a sua própria situação) requerem uma resposta de ajuda por parte dos familiares ou amigos próximos, sempre com afecto, firmeza e mais afecto. Note-se que existem ainda algumas situações em que não são imediatamente claros os sinais de alerta suicidário e ainda assim existirem ideias de suicídio; no entanto, mesmo nessas situações, os sinais existem, sendo porém mais espaçados e ténues.

Mais uma vez, o afecto dos outros é crucial; ele dá-se através da atenção carinhosa e da escuta activa, sem criticas e como auxílio na procura de soluções viáveis. Esta é a melhor ajuda imediata que alguém pode dar a quem disso mostre necessidade. Depois disso, vem o encaminhamento para o apoio clínico (médico e/ou psicológico).

Porque cada caso é um caso e os terapeutas não são deuses, o suicídio pode mesmo acontecer em pessoas que estão a ser clinicamente orientadas para o trilho oposto ao do suicídio; no entanto, essas realidades excepcionais não invalidam a imperiosa necessidade do acompanhamento clínico dos potenciais suicidas ou das pessoas com ideias suicidas, sendo crucial que todos os casos em risco suicidário sejam tratadas adequada e atempadamente.

Existe um perfil para o típico suicida português: o suicida é homem, vive na Grande Lisboa, Alentejo ou Algarve, tem mais de 50 anos, é desempregado ou reformado, separado, divorciado ou viúvo, socialmente isolado, sem práticas religiosas, deprimido e com múltiplos problemas afectivos. Trata-se de um indivíduo com múltiplos problemas económicos ou de saúde física ou mental, incluindo alcoolismo e distúrbio da personalidade, com ideias prévias de suicídio ou mesmo tentativa de suicídio anterior acompanhada de avisos subtis ou explícitos, que põe termo à vida por enforcamento, arma de fogo, pesticidas, precipitação, afogamento ou trucidação. A metodologia suicida parece ser variável conforme o meio seja urbano ou rural: o enforcamento e a ingestão de raticidas são mais comuns nos meios rurais e o lançamento da janela ou a ingestão de medicamentos mais frequentes nas cidades.

Para o doente suicida, o suicídio é equacionado como uma forma de acabar com uma dor emocional insuportável causada por variadíssimos problemas. Alem disso, a tentativa frustrada (existem também muitos dos actos suicidas que têm sucesso mas cuja intenção original não seria realmente essa), são frequentemente considerado como um grito de pedido de ajuda. De facto assim é, mas não só isso.

Alguém que tenta o suicídio sente desde logo uma enorme angústia e o seu processo de percepção da realidade está organizado por uma série de distorções cognitivas que influenciam permanentemente o modo como se vê a si mesmo, os outros e o futuro. Nesta situação o indivíduo é incapaz de compreender que pode desenvolver várias opções potencialmente funcionais e, geralmente após ter repetidamente considerado e planificado essa solução final, age sob o impulso resultante da consolidação de uma construção distorcida de percepção sobre a realidade. Trata-se de uma manifestação de agressividade, contendo uma enorme revolta, que é direccionada sobre a própria pessoa.

Os sinais de suicídio mais evidentes ao olhar dos leigos ocorrem geralmente no último momentos da sequência de três grandes momentos que interagem reciprocamente: num primeiro momento o indivíduo faz a tomada de consciência de que existe um ou mais problemas que o incomodam ou magoam profundamente; num segundo momento instala-se a frustração de não encontrar solução exequível para a resolução eficaz, a contento, das causas constituintes do primeiro momento; num terceiro momento acumulam-se os sintomas de resposta à frustração, que tendem a manifestar-se sob a forma de agressividade e de revolta (ou de repressão das mesmas, através de comportamentos estranhos como seja o consumo abusivo de álcool ou de outras substâncias, gastos excessivos ou actos que podem colocar em perigo as suas vidas – aparentemente por acidente). Este último momento é comummente reforçado por intensos processos emocionais de conceptualização e pela repetição de pensamentos distorcidos cuja validade idiossincrática, de pendor obsessiva ou psicótico, gradualmente cristaliza em quadros patológicos severos como é o caso da depressão major.

A ajuda terapêutica ideal deve ser dada logo que surjam os primeiros sinais resultantes do segundo momento; mas de facto, geralmente os doentes chegam à terapia já instalados profundamente no terceiro dos três momentos acima referidos. Outras vezes, porém, não obtiveram sucesso na primeira linha de auxílio, a da ajuda dos familiares ou dos amigos, e acabam por concretizar sozinhos a fatal sequência depressivo-suicidária.

Dados estatísticos do Alto Comissariado da Saúde indicam que no ano de 2003 Portugal apresentou 7,6 suicídios por 100 mil habitantes, um acréscimo de mais 2,6 por 100 mil habitantes do que no ano de 2001. No final da década de noventa, o número de suicídios anual era de 500 suicídios, mas em 2002 e em 2003 este número mais do que duplicou.

No Plano Nacional de Saúde, o Alto Comissariado da Saúde estabelece uma meta de 2,5 suicídios por 100 mil habitantes em 2010. Esta meta teórica – afirmo isto porque conheço alguma coisa sobre este tema e sobre a situação da saúde mental em Portugal – dadas as condições presentes - parece-me uma meta irrealista além de utópica. Não que haja mal na Utopia, antes pelo contrário, mas é lamentável um tal irrealismo. Dentro de 3 anos, veremos.

domingo, 18 de novembro de 2007

Eis uma sugestão para a Casa Pia de Lisboa - clique AQUI e veja um bom exemplo


Porque não se muda um modelo que já não é o mais adequado e se investe a sério na educação dos menores à guarda do Estado, que são responsabilidade de todos nós?

O modelo institucional que vigora na Casa Pia de Lisboa está ultrapassado, é caro, possui muitas lacunas técnicas e os resultados ficam muito aquém do que é possível alcançar com outros paradigmas educativos com boas provas dadas - como por exemplo o modelo das Aldeias SOS.

Faça-se uma ruptura evolutiva, haja coragem! Para bem de todos, principalmente dos mais frágeis.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Ansiedade e Stresse - Relaxar é preciso


A ansiedade manifesta-se de modo psíquico e fisiológico através daquilo a que chamamos habitualmente de nervosismo; este parece não ser geralmente bom aliado pois pode, por exemplo quando excessivo, fazer-nos perder o controlo de uma situação, ocultar o verdadeiro objectivo da nossa conduta e impedir de nos aproximarmos do que desejamos.

O principal objectivo do relaxamento é conseguir níveis adequados de activação psíquica e fisiológica. Com o relaxamento psicofisiológico conseguimos reduzir a frequência cardíaca e respiratória e diminuir a tensão muscular e arterial, o que influencia a nossa maneira de perceber e de interpretar a realidade. Quando estamos calmos vemos as coisas de outra maneira e agimos com mais consciência sobre a realidade.

Mas, antes de iniciar a experimentação de uma qualquer técnica de relaxamento, há que saber que o relaxamento pode não ser totalmente eficaz nem recomendável a toda a gente. Existem situações que, de certa maneira, interferem no relaxamento e, neste caso os exercícios podem ser contraproducentes ou desaconselháveis. Nestas situações podemos encontrar as pessoas com doenças graves (epilepsia, diabetes, etc.), que viveram uma experiência traumática, que fazem tratamentos farmacológicos, etc., não é aconselhável praticar exercícios de relaxamento a não ser sob a supervisão de um profissional.

Para as pessoas com actividades muito stressantes ou com problemas de saúde relacionadas com a ansiedade ou com o stresse (perturbações cardiovasculares, úlceras, insónia, dores de cabeça), a prática do relaxamento é importantíssima e muito eficaz.

Relaxar-se pode tornar-se um hábito na medida em que se pratica. É possível que com uma única sessão de relaxamento se sinta como uma nova pessoa ou que pense que a técnica não passa de um disparate apatetado, mas saiba que os verdadeiros efeitos do relaxamento aparecerão com o tempo, quando o tiver praticado habitualmente.

Sugestões sobre o relaxamento

- É natural que lhe surjam dúvidas sobre esta técnica, sendo nova e estranha para si. Mas sabia que lhe pode ser útil usá-la? Tente ser paciente e esforce-se por descobrir as vantagens do relaxamento.

- Pode acontecer sentir formigueiro ou outras sensações estranhas de entorpecimento, pelo menos nas primeiras sessões de relaxamento. É um sinal de que está a aprender a relaxar-se. Confie na técnica Deixe-se levar pois não lhe vai suceder mal algum por isso.

- Sentir-se cómodo é muito importante. Para isso deve procurar o lugar, a posição, a hora do dia em que melhor se sinta.

- O relaxamento uma técnica para si, é de algo íntimo e pessoal, não tem que prestar contas dos resultados a ninguém. Por isso não será bom que esqueça as pressões e tire as vantagens de que precisa?



O Relaxamento completo

O relaxamento completo é constituído por três passos fundamentais:

1.O controle da respiração.
2.Os exercícios de tensão-relaxamento.
3.A visualização.


Vou descrever cada um deles em pormenor; não hesite em praticá-los assim que os tiver compreendido.

Para iniciar o exercício deverá escolher um lugar tranquilo onde possa não ser interrompido durante algum tempo; sente-se ou deite-se comodamente, com os braços e pernas estendidos. Depois feche os olhos.

Em cada passo encontrará também um pequeno texto que poderá gravar numa cassete com a sua própria voz e que lhe permitirá recordar a cada momento o que tem que ir fazendo.

1. O controlo da respiração

Todo o seu esforço deve tender no sentido de se concentrar na respiração. Pouco a pouco irá notar como a sua respiração abranda até chegar a um ritmo natural. Para o conseguir, respire pelo nariz e expire lentamente pela boca, mas sem aflições, deixando que o seu organismo actue livremente. Pode imaginar por onde passa o ar, notar como o seu peito sobe e desce ao inspirar e expirar... Tudo o que tem a fazer é notar como o ritmo da sua respiração se vai tornando mais lento.

TEXTO 1
«Respiro pausada e lentamente...Inspiro pelo nariz... Encho de ar os pulmões e noto como o meu peito se levanta... Depois expiro lentamente pela boca... Noto como os meus pulmões se esvaziam...De novo inspiro... Noto o ar nos meus pulmões e retenho-o durante três segundos... 1, 2, 3... Agora expiro o ar pela boca... Cada vez mais devagar... Pouco a pouco vou-me tranquilizando... Respiro, inspirando e expirando lentamente... Relaxo-me... neste momento o mais importante é relaxar-me...»



2. Os exercícios de tensão-relaxamento

Uma vez estabelecido o ritmo de respiração adequado, podemos proceder aos exercícios de tensão-relaxamento, que consistem em ver um por um os músculos do nosso corpo para conseguir um relaxamento completo. Para isso temos de começar por retesar uma série de músculos e depois relaxar-nos. Por exemplo, para retesar a mão, apertamos com força os dedos contra a palma da mão, ou seja, fechamos o punho. Ao mesmo tempo temos os olhos fechados e mantemos a respiração.
Depois de duas inspiração-expiração, libertamos a tensão acumulada, ou seja, abrimos a mão e relaxamos os músculos. Procedemos do mesmo modo com as outras partes do corpo.

Na seguinte lista encontrará a forma de relaxar os músculos segundo a devida ordem:

Mãos: Fechar o punho apertando.
Antebraços: Dobrar as mãos pelos pulsos, esticando os dedos para cima.
Bíceps: Tocar nos ombros com os punhos.
Ombros: Levantar os ombros como se quisesse tocar nas orelhas.
Testa: Erguer as sobrancelhas o mais possível.
Rosto: Franzir o nariz e fechar os olhos (apertando-os).
Lábios: Apertar os lábios.
Língua: Apertar a língua contra o palato.
Pescoço: Pressionar a cabeça contra as costas da cadeira ou contra a almofada.
Peito: Respirar fundo para que os músculos do tórax se expandam, retendo a respiração durante alguns segundos.
Estômago: Manter os músculos do estômago para dentro. Encolher a barriga.
Costas: Arquear as costas.
Pernas e coxas: Levantar as pernas da cadeira ou da cama, retesando os músculos das coxas.
Barriga das pernas e pés: Levantar os dedos dos pés para trás, retesando os músculos da barriga das pernas.


TEXTO 2

«Noto os efeitos da respiração... é uma respiração profunda... Agora concentro-me na mão direita... Aperto o punho com força, sem mexer a mão... Os dedos carregam com força na palma da mão... Concentro-me na tensão acumulada... O meu punho parece de ferro... Aperto com força e conto até 3... 1, 2, 3... Expiro o ar ao mesmo tempo que relaxo a mão... A minha mão não pesa... Está mole e sem forças... Continuo a respirar lenta e pausadamente... Penso na mão esquerda... Reteso-a... Aperto os dedos contra a palma da mão... Noto a tensão... Parece um punho de ferro... Conto até 3... 1, 2, 3... Relaxo a mão e expiro lentamente pela boca... A minha mão não pesa... Está relaxada... Estou relaxado... Penso no antebraço direito... Toda a tensão se acumula nele... Dobro a mão pelo pulso e estico os dedos para cima com força... Estico os dedos e toda a tensão reside agora aí... Conto até 3... 1, 2, 3... Agora relaxo o braço e deixo-o cair como se estivesse mole... Respiro lentamente... estou relaxado... »

Continue o texto, seguindo as indicações anteriores. Não se esqueça de seguir a mesma ordem, partindo da tensão e, depois de contar até três, relaxando-se e notando como a sua respiração continua lenta e pausada.


Quando terminar com todos os músculos, repare como se sente o seu corpo, pesado e relaxado, afundando-se na cadeira ou na cama.

Recorde: os exercícios de relaxamento vão sendo úteis à medida que se praticam. Por isso, talvez devesse limitá-los ao princípio para ir aumentando a complexidade de dia para dia.
Pode, pois, dedicar a primeira semana a relaxar os primeiros três grupos de músculos (mãos, antebraço e bíceps), para depois ir acrescentando os outros. Pouco a pouco irá aprender a relaxar-se, mas não esqueça que não há pressa.

Depois de ter retesado e relaxado um determinado número de músculos (o que quiser), deve passar à alínea seguinte.


3.A visualização

Antes de iniciar um exercício de relaxamento é muito útil recordar factos e imagens agradáveis que possa utilizar nesta parte do exercício.

Uma vez relaxados os músculos escolhidos, leve à sua mente estes pensamentos. Durante esta fase poderá saborear estas recordações ou desejos agradáveis. Pode passar assim cinco ou dez minutos.

Procure palavras, imagens ou recordações que possa associar facilmente com a calma e a tranquilidade (as ondas do mar, o piar das aves...). Pouco a pouco irá associando estas situações ao relaxamento e, quando estiver tenso em qualquer situação, poderá tranquilizar-se apenas recordando estas imagens.

A visualização pode centrar-se nas situações que tem que enfrentar e naquelas em que deseja ser bem sucedido. Nesse caso consta das seguintes frases:

a)Descubra o que deseja conseguir (vencer o stresse, ser aprovado num exame, etc.)

b)Concentre a sua atenção nesse objectivo como se fosse uma experiência que estivesse a viver no momento.

c)Imagine-se a viver essa situação; observe o modo como se comporta, o que pensa e sente, e como consegue sair-se bem.

Pode ser útil registar os exercícios de relaxamento efectuados depois de cada sessão de modo a que possa monitorizar os seus próprios progressos bem como anotar as dificuldades que possa sentir enquanto aprende a dominar a técnica.

domingo, 28 de outubro de 2007

So Happy Together



Escreveu Pessoa: "Todas as cartas de Amor são ridículas. Não seriam cartas de Amor se não fossem ridículas".

Seja como for, o que importa é mesmo o Amor.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Privação de sono pode originar condutas emocionalmente irracionais


Um estudo do Laboratório de Sono e Neuroimagem da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, revela que a falta de sono conduz a um comportamento emocional irracional com reacções exageradas a experiências negativas.

O estudo publicado na revista «Current Biology», demonstra a ligação entre a perda ou privação do sono e os transtornos psiquiátricos. Segundo o estudo, a privação de sono «desliga» a região do lóbulo pré-frontal, que normalmente mantém as emoções sob controlo, provocando nos centros emocionais do cérebro uma reacção exagerada a experiências negativas.

Através de imagens de ressonância magnética funcionais, os cientistas analisaram o que ocorre nas áreas emocionais do cérebro quando as pessoas não dormem o suficiente para obter um bom descanso.

«O sono parece restaurar nossos circuitos emocionais no cérebro, e ao fazê-lo, nos prepara para os desafios do dia seguinte e para as interacções sociais», a afirma Matthew Walker, um dos investigadores, acrescentando «O mais importante desse estudo é que mostra os perigos de não dormir o suficiente. A privação de sono quebra os mecanismos do cérebro que regulam os pontos-chave da nossa saúde mental».

Os cientistas já sabiam que a privação de sono prejudica um enorme conjunto de funções corporais, incluindo o sistema imunitário e de metabolismo e os processos cerebrais de aprendizagem e memória, mas esta é a primeira vez que se prova o papel do sono no governo do estado emocional do nosso cérebro.

Os investigadores dividiram um grupo de 26 pessoas em dois grupos: um que dormiu normalmente, e outro em que os participantes foram mantidos acordados por cerca de 35 horas.

No dia seguinte, os cérebros dos participantes foram fotografados por ressonância magnética, processo que mede a actividade cerebral com base na pressão sanguínea, enquanto viam 100 imagens. Ao princípio, os participantes no estudo encaravam as imagens como emocionalmente neutrais, mas ganharam-lhes cada vez mais aversão com o tempo

Walker afirmou que «Tinha previsto um aumento potencial das reacções emocionais do cérebro [nas pessoas privadas de sono], mas a magnitude do aumento foi surpreendente», «É quase como se, com a falta de sono, o cérebro ficasse com uma actividade mais primitiva, com menos capacidade de colocar as experiências emocionais dentro de um contexto e de produzir respostas apropriadas».

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Vejam bem (a propósito de recordar Coimbra)


«Vejam bem
que não há só gaivotas em terra
quando um homem se põe a pensar,
quando um homem se põe a pensar.

Quem lá vem
dorme à noite ao relento na areia,
dorme à noite ao relento no mar,
dorme à noite ao relento no mar.

E se houver
uma praça de gente madura,
E uma estátua
E uma estátua de febre a arder...

Anda alguém
pela noite de breu à procura
e não há quem lhe queira valer,
e não há quem lhe queira valer.

Vejam bem
daquele homem a fraca figura
desbravando os caminhos do pão,
desbravando os caminhos do pão.

E se houver
uma praça de gente madura
ninguém vai,
ninguém vai levantá-lo do chão.
»

Letra e música: Zeca Afonso

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Maio de 68 - A utopia das gerações académicas de 69 foi apenas isso...Utopia.


Caminhamos inconscientemente para um Estado Totalitário, inocentemente crentes numa Democracia em cujo povo não admite a essência Oligárquica de legitimidade border-line dos seus Senhores.

Tal como na Alemanha nos anos 30, a maioria da população urbana e toda a população rural, agora info-excluída além de iletrada, não compreende o que se passa. Não entendem porque desconhecem a informação indispensável. Não querem sequer gastar tempo a entender o que se passa em seu redor porque estão entretidos com as telenovelas, o futebol e a miragem de uma vida como-a-da-vida-dos-ricos-e-famosos.
Na ilusão que lhes proporcionaram, apenas desejam ser deixados em paz, para continuar a monótona e eterna luta de sobrevivência entre o início e o fim do mês, aguardando o parco soldo, atolados na preocupação de fazer face aos custos da armadilha neo-feudal que estimulou o facilitismo consumista "em suaves prestações".

Compreende-se que seja difícil, toda esta situação decorre num clima de anestesia psicossocial permanentemente enfatizado por ameaças várias que fazem jus ao provérbio "para pior, antes assim". No ventre da paranoia utilitária estão incluídas dois gémeos siameses: a ameaça do terrorismo fundamentalista islâmico e o risco do colapso económico, tal qual um Frankenstein esquizofrénico de paternidade neo-conservadora e útero islamista, amplamente mediatizados por influência dos interesses, obscuros, do verdadeiro Poder.

O medo quando eficientemente exagerado, pode resultar em terror e entorpece; portanto, pode ser muitíssimo útil para alguns, apesar do incómodo para a maioria.

O torpor actual da população portuguesa é também repetidamente reforçado pelo receio ansioso de perder os parcos meios de subsistência por causa de uma qualquer falência surpresa ou pela ameaça velada de serem alvos fáceis de uma qualquer penhora consequente ao emergir da insolvência por excesso de créditos. O que se poderá dizer ou fazer quando se sabe que educar decentemente um filho custa o equivalente a dois salários mínimos?

Muitos foram aqueles que, crédulos e dignos, aquilatavam que o Estado pós 25 de Abril iria finalmente querer acabar com o Mal, sendo já são apenas uns quantos que têm vindo a descobrir que a chamada "Revolução" descurou quem deveria proteger. De serve a nobreza e o bom carácter quando imersas num atoleiro de torpeza?

A geração da revolta estudantil de 1969, na minha opinião, falhou. Falharam as chamadas elites políticas, de quem o país esperava um mundo novo e obteve uma aldeia endividada.

Aquelas elites, à esquerda e à direita, do alto do seu egocentrismo, cantam repetidamente desde aquela época fadunchos após touradas ou temas de intervenção arranhados em guitarradas ébrias entre amigalhaços nostálgicos, enquanto catrapiscam algumas franguinhas/os encantadas/os pela hipnose branca das cobras velhas. Tudo garganta, muita parra pouca uva (encarquilhada e seca).

Envelhecidos pelos excessos, obesos com as artérias entupidas, inebriados por abusos sucessivos, por taras inenarráveis e pervertidos por anos a fio de habituação a fetiches banalizados entre concretizações esgotantes de perversas fantasias, já não possuem energia para a recriação do Amor que antes glorificaram. Agora, apenas podem ambicionar ao prazer fácil, imediato e dúbio, que pouca culpa lhes trará, experientes que estão na ausência crescente de insensibilidade perante a pureza e da falta de remorsos perante a destruição do outro.

Assim como a tal posição sexual, a elite governativa da utópica geração de 69 fecha sobre si um círculo de auto-gratificação que dá prazer aos intervenientes directos, mas que é limitativo na gestação de prole e, por isso mesmo, frustrante na continuidade melhorada da situação. Há porém, uma verdade inultrapassável: o decorrer do Tempo será o melhor juiz de todas as coisas.

Quanto à minha própria geração - aquela outra das efémeras manifestações anti-PGA e dos pífios movimentos anti-propinas - na sua maioria aguardam pacientemente a oportunidade de intervir, (des)crentes que estão na (des)honestidade legítima dos agentes do Estado, eleitos ou nomeados para defender o Bem da Nação. Pois sim: aos queridos colegas da minha década, a de 70, aos jotinhas já crescidos e afins, não lhes auguro grandes sucessos se imitarem ou se apenas reformarem superficialmente os procedimentos vigentes da geração anterior. Viu-se bem no que deu a evolução na continuidade da Primavera Marcelista .

Se o sucesso de Portugal pode implicar uma continuidade, um corte ou uma ruptura, não me compete opinar publicamente - disso não tenho qualquer obrigação e muito menos para tal sinto vontade; Apenas direi que o sucesso lato senso depende de uma vasta equação que contém, entre muitas outras variáveis, a gestão racional das emoções, a aplicação sensível da racionalidade e do desempenho audaz da administração por pessoas competentes.

A propósito de (in)competência: têm sido alguns os sintomas que evidenciam ultimamente uma deriva autoritária emergente, entre outros sinais corrupcionais preocupantes; convém pois, permanecer alerta, construtivo e jamais abdicar da nossa responsabilidade de intervir como cidadãos em prol da sociedade. Ora a propósito disto, diz-me um querido amigo do alto da sua prudência abonada, que quem pensa e escreve certas coisas poderá até mesmo vir a ser acusado de desobediência civil. Agradeço o aviso e reconheço em algumas situações recentes tornadas públicas aquele aviso.
Se assim for, teremos chegado à re-legitimação do defunto "Delito de Opinião" mas principalmente ao atropelo descarado, perverso e fatal da Constituição da III República. Será por isso que se fala, nos tempos que correm, em mudar a dita cuja?

Não descarto a possibilidade de que a tal absurda e kafkiana hipótese acusatória um dia me possa vir a suceder, a mim ou a qualquer outra alma realista que ouse manifestar-se sem ser politicamente correcta, como alías já ocorreu num passado muito recente. Mas descanse o meu caro amigo porque se tal um dia suceder, aceitarei o seu poderoso patrocínio que sei que paternalmente me imporá. Tudo porque também reconheço, que sendo desprovido de substanciais meios, sou rico em amizades fraternais, estando assim obrigado a não ser estupidamente orgulhoso.

Sendo assim sejamos claros: hoje penso que, para quem está atento ao decorrer dos pormenores do tempo, existem vários sinais que revelam um insidiosa tendência para a fundação de um Estado neo-Totalitário, um híbrido anormal travestido de roupagens da Democracia, mas com uma Oligárquica matriz interior, de traços e instintos absolutistas: regulamentação para tudo, dependência para quase todos. Ainda recentemente fomos testemunhas silenciosas e colaborantes (por inacção)de um golpe de Estado constitucional que veio a resultar numa posterior maioria absoluta que, por enquanto, se mantêm. O povo, essa imensa massa heterogénea que não têm uma só opinião, deixa-se influenciar com facilidade. Doutro modo, não existiriam, agora e no passado, ditadores eleitos democraticamente.

E é dentro desta dependência pela liderança pater família que, envoltos nos longos braços dos pastores que detém o cajado e os cães de guarda, dormimos como ovelhas no redil. Um povo que dorme assim é porque tem a consciência leve ou então é crente ou é ingénuo, ou é tudo isto em simultâneo, sendo tal facto enternecedor sem deixar de ser preocupante. – Mas… e se os pastores forem também eles, afinal, os lobos? Será pois caso para recordar a locução latina que desculpará quem os legitimou: beati pauperes spiritu.

A ser assim, no mínimo um destes dias acordaremos numa Cadeia, em consequência de uma qualquer decisão aleatória de prisão preventiva emitida pela infalibilidade dos meritíssimos semi-deuses que seguem à letra os ditames normativos feitos à medida dos interesses da situação.

Quando abrirmos tardiamente os olhos para o pesadelo, veremos no beliche de cima o vizinho que festejou o aniversário e bebeu uns copos arriscando ir para casa de carro: teve azar, não foi previamente avisado por um amigo da esquadra sobre a operação-stop dessa noite.

Na cela do lado estarão também o merceeiro e o dono do café da esquina, a passar o tempo de detenção por fraude após inábil fuga ao fisco tentada para evitar a falência depois de mais uma subida dos impostos que lhes prometeram não subir ou em consequência da abertura de mais um Centro Comercial. Uma ficção, não é verdade?

Continuando este irrealista cenário, no pátio encontraremos o arrumador a quem costumávamos dar umas moedas e que foi detido por tráfico para consumo. Chegados ao refeitório, podemos almoçar com homem do talho, preso por ter dado uma estalada no filho grosseirão. Quando regressarmos pelos corredores lúgubres à cela, se sobrevivermos ao stresse das ameaças de violação e às agressões físicas dos "soldados" que cumprem pena para salvar as hierarquias do polvo, talvez consigamos ambicionar o sonho de emigrar se formos libertados vivos e sãos.


Na cadeia estaremos todos garantidos disto: vamos aprender a amaldiçoar o dia em que nascemos inocentes, crédulos e pobres, sem qualquer hipótese viável de sermos "empreendedores de sucesso" ou de termos conseguido obter um fluxo financeiro relevante para a contratação dos serviços de um escritório de advogados especialistas ou de um lobbie que nos promova uma revisão legal das normas, ou outros serviços de limpeza regiamente pagos por contas instaladas num qualquer offshore.

Deus tenha Piedade de nós.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Pia casa, pia baixinho - brandos costumes, públicas virtudes e vícios privados.


O Senhor Presidente da República, a quem por minha própria e livre iniciativa formalmente apoiei (passando, não sem aborrecimento, pela burocracia que envolve a papelada que é exigida ao cidadão apoiante de uma candidatura) aquando as eleições presidenciais, já se pronunciou publicamente sobre o tenebroso assunto do Processo Casa Pia. No entanto, tal como as (in)consequências resultantes do discurso Presidencial do 5 de Outubro de 2006 (no qual o PR alertou a sociedade e a governação para o alastramento da corrupção a todo o sistema do Estado), temo bem que os responsáveis pela Investigação e resolução judicial deste flagelo, e de outros problemas prementes, façam novamente ouvidos de mercador.

Aguardo e espero serenamente que o mais Alto Magistrado da Nação continue a cumprir os pressupostos que me moveu (e move) como cidadão a agir voluntáriamente em seu apoio: garantir a independência nacional, a unidade do Estado e o regular funcionamento das instituições democráticas, e a defender, cumprir e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa.

Antecipa-se um possível resultado penal suave e resumidamente isto quer significar que ficará tudo "em águas de bacalhau". Deste modo, se tal suceder, os Tribunais (e o sistema judicial) irão novamente revelar toda a sua fragilidade na aplicação da justiça, reforçando a enorme descrença que os cidadãos sentem de dia para dia acerca do Ramo Judicial, um dos orgãos mais importantes da soberania democrática.

Quando penso sobre a situação actual da Justiça (para não dizer "na noção de justiça da Situação"), concluo que o normativo jurídico, inclusive o código penal, deve continuar a ser analisado e corrigido, tendo em consideração a avaliação continuada das últimas revisões; é natural que assim seja já que as sociedades evoluem contínuamente assim como as regras que sustentam a dinâmica da interacção social. Por conseguinte, penso que teria sido muito mais adequado que esta última revisão do código do processo penal fosse aplicada gradualmente como parte de um processo de actualização sendo concomitantemente alvo de uma avaliação objectiva e independente.

Perante as emergentes evidências de disrupção em curso - inclusive aquelas recentes que envolvem visitas de policiais a sindicatos, entre outras ocorrências de corrupção económica e política ou de crime violento que são do conhecimento público - poderemos então concluir que aquelas intervenções públicas de Sua Excelência O Presidente da República foram, e são, actualíssimas e que estão intrinsecamente correlacionadas com a essência das preocupações explícitas na mensagem presidencial acima referida.

Em face disto, é da mais elementar evidência que deverão ser tomadas medidas excepcionais para solucionar os sinais evidentes da decomposição dos mais elementares fundamentos da democracia do Estado Português, a começar pela Investigação Criminal e pela aplicação exemplar da Lei.

A degradação constante dos pressuposto básicos da Democracia significa a implosão da própria.

Veremos como vai ser.

...

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Escutai bem as escutas...

ESCUTAS

«CONVERSA SOBRE INQUÉRITO - Paulo Portas e Abel Pinheiro conversam um dia depois de o ex-tesoureiro do CDS ter jantado com Celeste Cardona

- Abel Pinheiro fala com Paulo Portas, a 13 de Abril de 2005, sobre uma investigação ao CDS. O ex-tesoureiro do partido garante que a informação sobre a existência do inquérito foi confirmada por Celeste Cardona.

Abel Pinheiro (AP) – Eu ontem jantei com a nossa amiga Celeste...

Paulo Portas (PP) – Sim.

AP – Foi ela que me tinha convidado para jantar e... me disse as mesmas coisas.

PP – Hum!

AP – De maneira que... tens que ver, ou pelo menos vermos, o que é que se passou, né? Em 2003, ou coisa que valha, com as pessoas, né?

PP – Certo. Mas tinha que... algum elemento...

AP – Não, não. Isso ela não entrou em detalhes operacionais. Sabia que a coisa existia, ponto final. Originariamente a história a ti veio com o nosso amigo lá, não é? Do outro lado. Quem te contou a primeira história!

PP – Sim. Espera por esta via não...

Abel Pinheiro fala com Portas e conta-lhe que Rui Pereira foi convidado para suceder a Souto Moura.

Abel Pinheiro (AP) – Almocei com o nosso amigo Rui... Bom. É sobre aquela informação telefónica... Ele vai tratar, mas acha altamente improvável que dentro de dois dias tenha informação.

Paulo Portas (PP) – E alguma informação relevante ou não?

AP – A informação relevante que ele me deu, mas só ‘just for your eyes’: foi convidado para ser o novo procurador-geral da República.

PP – Certo.

AP – Mas isso é tão reservado, tão reservado...

PP – Sim, sim, sim.

AP – Só não estão a conseguir convencer o gato constipado [Souto Moura] a apresentar a carta de demissão e o Sampaio não quer demiti-lo.

PP – Ok, ok, já percebi. De resto nada de especial. Essas coisas... claro!


CARGO PROMETIDO A RUI PEREIRA - Abel Pinheiro conta a Rui Pereira que o seu nome foi falado a Sócrates para PGR e para ser sugerido ao Presidente da República.

AP – Como vês, vale a pena cultivar os nossos amigos.

Rui Pereira (actual Ministro da Administração Interna, ex-coordenador da Unidade de Missão para a Reforma Penal, ex-Juiz do Tribunal Constitucional, Ex-Director dos SIS -Serviço de Informação e segurança) e Abel pinheiro, ex-tesoureiro do CDS-PP.

Abel Pinheiro conta a Rui Pereira que Paulo Portas se encontrou com Sócrates.

Abel Pinheiro (AP) – Olha, o nosso amigo [Paulo Portas]... tive uma longa reunião por causa do nosso congresso.

Rui Pereira (RP) – Hum!

AP – E ele foi chamado pelo patrão-mor do reino... Sugeriu aquele lugar. E fez uma coisa – mas tu guarda isso para ti –, se ele, o meu patrão, intermediava o pedido junto do tio Jorge [Sampaio].

RP – Quer dizer, a ver se eu compreendo. É que eu... agora, escapou-me qualquer coisa. O patrão-mor que tu estás a considerar é o engenheiro?... E o engenheiro é o que pediu para intermediar junto ao Jorge?

AP – Pediu ao meu patrão.

RP – Exacto.

AP – Como sabes, o meu patrão é cria do Jorge, por parte do pai, não é?

RP – Eh pá, olha, já sabes que fico... reconhecido, como é óbvio! ».


in Correio da Manhã, 2007-10-03


Limitação de responsabilidade (disclaimer): Rui Carlos Pereira, Celeste Cardona, Paulo Portas e outros nomes acima referidos pela transcrição de escutas efectuada pelo jornal Correio da Manhã não são, que se saiba, arguidos de qualquer irregularidade ou ilegalidade sobre os factos acima referidos. De qualquer modo, os sujeitos processuais gozam do direito legal de presunção de inocência até à emissão de sentença condenatória transitada em julgado.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

O Lobo com pele de cordeiro


Repito o post de 12 de Julho a que acrescento este comentário: o Presidente do Irão mentiu descaradamente ontem, ao vivo e a cores para todo o mundo, num discurso feito numa Universidade Americana. Mentiu neste tema(da execução de gays no Irão) pelo que deduzo que o fez também em outros assuntos internos, como o nuclear, os direitos das mulheres, o terrorismo de Estado. Que credibilidade tem o regime de Teerão? Lamento a sorte de um povo, como lamento o destino que nos espera.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Natália de Andrade interpreta "Madame Butterfly"

Uma mulher com um sonho tenaz, sempre belo e admirável em qualquer ser humano sensível, o de cantar ópera e ser uma diva do belo canto... Uma edição de canções interpretadas e pagas por si, admirável persistência de uma alma pura...Um pesadelo aos ouvidos do Mundo ou um optimo substituto ao Prozac, venha o diabo e escolha! Deus a guarde, conseguiu ir mais além do que um dia sequer imaginou.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Mania e Maníacos


A mania caracteriza-se por uma actividade física excessiva e sentimentos de euforia extremos que são muito desproporcionados em relação a qualquer acontecimento positivo. A hipomania é uma forma leve de mania.

Embora uma pessoa possa ter uma depressão sem episódios maníacos (perturbação unipolar), a mania apresenta-se, mais frequentemente, como parte de uma doença maníaco-depressiva (perturbação bipolar).

As poucas pessoas que parecem apresentar só mania podem ter, de facto, episódios depressivos ligeiros ou limitados no tempo. A mania e a hipomania são menos frequentes do que a depressão e são também mais dificilmente identificáveis, porque, enquanto a tristeza intensa e prolongada pode levar a consultar um médico, a euforia fá-lo com muito menos frequência (dado que as pessoas com mania não têm consciência de ter um problema no seu estado mental ou no seu comportamento). O médico deve excluir a presença de uma doença orgânica subjacente na pessoa que sofre de mania pela primeira vez, sem episódio depressivo prévio.

Sintomas e diagnóstico:
- Os sintomas maníacos desenvolvem-se tipicamente de forma rápida em alguns dias. Nas fases precoces (leves) da mania, a pessoa sente-se melhor do que habitualmente e muitas vezes aparece mais alegre, rejuvenescida e com mais energias.

Uma pessoa maníaca está geralmente eufórica, mas pode também estar irritável, reservada ou francamente hostil. Geralmente crê que se encontra muito bem. A sua ausência de reparos nesta situação, juntamente com uma enorme capacidade de actuação, pode fazer com que a pessoa se torne impaciente, intrusiva, intrometida e irritável, com tendência para a agressão, quando alguém se aproxima dela. A actividade mental acelera-se (uma situação chamada fuga de ideias). A pessoa distrai-se facilmente e muda constantemente de tema ou tenta abordar outro novo. Pode ter a falsa convicção de riqueza pessoal, poder, inventiva e génio e pode assumir de forma temporária identidades grandiosas, crendo, por vezes, que é Deus.

A pessoa pode julgar que está a ser ajudada ou perseguida por outras ou tem alucinações, em que ouve e vê coisas que não existem. Diminui a sua necessidade de sono. Uma pessoa maníaca empenha-se em várias actividades de forma inesgotável, excessiva e impulsiva (como tentativa de negócios arriscados, visita a casas de jogo ou comportamentos sexuais perigosos), sem reconhecer os perigos sociais inerentes a essas actividades. Em casos extremos, a actividade física e mental é tão frenética que se perde qualquer relação clara entre o humor e a conduta numa espécie de agitação sem sentido (mania delirante). Requer-se então tratamento imediato, porque a pessoa pode falecer de esgotamento físico.
Em casos de mania com menor grau de hiperactividade, pode requerer-se a hospitalização para proteger a pessoa e os seus familiares da ruína por um comportamento económico ou sexual desaforado.

A mania diagnostica-se pelos seus sintomas, que são caracteristicamente óbvios para o observador. No entanto, como as pessoas com mania se caracterizam por negar qualquer problema, os médicos geralmente têm de obter a informação através dos membros da família. Os questionários não se utilizam tão amplamente como na depressão.

Tratamento:
- Os episódios de mania não tratados acabam de modo mais brusco do que os da depressão e são habitualmente mais curtos, durando de poucas semanas a vários meses. O médico tenta por todos os meios tratar o doente no hospital, porque a mania é uma emergência médica e social.

Um fármaco, o lítio, pode reduzir os sintomas da mania. Dado que o lítio demora de 4 a 10 dias a fazer efeito, muitas vezes administra-se de forma concomitante outro medicamento, como o haloperidol, para controlar a excitação do pensamento e da actividade. No entanto, o haloperidol pode provocar contracção muscular e movimentos anormais, e, portanto, administra-se em pequenas doses, em combinação com uma benzodiazepina, como o lorazepam ou o clonazepam, que aumentam os efeitos antimaníacos do haloperidol e reduzem os seus efeitos secundários desagradáveis.

Depressão


A depressão é um sentimento de tristeza intenso; pode ocorrer depois de uma perda recente ou de outro facto triste, mas é desproporcionado relativamente à magnitude do facto e persiste para além de um período justificado.

Depois da ansiedade, a depressão é a perturbação psiquiátrica mais frequente. Estima-se que cerca de 10 % das pessoas que consultam um médico pensando que têm um problema físico sofrem na realidade de depressão. A depressão começa habitualmente entre os 20 e os 50 anos. Os nascidos nas últimas décadas do século XX parecem ter uma incidência maior de depressão do que as gerações anteriores.
Um episódio de depressão dura habitualmente de 6 a 9 meses, mas em 15 % a 20 % dos doentes dura 2 anos ou mais. Os episódios tendem geralmente a repetir-se várias vezes ao longo da vida.

Causas:
- As causas da depressão não se conhecem por completo. Existe um número de factores que podem predispor uma pessoa a sofrer de depressão mais do que outra, como a predisposição familiar (factores hereditários), os efeitos secundários de alguns tratamentos, uma personalidade introvertida e acontecimentos emocionalmente desagradáveis, particularmente os que implicam uma perda. A depressão pode também surgir ou piorar sem qualquer acontecimento vital stressante.

As mulheres são mais propensas do que os homens a sofrer de depressão, embora as razões não estejam completamente claras. Os estudos psicológicos demonstram que as mulheres tendem a responder à adversidade fechando-se em si próprias e autoculpando-se. Pelo contrário, os homens tendem a negar a adversidade e a dedicar-se em pleno a diversas actividades. Quanto aos factores biológicos, os mais responsáveis são os hormonais. As alterações nos valores hormonais, que podem provocar mudanças de humor exactamente antes da menstruação (tensão pré-menstrual) e depois do parto (depressão pós-parto), podem ter algum papel nas mulheres. Nas que sofreram depressões, podem ocorrer mudanças hormonais semelhantes depois do uso de anticoncepcionais orais. A função tiróidea anormal, que é bastante frequente nas mulheres, pode constituir outro factor.

A depressão que se produz depois de uma experiência traumática, como a morte de um ente querido, chama-se depressão reactiva. Algumas pessoas podem deprimir-se de modo temporário como reacção a certos períodos de férias (férias tristes) ou aniversários com certo significado, como o aniversário da morte de um ente querido. A depressão sem precipitantes aparentes conhece-se como depressão endógena. Estas distinções, no entanto, não são muito importantes, dado que os efeitos e o tratamento das depressões são semelhantes.

A depressão pode também acontecer com um certo número de doenças ou de perturbações físicas. As perturbações físicas podem causar uma depressão directamente (como quando uma doença tiróidea afecta os valores hormonais, o que pode induzir depressão) ou indirectamente (como quando a artrite reumatóide causa dor e incapacidade, o que pode conduzir à depressão).

Muitas vezes, a depressão em consequência de uma perturbação física tem causas directas e indirectas. Por exemplo, a SIDA pode, directamente, causar depressão se o vírus da imunodeficiência humana (VIH), que a provoca, danificar o cérebro; a SIDA pode causar depressão de forma indirecta quando tem um impacte global negativo na vida da pessoa.

Vários fármacos, sobretudo os utilizados para tratar a hipertensão arterial, podem causar depressão. Por razões desconhecidas, os corticosteróides causam muitas vezes depressão quando são produzidos em grandes quantidades no contexto de uma doença, como na síndroma de Cushing, mas tendem a causar euforia quando se administram como tratamento.

Existe um número de situações em psiquiatria que podem predispor para a depressão, como certas perturbações por ansiedade, o alcoolismo e a dependência de outras substâncias, a esquizofrenia e a fase precoce da demência.

Sintomas:
- Os sintomas desenvolvem-se, habitualmente, de forma gradual ao longo de dias ou de semanas. Uma pessoa que está a entrar numa depressão pode aparecer lenta e triste ou irritável e ansiosa. Uma pessoa que tende a concentrar-se em si mesma, a falar pouco, a deixar de comer e a dormir pouco está a sofrer uma depressão vegetativa. Uma pessoa que está muito inquieta, retorcendo as mãos e falando continuamente está a experimentar o que se conhece como depressão agitada.

Muitas pessoas com depressão não podem exprimir normalmente as suas emoções (como a aflição, a alegria e o prazer); em casos extremos, o mundo aparece diante delas como descolorido, sem vida e morto. O pensamento, a comunicação e outras actividades de tipo geral podem tornar-se mais lentos, até cessarem todas as actividades voluntárias.

As pessoas deprimidas podem estar preocupadas por pensamentos profundos de culpabilidade e ideias auto-ofensivas e podem não ser capazes de se concentrarem adequadamente. Estas pessoas estão muitas vezes indecisas e fechadas em si próprias, têm uma sensação progressiva de desamparo e falta de esperança e pensam na morte e no suicídio.

Geralmente, os depressivos têm dificuldade em conciliar o sono e acordam repetidamente, sobretudo cedo pela manhã. É habitual uma perda de desejo sexual ou do prazer em geral. A alimentação escassa e a perda de peso conduzem, por vezes, à emaciação, e nas mulheres a menstruação pode ser interrompida. No entanto, o excesso alimentar e o aumento de peso são frequentes nas depressões ligeiras.

Em cerca de 20 % dos depressivos, os sintomas são ligeiros, mas a doença dura anos, muitas vezes décadas. Esta variante distímica da depressão começa, frequentemente, cedo na vida e está associada a alterações características da personalidade. As pessoas nesta situação são melancólicas, pessimistas, não têm sentido de humor ou são incapazes de se divertir, são passivas e apáticas, introvertidas, cépticas, hipercríticas ou com queixas constantes, autocríticas e cheias de auto-repreensões. Preocupam-se com a falta de adaptação, o fracasso e os acontecimentos negativos ao ponto de chegarem ao desfrute mórbido dos seus próprios fracassos.

Algumas pessoas depressivas queixam-se de ter uma doença orgânica, com diversas queixas e dores, ou receio de sofrerem desgraças ou de se tornarem loucas. Outras pensam que têm doenças incuráveis ou vergonhosas, como o cancro ou as doenças de transmissão sexual ou a SIDA e que estão a infectar outras pessoas.

Cerca de 15 % das pessoas deprimidas, mais comummente aquelas com depressão grave, têm delírios (crenças falsas) ou alucinações, vendo e ouvindo coisas que não existem. Podem acreditar que cometeram pecados imperdoáveis ou crimes ou podem ouvir vozes que os acusam de vários delitos ou que os condenam à morte. Em casos raros, imaginam que vêem caixões ou familiares falecidos. Os sentimentos de insegurança e de fraca auto-estima podem conduzir as pessoas intensamente deprimidas a acreditar que são observadas e perseguidas. Estas depressões com delírios denominam-se depressões psicóticas.

Os pensamentos de morte estão entre os sintomas mais graves de depressão. Muitos deprimidos querem morrer ou sentem que a sua auto-estima é tão escassa que deveriam morrer. Cerca de 15 % das pessoas com depressão grave têm uma conduta suicida. Uma ideia de suicídio representa uma situação de emergência e qualquer pessoa nessas condições deve ser hospitalizada e mantida sob supervisão até que o tratamento reduza o risco de suicídio.

Diagnóstico:
- O especialista é geralmente capaz de diagnosticar uma depressão a partir dos sintomas e dos sinais. Uma história prévia de depressão ou uma história familiar de depressão ajudam a confirmar o diagnóstico.

Por vezes, utilizam-se questionários estandardizados para ajudar a medir o grau de depressão. Dois questionários deste tipo são a escala de percentagem da depressão de Hamilton, que se efectua de modo verbal por um entrevistador, e o inventário da depressão de Beck, que consiste num questionário que o paciente deve preencher.

Os exames laboratoriais, geralmente análises ao sangue, podem ajudar o médico a determinar as causas de algumas depressões. Isso é particularmente útil nas mulheres, nas quais os factores hormonais podem contribuir para a depressão.

Em casos difíceis de diagnosticar, os médicos podem efectuar outros exames para confirmar o diagnóstico de depressão. Por exemplo, dado que os problemas do sono são um sinal proeminente de depressão, os médicos especializados no diagnóstico e no tratamento das perturbações de humor podem fazer um electroencefalograma durante o sono para medir o tempo que a pessoa demora a chegar à fase de movimento rápido dos olhos (o período em que ocorrem os sonhos). Geralmente demora-se 90 minutos. Numa pessoa com depressão costuma atingir-se em menos de 70 minutos.

Prognóstico e tratamento:
- Uma depressão sem tratamento pode durar 6 meses ou mais. Embora possam persistir leves sintomas em algumas pessoas, o funcionamento tende a voltar à normalidade. Em qualquer caso, os depressivos sofrem geralmente episódios repetidos de depressão, numa média de quatro a cinco vezes ao longo da vida.

Hoje em dia, geralmente, a depressão trata-se sem necessidade de hospitalização. No entanto, por vezes, uma pessoa deve ser hospitalizada, especialmente se tem ideias de suicídio ou se já o tentou, se está demasiado débil pela perda de peso ou se tem risco de problemas cardíacos pela agitação intensa.

Actualmente, o tratamento farmacológico é o factor mais importante no tratamento da depressão. Outros tratamentos incluem a psicoterapia e a terapia electroconvulsivante. Algumas vezes, usa-se uma combinação destas terapias.

Tratamento farmacológico:
- Vários tipos de medicamentos antidepressivos estão disponíveis: os tricíclicos, os inibidores da recaptação selectiva da serotonina, os inibidores da monoaminooxidase e os psicoestimulantes, mas eles devem ser tomados de forma regular durante pelo menos várias semanas antes de começarem a fazer efeito. As possibilidades de um antidepressivo específico ter êxito no tratamento são de 65 %.

Os efeitos secundários variam segundo cada tipo de fármaco. Os antidepressivos tricíclicos causam, frequentemente, sedação e determinam aumento de peso. Podem também produzir aumento do ritmo cardíaco, baixa da pressão arterial quando a pessoa se levanta, visão nublada, secura da boca, confusão, obstipação, dificuldade para começar a urinar e ejaculação retardada. Estes efeitos chamam-se anticolinérgicos e, geralmente, são mais pronunciados nas pessoas de idade avançada.

Os antidepressivos que são semelhantes aos antidepressivos tricíclicos têm outros efeitos adversos. A venlafaxina pode aumentar levemente a pressão arterial; a trazodone tem sido associada à erecção dolorosa (priapismo); a maprotilina e o bupropion, tomados em doses rapidamente aumentadas, podem provocar convulsões. No entanto, o bupropion não causa sedação, não afecta a função sexual e muitas vezes é útil em doentes com depressão e pensamento lento.

Os inibidores selectivos da recaptação de serotonina (ISRS) representam um grande avanço no tratamento da depressão, pois produzem menos efeitos secundários do que os antidepressivos tricíclicos. São também geralmente bastante seguros nas pessoas em que a depressão coexiste com uma doença orgânica. Embora possam produzir náuseas, diarreia e dor de cabeça, estes efeitos secundários são ligeiros ou desaparecem com o uso. Por estas razões, muitas vezes os médicos seleccionam primeiro os ISRS para tratar a depressão. Os ISRS são particularmente úteis no tratamento da distimia, que requer um tratamento farmacológico de longa duração. Mais ainda, os ISRS são bastante eficazes na perturbação obsessivo-compulsiva, na perturbação por pânico, na fobia social e na bulimia (alteração do apetite), que muitas vezes coexistem com a depressão. A principal desvantagem dos ISRS consiste em causarem frequentemente disfunção sexual.

Os inibidores da monoaminooxidase (IMAO) representam outra classe de medicamentos antidepressivos. As pessoas que consomem IMAO devem observar restrições dietéticas e seguir precauções especiais. Por exemplo, não devem tomar alimentos ou bebidas que contenham tiramina, como a cerveja de barril, os vinhos tintos (e também o xerez), os licores, os alimentos demasiado maduros, o salame, os queijos curados, as favas, os extractos de levedura e o molho de soja. Devem evitar fármacos como a fenilpropanolamina e o dextrometorfano, que se encontram em muito antitússicos e anticatarrais habituais, porque provocam a libertação de adrenalina e podem produzir uma subida importante da pressão arterial.
Alguns outros fármacos devem também ser evitados pelas pessoas que tomam IMAO, como os antidepressivos tricíclicos, os inibidores selectivos da recaptação de serotonina e a meperidina (um analgésico).

Indica-se habitualmente aos que tomam IMAO que transportem sempre consigo um antídoto, como a clorpromazina ou a nifedipina. Se notarem uma dor de cabeça intensa e pulsátil, devem tomar o antídoto e dirigir-se rapidamente a um serviço de urgência. Por causa das restrições difíceis na dieta e das precauções necessárias, os IMAO são raramente receitados, excepto para aquelas pessoas depressivas que não melhoraram com os outros fármacos.

Os psicoestimulantes, como o metilfenidato, reservam-se geralmente às pessoas depressivas que estão fechadas em si próprias, lentas e cansadas, ou que não melhoraram depois de ter usado todos os outros tipos de antidepressivos. As possibilidades do seu abuso são muito elevadas. Como os psicoestimulantes tendem a fazer efeito rapidamente (num dia) e facilitam a deambulação, por vezes receitam-se a pessoas deprimidas de idade avançada, convalescentes de uma cirurgia ou de uma doença que as manteve prostradas.

Psicoterapia:
- A psicoterapia usada conjuntamente com os antidepressivos pode favorecer em grande medida os resultados do tratamento farmacológico. A psicoterapia individual ou de grupo pode ajudar a pessoa a reassumir, de modo gradual, antigas responsabilidades e a adaptar-se às pressões habituais da vida, acrescentando a melhoria conseguida pelo tratamento farmacológico. Com a psicoterapia interpessoal (humanista), a pessoa recebe uma orientação para se adaptar aos diferentes papéis da vida. A terapia cognitiva pode ajudar a alterar a falta de esperança da pessoa e os seus pensamentos negativos. A psicoterapia isolada pode ser tão eficaz como a terapia farmacológica no caso das depressões ligeiras.

Terapia electroconvulsivante:
- A terapia electroconvulsivante (TEC) usa-se para tratar a depressão grave, particularmente quando a pessoa sofre de psicose, ameaça suicidar-se ou se nega a comer. Este tipo de terapia é geralmente muito eficaz e pode aliviar a depressão rapidamente, ao contrário do resto dos antidepressivos, que podem demorar várias semanas a produzir efeitos. A velocidade com que a terapia electroconvulsivante actua pode salvar vidas.

Na terapia electroconvulsivante, colocam-se eléctrodos na cabeça e aplica-se uma corrente eléctrica para induzir uma convulsão no cérebro. Por razões desconhecidas, a convulsão alivia a depressão. Administram-se, geralmente, cinco a sete sessões, em dias alternados. Como a corrente eléctrica pode causar contracções musculares e dor, a pessoa recebe anestesia geral durante a sessão. A terapia electroconvulsivante pode causar uma perda temporária de memória (raramente de forma permanente).

Depressão e mania


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A depressão e a mania representam os dois pólos opostos das perturbações do humor. As perturbações do humor são doenças psiquiátricas nas quais as alterações emocionais consistem em períodos prolongados de depressão ou de euforia (mania) excessivos. As perturbações do humor são também chamadas perturbações afectivas. Afectivo significa estado emocional expresso através de gestos e de expressões faciais.

A tristeza e o júbilo são uma parte das experiências normais da vida diária e são diferentes da depressão e da mania graves que caracterizam as perturbações do humor. A tristeza é uma resposta natural à perda, à derrota, ao desengano, ao trauma ou à catástrofe. A tristeza pode ser psicologicamente benéfica porque permite a uma pessoa afastar-se de situações ofensivas ou desagradáveis, o que a pode ajudar a recuperar.

A aflição ou o desconsolo é a reacção normal mais habitual perante uma separação ou uma perda, como a morte de um ente querido, o divórcio ou o desengano amoroso. A privação e a perda não costumam provocar depressão persistente e incapacitante, excepto em pessoas predispostas a sofrer perturbações do humor.

O êxito e os sucessos provocam geralmente sentimentos de júbilo. No entanto, o júbilo pode ser, por vezes, uma defesa contra a depressão ou uma negação da dor da perda. As pessoas que estão a morrer têm às vezes períodos de júbilo e de actividade buliçosa e algumas pessoas que sofreram alguma privação ou perda recentes podem inclusive estar exultantes mais do que desconsoladas, como seria normal. Em pessoas predispostas às perturbações do humor, estas reacções podem ser o prelúdio da mania.

Embora 25 % a 30 % das pessoas sofram alguma perturbação excessiva do humor durante a sua vida, só cerca de 10 % têm uma perturbação suficientemente importante para requerer cuidados médicos. Destas, um terço tem depressão de longa duração (crónica) e a maioria dos restantes tem episódios recorrentes de depressão. As depressões crónicas e recorrentes denominam-se unipolares. Cerca de 2 % da população tem uma situação conhecida como doença maníaco-depressiva ou perturbação bipolar, na qual alternam períodos de depressão com outros de mania (ou com períodos de mania menos intensa conhecida como hipomania).

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Atentado Ambiental no Rogil, Aljezur.


É um mar verde e ondulante que vejo deste alpendre. Com meia dúzia de eucaliptos altos como torres oscilantes, rodeados um por pinhal pequeno mas denso. O som do vento nas folhas é quase igual ao lamento das vagas desta costa atlântica que, insistentes, se desfazem na praia.

Esta tem sido uma terra generosa e fecunda que pariu hordas de animais, tanto dos selvagens como dos domésticos, enquanto nela prolificou gente corajosa e rija que por cá nasceu em abundantes gerações até há pouco mais de uma vintena de anos atrás. Depois, depois veio a migração e o esvaziamento populacional deste interior em benefício do litoral turístico da nossa amada (e maltratada) Costa de Ouro, desde Sagres até Vila Real de Santo António.

Como há males que vêm para o bem, a classificação protecção ambiental de larga faixa deste litoral vicentino permitiu salvaguardar uma preciosidade ambiental, seja como pérola costeira ainda bem preservada ou como um tesouro rural que resulta da combinação de equilíbrio entre a presença humana e a da natureza.

Podemos admitir que o Parque Natural do Sudoeste Alentejano poderia servir de exemplo ao território contíguo mas infelizmente assim não é; basta-nos prosseguir para norte através da Estrada Nacional Nº 1 ao longo do Parque no sentido Aljezur-Lisboa que, ao virar para a direita à saída do Rogil na direcção sinalizada da Barreira, estaremos em questão de minutos defronte um enorme inferno ambiental, uma paisagem lunar e de maquinarias de processamento e transporte de areias, um cenário digno de uma qualquer mina a céu aberto na exangue savana africana ou na agonizante amazónia.

Como se não bastasse, na região circundante a esta devoradora besta mecânica, como troféus silenciosos do contínuo terror ambiental, existem dezenas de enormes crateras por montes e vales, desérticos resquícios da parasitária voracidade do monstro.

Quem permitiu e permite que isto decorra num país que se quer europeu? Quem são os responsáveis por tais situações? Que se pode dizer sobre a qualidade dos pareceres técnicos que autorizaram tais aberrações, que ainda permita que o monstro labore dia e noite, num apetite insaciável? Não se sabe, não se quer saber, e prossegue a monstruosidade, como um tumor que cresce e se espalha, insidioso, pelo habitat natural da região.

O absurdo é ainda maior já que tal realidade ocorre num concelho que possui uma zona industrial delimitada, própria para este tipo de indústrias e que está praticamente vazia.

Mais absurdo ainda é que este concelho tem uma ambição propalada amiúde pela elite local: querem ver desenvolvido o turismo de qualidade, dizem ter aprendido com os erros urbanísticos e de ordenamento do território do litoral sul, estão “preocupados com a qualidade ambiental”. Pois não parece!

Com exemplos como aquele que acima está descrito esses senhores, esses baronetes politicos locais, assim como todos os outros responsáveis institucionais regionais que ao longo dos anos têm sido responsáveis sempre distantes, repetem ignominiosamente os erros que publicamente repudiam.

As gentes que por aqui agora habitam gostam desta terra, tanto faz que sejam nativos como que sejam de fora; por aqui se acolhem em domicílio ou para comummente reporem em si mesmos, por mais ou menos largos períodos, a paz e o bem-estar que aqui se faz sentir. Para o efeito há o mar e a costa deslumbrantes, há a serra belíssima, a charneca frondosa, as pessoas genuínas, as festas, feiras e romarias, o artesanato que vende e exporta, as pequenas novas industrias tecnológicas, o comércio e os serviços indispensáveis à sociedade moderna, e o cada vez mais emergente Turismo de Qualidade, tudo acolhedor num imenso abraço do Portugal Vicentino.

Quem no seu perfeito juízo poderia querer arruinar esta riqueza ambiental e humana, que se mescla com pinheiros, azinheiras, vinhas frondosas e hortas luxuriantes? Chão que dá milho e pomares variados, terra para onde a hidromecânica dos homens trouxe a distante água da Barragem de Santa Clara, região em que o clima do imenso oceano azul e profundo tempera os rigores vizinhos da meseta e do mediterrâneo.

Em pleno terceiro milénio – quando se insiste permanentemente na premência ambiental e no alerta climático sobre risco do actual modelo de desenvolvimento não sustentável – como podemos entender e como podemos aceitar que se venda a eito o chão nativo às megas toneladas?
Este rico solo, por ser arenoso é por isso mesmo apetecível aos exploradores; este lucrativo chão, que paradoxalmente e para cúmulo da situação está classificado com Reserva Agrícola, está desde há uma dezena de anos a ser extraído sem dó nem piedade, numa avidez misteriosamente consentida: ora oficiosamente desculpada pelas autoridades municipais através de motivos antinómicos baseados em obsoletos conceitos de desenvolvimento local, ora oficialmente permitida pelas autoridades institucionais regionais (por vá-se lá se saber por qual causa ou contraditória fundamentação), ora até pela ausência da presença fiscalizadora do Estado, que no seu todo, agiu e continua agindo em movimento de evidente inércia.

O futuro dirá quem tem razão e quem agiu criminosamente.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Saúde mental em Portugal no início do Século Vinte e Um


Problemas mentais em Portugal afectam 2,3 milhões

A propósito de uma notícia de imprensa sobre a saúde mental dos portugueses, nada de novo para os profissionais da área que há anos apelam para a atenção dos decisores das politicas de saúde para a necessidade de investimento sério na área da saúde mental.

À custa da ineficácia do Sistema Nacional de Saúde acerca dos recursos disponibilizados para a saúde mental em locais adequados e por técnicos habilitados, o erário público perde milhões e milhões de euros em psicofármacos e outros consumos medicamentosos mais ou menos prescritos ou auto-medicados. Sabemos disso e também da conivência de muitos médicos (de família e não só), que conscientes da inexistência de soluções institucionais disponíveis, adoptam a atitude técnica de prescrição de manutenção ou contenção dos problemas mentais através de medicação, pura e simplesmente.

Faço notar que compreendo a atitude médica vigente: protelam a resolução das perturbações mentais e das causas subjacentes porque não sabem como fazê-lo, não foram treinados para tal e isso compreende-se. Perante o padecimento dos seus pacientes, atenuam os sintomas através de medicação tão só porque sabem que os pacientes estão em sofrimento mental e não existem recursos disponíveis para terapias eficazes. Tais terapias, num sistema de tratamento eficaz, requerem intervenção pluridisciplinar (intervenção psicoterapêutica coadjuvada por medicação, quando também não requer outras áreas das ciências humanas, como por exemplo a nutrição ou o apoio social).

Os próprios doentes, habituados “ao comprimido mágico” exigem receitas e drogas que lhes retirem as dores e atordoem a consciência dolorosa; para uma maioria daqueles, em sofrimento, deseducada e dependente, não lhes importam tanto que permaneçam as causas e os problemas, interessa é que lhes atenuem os sintomas.
Por seu lado, as farmacêuticas só têm a lucrar com a situação, por razões óbvias sobre as quais me escuso a comentar, por ser assunto evidente.
Eis pois o artigo que suscitou o meu comentário prévio:

«Portugal tem 2,3 milhões de pessoas a sofrer com problemas psicológicos, representando cerca de 28 por cento da população, segundo o último inquérito nacional de saúde.

Números que assumem proporções epidémicas, sendo ainda necessário fazer uma distinção das situações de foro psiquiátrico.

No que diz respeito à população mundial, mais de 30 por cento sofre de uma doença mental, refere um relatório, que contou com a contribuição de 39 especialistas internacionais, a ser publicado na prestigiada revista ‘The Lancet’.

Segundo o actual Director-Geral da Saúde, Francisco George, “os problemas de saúde mental assumem proporções epidémicas”, referindo que as estimativas da Direcção-Geral da Saúde apontam para “que cerca de 20 por cento dos frequentadores dos centros de saúde tenham um problema de foro mental”. No entanto, o director-geral alerta para a necessidade de se distinguirem esses problemas “das situações de foro psiquiátrico mais graves”.

Uma ideia corroborada por António Leuschner, director do Hospital Magalhães Lemos, no Porto, que revela a realização de um inquérito exaustivo em Portugal sobre saúde mental. “Os números são projecções de estudos feitos numa escala menor que depois são aplicados a Portugal. Talvez no final de 2008 se possa ter um retrato fiel da situação no País”.

Os artigos da ‘The Lancet’ fazem referência à falta de tratamento de problemas mentais, que se aproxima dos 90 por cento em países desenvolvidos. António Leuschner não se mostrou surpreendido, realçando a importância de aumentar “o acesso e o número de serviços de saúde mental, assim como o auxílio atempado das pessoas que os procuram
”.

André Pereira, CM de 04/09/2007 »