sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

A educação começa em casa, a Instrução continua na Escola


O bilhete acima diz «Venho por este meio informar a Professora de que quando o telemóvel da aluna XXX tocar na aula que nunca mais voltas a dizer que á aluna que fica sem Telémovel quando tocar é o pai ou a mãe, portanto que seja a ultíma vez que falas assim com a aluna se quiseres Tirar-lhe o Telemovel Tiras á minha frente O Pai (sic).



A grandessíssima besta iletrada que escreveu a nota acima afixada à professora de sua filha, o que merecia? Que pai é este, que educação revela, que educação transmite à sua criança?
Terá sido feita a denúncia desta ameaça escrita ao Ministério Público? E se foi feita a denúncia, que consequências teve?

Não sou professor por escolha pessoal mas, sem mais considerações e porque lido de muito perto (diariamente) com os produtos dos sistemas familiares disfuncionais e com o resultado longitudinal do sistema de ensino público, só posso afirmar que a escola actual serve para pouco ou para quase nada.

A escola Pública actual, resultado de experiências pedagógicas desconexas ao longo de mais de vinte anos, transformou-se num local onde são despejadas crianças e adolescentes na vã ilusão que lá ficam para aprender algo de útil para si e para a sociedade. Trata-se de uma ilusão caríssima paga por todos os contribuintes, mesmo os que não têm filhos a estudar, e para quê?

Os alunos limitam-se a passar o tempo na escola, não sabem estudar, não têm regras nem disciplina, são ignorantes nas ciências e nas letras, não sabem o que é o pensamento crítico, são completamente intolerantes à frustração e desconhecem o que é a planificação, o esforço organizado e a metodologia de trabalho ou a proficiência.

Os poucos alunos interessados e aqueles que querem realmente aprender não têm condições práticas para estudar porque a maioria dos colegas estão desinteressados e são indisciplinados, o que transforma muitas salas de aula em autênticos campos de batalha perante a passividade dos - cada vez mais desautorizados e cada vez menos motivados - docentes.

Por sua vez, os professores estão em larga maioria mal formados para a prática pedagógica; fazem-no em condições para o exercício pedagógico que estão longe de serem as adequadas e sentem-se naturalmente desmotivados para exercer as desajustadas funções que actualmente se lhes exige que cumpram. A isto acresce que os programas (currícula) são paupérrimos, os alunos não sabem estar - entre iguais e com os adultos - porque não têm boa educação em casa e os pais exigem que a escola faça um duplo trabalho - o de educar (papel que pertence à parentalidade) além da função de instruir.

Estamos a assistir à formação de uma geração de miúdos mimados, ignorantes, desumanizados, fúteis e egoístas (e fico-me por aqui porque a responsabilidade não é totalmente deles), a quem é transmitida a ideia de que o sucesso não requer disciplina e esforço, mas sim manipulação, teimosia birrenta ou pedinchice descarada. Uma geração que desconhece que o respeito pelo próximo representa garantias de reciprocidade para si mesmos. Uma geração que pensa ser desnecessária a disciplina pessoal e trabalho organizado para alcançar riqueza ou sucesso. Uma geração a quem foi transmitida a ideia do primado da fama fácil e do exibicionismo como valores prioritários para alcançar um alto status, cujo valor intrínseco se encontra fundamentado na apologia mediática do consumismo materialista. Uma geração que ambiciona muito mais ser Estrela e muito menos saber como ser Líder.

Para reforçar negativamente a bandalheira crescente em que se transmuta a escola pública, a avaliação dos alunos tornou-se ultimamente um alvo fácil de chacota por via do facilitismo oficial e do cada vez mais baixo nível de exigência, escandalosamente apenas para efeitos estatísticos.

Por conseguinte, não admira que os níveis de produtividade nacional continuem condenados à mediocridade pois a maioria dos alunos, para não dizer a totalidade, saí da escola sem saber fazer nada, inclusive sem saber escrever em português, fazer contas básicas ou pensar com racionalidade ou espírito crítico.

As luminárias que acabaram com as Escolas Industriais - e aquelas outras que transformaram os actuais Politécnicos em imitações de Universidades - deviam ser todas processadas pelo Estado e no limite, afastadas de todas as decisões estratégicas nacionais. Aquele enorme erro, mantido durante décadas de políticas erráticas de educação, faz-se pagar cada dia mais caro. Nem os centros de formação profissional ou os cursos de formação para formadores - ambos enormes sorvedouros de fundos comunitários dos anos 90 - vieram colmatar a ausência da instrução técnica especializada na escola pública portuguesa.

Gastaram-se fortunas para ocultar as deficiências estruturais da estratégia (!) educativa nacional e para quê? E agora, com as Novas Oportunidades, o que está a acontecer?

Há poucos dias ouvi um professor decano dizer que "mais valia comprar umas centenas de impressoras e dar automaticamente os certificados das novas oportunidades aos formandos".

Curioso em saber mais sobre o assunto, fiz um pequeno inquérito oficioso a uma dúzia de funcionários da instituição onde exerço e as respostas oscilaram entre: as formações não servem para nada ou servem para comprar um computador a preços baixos ou para tentar ter uma avaliação mais elevada ou para até mesmo para se distraírem e conviverem uns com os outros na risota (sic). Esta amostra não nos dá uma resposta fiável, é certo, mas pode revelar uma tendência reveladora: esta gente, trabalhadores adultos, é a mesma que tem a responsabilidade de educar as suas crianças, as mesmas que repetem atitudes semelhantes às dos pais em contexto de aprendizagem.

A pobreza não resulta apenas da destituição de recursos materiais mas também- e muito - da falta de espírito e da desinteligência dos indivíduos, tanto em privado como em contexto social.

Aos baixos níveis de qualificação profissional estão ligados os baixos índices de literacia e àqueles a disfuncionalidade individual e a familiar (i. é, a carência sócio-educativa). Por isso mesmo os curricula são fundamentais e devem ser estrategicamente direccionados, seja para instrução dos jovens como para a educação dos adultos. Ao mesmo tempo, a escola pública e o conceito educacional implícito na sua génese deve também ser elaborado em função da população a que se dirige e conforme as realidades sociais e culturais em que se aquela se insere.

Ao contrário do que se quis fazer crer, o paradigma das antigas escolas industriais não significava uma política de castas mas sim uma garantia de que a maioria da população em idade escolar podia adquir a instrução necessária para cumprir um papel activo e construtivo na sociedade assim que terminava a sua instrução escolar. Aqueles que demonstravam empenho e bons resultados podiam naturalmente prosseguir a especialização técnica ou académica dos seus estudos.

De que serve a um jovem que deseja ser canalizador ou electricista estar numa escola que não lhe ensina tais competências mas que o "prepara" para lá permanecer até perfazer - tendencialmente - 12 anos de escolaridade sem aprendizagens que lhe sejam úteis, para de lá sair sem saber exercer uma profissão ?

E aqueles alunos que hoje são indisciplinados, delinquentes ou simplesmente desinteressados da escola? São todos casos excepcionais e cada deve ser tratado pela sua especificidade. Para o feito existem e devem ser reforçadas as equipas técnicas multidisciplinares e desenvolvidas as turmas de reeducação. Mas nada disto pode ser efectivamente alcançado se as relações hierárquicas e disciplinares entre alunos, funcionários e professores permanecerem como estão.

O que não se pode aceitar é que em prol de uma intenção de inclusão de poucos elementos perturbados se provoque a disrupção dos restantes. Uma turma de duas dezenas com 2 ou 3 elementos disfuncionais é seriamente prejudicada no seu funcionamento global, o que nos indica que os custos da suposta inclusão resultam mais na alteração dos elementos funcionais do que na funcionalidade dos elementos perturbados.

Já sei que os defensores da escola inclusiva não apreciam esta tese mas a sua concepção de inclusão parece-me hipócrita e até mesmo cínica desde logo porque permite excluir na prática interrelacional proteccionista muito mais do que permite incluir. Os exemplos são muitíssimos, vão desde das deficiências físicas ou mentais, passando pelas perturbações patológicas do comportamento até à evidenciação das particularidades das etnias ou das nacionalidades. Quando se fazem discriminações positivas faz-se desde logo uma discriminação, seja qual for o eufemismo utilizado na linguagem politicamente correcta.

Por exemplo, a frase Todos Diferentes Todos Iguais, para além de ser paradoxal, revela uma verdade incómoda: a de que na prática das coisas a diferença existe de facto. Não são campanhas publicitárias ou Dias de Celebração que educam os indivíduos que compõem uma sociedade para a aceitação de uma determinada realidade e, simultâneamente, do seu contrário.

Se a base de um Princípio a ser alcançado é o respeito pelo direito à diferença há que garantir o cumprimento de tal direito desde logo no campo institucional (para começar seria bom que os tribunais funcionassem atempada e eficazmente de modo a garantirem o cumprimento dos deveres) sem desprimor que, ao mesmo tempo, se atribuam competências sociais aos cidadãos para o reconhecimento do valor universal intrínseco implícito na obrigação do respeito pelos direitos dos outros e na reciprocidade que inclui um tal dever, factores cruciais para pleno uso dos direitos de cidadania em segurança e em Liberdade.

É certo que sem alguns conceitos de filosofia, ou noções básicas de moral e de ética, direito, sociologia, psicologia, antropologia ou biologia não há consolidação intrínseca de certas competências sociais. Mas também é certo de que, se no contexto familiar, ou social, estiver ausente a aquisição e a aplicação daqueles conceitos e noções é muito provável que tais campanhas politicamente correctas ou as frases bonitas farão ricochete nas consciências endurecidas.

Por conseguinte é desde já crucial que os pais sejam muito mais responsabilizados pela sua própria educação para promoverem a educação dos filhos. Caso não cumpram com o seu papel devem ser-lhes dado hipótese de apoio técnico específico. Se assim mesmo recusarem ou forem notoriamente desplicentes face às suas obrigações de parentalidade, devem por isso mesmo ser exemplarmente punidos. Não existe legitimidade na exigência de Direitos quando à priori não são cumpridos os Deveres.

Assim, no imbróglio em que se tornou a Educação em Portugal, lançar dinheiro e outros recursos sobre o topo duma pirâmide danificada sem intervir estrutural e cirurgicamente na sua base é tão útil como tentar extinguir um incêndio com gasolina.

Quem são os responsáveis por tamanha delapidação dos recursos, cada vez mais escassos, na escola pública que se encontra muito desfasada das necessidades do País? Quando é que se percebe que não é lançando dinheiro sobre as situações que se resolvem tais problemas?

Além da crescente desresponsabilização dos educadores e da permissividade com que tal acontece, onde está, na classe política nacional, o sentido de Estado e de responsabilidade sobre o futuro de Portugal e dos portugueses? Quem foram (e quem são) os responsáveis pelo contínuo declínio da instrução pública portuguesa? Quando é se faz uma discussão nacional séria entre todos os intervenientes (Academias, Associações, Partidos, Ordens Profissionais, etc) e se define uma política de Estado consensual para a Instrução Pública?

Aaah...pois...estou a delirar... o Estado é uma entidade cada vez mais abstracta que abriga no seu seio político e administrativo (para não dizer dentro-e-fora-e-dentro-e-fora-e-dentro-e-fora do seu baixo-ventre impregnado por concupicente alternância partidária) essa mesma gente impune que tantos danos (nos) tem feito ao longo destes anos de regime (pseudo)democrático.

Ainda não perdi a esperança que isto mude (e para melhor) mas, neste pântano oligárquico em que continuamente nos afundamos, não sei muito bem se assistirei a boas mudanças antes de deixar de me importar com o estado da Situação (ou com a situação do Estado).
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quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Declaração Universal dos Direitos Humanos

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Cumprem-se hoje, 10 de Dezembro, os 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos





Declaração Universal dos Direitos do Homem (versão simplificada)


1 - Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos.

2 - Todos os seres humanos podem invocar direitos sem distinção de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião, origem, fortuna, nascimento ou território de residência.

3 - Direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

4 - Direito a não ser mantido em escravatura.

5 - Direito a não ser submetido a tortura.

6 - Direito a tratamento igual perante a lei.

7 - Direito a igual protecção da lei.

8 - Direito a recurso efectivo para o tribunal competente.

9 - Direito de não ser preso arbitrariamente.

10 - Direito a um julgamento equitativo por um tribunal independente.

11 - Direito à presunção de inocência até a culpabilidade ser provada em processo público em que sejam asseguradas todas as garantias necessárias da defesa.

12 - Direito à privacidade no domicílio, na família e na correspondência.

13 - Direito de circular livremente no seu próprio país e de abandonar qualquer país e regressar ao mesmo.

14 - Direito a procurar asilo político noutros países.

15 - Direito à nacionalidade.

16 - Direito a casar e constituir família e direitos iguais para homens e mulheres durante o casamento e após a sua dissolução.

17 - Direito à propriedade.

18 - Liberdade de pensamento, de consciência e de religião.

19 - Liberdade de opinião e de expressão e de procurar, receber e difundir informação.

20 - Liberdade de associação e de reunião.

21 - Direito de participar no governo e de o escolher.

22 - Direito à segurança social e de exigir a satisfação de direitos económicos, sociais e culturais.

23 - Direito ao trabalho, a salário igual para trabalho igual, e a constituir e filiar-se em sindicatos.

24 - Direito a um horário de trabalho razoável e a férias pagas.

25 - Direito a um nível de vida adequado para si e para a sua família, incluindo alimentação, alojamento, vestuário, assistência médica e segurança social.

26 - Direito à educação.

27 - Direito a participar na vida cultural e à protecção de direitos de propriedade intelectual.

28 - Direito a uma ordem social e internacional capaz de tornar efectivos todos estes direitos e liberdades.

29 - O indivíduo tem responsabilidades para com a comunidade e para com os outros que são essenciais a uma sociedade democrática.

30 - Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada de maneira a envolver para qualquer Estado, agrupamento ou individuo o direito de se entregar a alguma actividade ou de praticar algum acto destinado a destruir os direitos e liberdades aqui enunciados.



Para aprender mais sobre Direitos Humanos clique aqui


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segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Um Natal "Quente" na Grécia



A estúpida e infeliz morte de um adolescente por causa de um disparo de fogo real de um agente da polícia desencadeou uma onda de violência juvenil e anarquista em várias cidades Gregas, principalmente em Atenas e Salónica, mas também já em Patras, Ioannina, Epiro, Heraklion, Tricala, Hania, Creta e Mytilena (na ilha de Lesbos).

Os actuais tumultos - pancadaria em vários locais das cidades, confrontos violentos entre a polícia e grupos radicais, pilhagens a lojas, carros incendiados, imensos danos provocados em estabelecimentos e casas, barricadas em locais estratégicos - resultaram do agravamento da resposta de segurança pública sobre algumas manifestações radicais (inicialmente anarquistas) em protesto contra a crise económico-social, inflamadas pela morte do jovem Aleksandros Grigoropoulos, um adolescente de apenas 16 anos.

Entretanto, àqueles distúrbios e confrontos violentos - podemos falar de tácticas de guerrilha urbana utilizadas por estes grupos juvenis radicais -também se acrescentou a contestação política (de centro-esquerda) contra o governo conservador minoritário. Ou seja, a classe média começa também a revelar um intenso mal-estar contra a crise emergente e por causa da desilusão resultante das promessas não cumpridas.

Lá, como cá, existe toda uma geração sobre a qual foram investidos recursos e expectativas familiares significativos e que agora se encontra no desemprego ou condicionada por remunerações de 500/600 euros. Lá com cá, direitos adquiridos são restringidos (as reformas, o acesso aos cuidados de saúde e à justiça), o desemprego aumenta e as desiguldades sociais tornam-se cada vez mais evidenciadas por via do decréscimo do poder de compra da classe média e do empobrecimento acentuado das classes mais desfavorecidas.

A desilusão gradual implica sentimentos crescentes de frustração que cedo ou tarde serão libertados - mais ou menos intensa e adequadamente, frequentemente sob a forma de agressividade (tensão psicoemocional direccionada para o exterior) e de revolta (por acumulação emocional interna). Quanto mais intensa a frustração sem possibilidade de resolução maior a probabilidade de sucederem respostas emocionalmente intensas e não raramente violentas.

Tal como sucedeu também em França, a ignição violenta do rastilho extremista urbano (com um cariz radical porém limitado a grupos juvenis semi-organizados) parece ser mais um sinal irrefutável dos tempos difíceis que se instalam em determinados sectores da população e das dificuldades que os Estados de Direito vão encontrar para manter a Lei e a Ordem Pública em tempos de crise e de aumento das dificuladades sociais e económicas.

Ora, o funcionamento grupal violento ou o "movimento de massas" revolucionário - a turba ou a multidão em fúria - é um corpo instável cuja acção colectiva revela a libertação emocional das tensões agressivas individuais acumuladas, emoções conjugadas num poderoso mas irracional movimento colectivo. Essa acção conjunta de violência em grupo - em qualquer grupo - acontece por via de mecanismos primários de identificação, projecção e de transferência sob a forma de "acting-out" contra Outro, neste caso particular simbolizado pelos representantes da censura - "o pai tirano" - o Governo. Neste acto edipiano colectivo (e por isso mesmo infantil ou imaturo) não existe muito espaço para a auto-censura ou para a aceitação da reprimenda social adulta (neste caso representada pela aplicação da autoridade do Estado).

Por isso, nos casos da imatura perda grupal do controlo, o Estado ou o Governo (i. é, o Pai) deve actuar com firmeza mas com alguma parcimónia e especificidade na aplicação técnica dos meios de repressão face à fúria emocional de um grupo descontrolado. De modo que é muito importante que, ao mesmo tempo que se permite algum espaço para a manifestação das tensões sociais acumuladas (i. é, da manifestação inicial da birra colectiva), se definam imediatamente regras bem claras para a manifestação da revolta, essenciais que são para funcionamento maduro (adulto) de uma nação (da família alargada).

A acção das forças da ordem devem assim incidir desde logo sobre a detenção dos indivíduos mais destemidos e que violem claramente as regras instituídas - as estrelas - ao mesmo tempo que se promove a dispersão da coesão do grupo e a desfragmentação das acções de imitação grupal promovidas pelos líderes. Nestes casos de explosão social localizada não se recomenda de modo algum - como se costuma infelizmente assistir - a lógica de confronto directo entre grupos compactos de polícias armados que avançam e recuam contra os grupos de manifestantes que repetem os mesmos movimentos de conquista territorial, num jogo paranóide de medição de forças - ou eles ou nós.

Por conseguinte, em situações similares que sejam socialmente explosivas penso que importa garantir de imediato a Ordem Pública sem quaisquer dúvidas quanto à legalidade e eficácia direccionada do modo operacional como tal é alcançado.

Agir por força da Lei, com rigor no método aplicado é crucial. Deter os elementos da vanguarda, proceder ao cerco e isolamento dos elementos avançados permite conter a propagação da violência por imitação dos restantes sujeitos. Espancar manifestantes não é o modo adequado para a contenção física dos elementos que resistam à detenção, nem muito menos promove a acalmia dos restantes indivíduos que se identificam com a lógica de funcionamento grupal de vitimização.

Concomitantemente, é fundamental impedir o alastrar da contestação radical para a restante população, através da clara exposição da situação pela liderança política, preferencialmente por meio da procura de um amplo consenso nacional acerca da ameaça à legalidade vigente de modo a que esta seja reconhecida entre as organizações mais representativas do País (associações sindicais, empresariais, políticas e religiosas).

A resposta de segurança adequada, no tempo e na acção, assim como a garantia do apoio consensual maioritário - Institucional e Popular - contra a ilegitimidade do modo como se manifestam os grupos radicais permite ao Estado de Direito Democrático a continuidade da aplicação das medidas legais de contenção das opções disfuncionais de expressão extremista.

A legitimidade da acção do Estado e a legalidade exemplar da aplicação dos meios de que dispõe retira valor social às pretensões de legitimação das acções radicais. Além disso, previne a generalização do modus faciendi extremista a outros movimentos idênticos que estejam ainda latentes.

Infelizmente, a boa aplicação da arte de conter os danos originados pelas turbas não acabará de vez com todas as manifestações violentas de frustração - quais birras grupais - nem com as multidões enfurecidas que agem sem o crivo do juízo maturo.

De vez em quando, as tensões sociais acumuladas libertam-se violentamente, ora por espontaneidade contra um qualquer bode-expiatório ora por via da manipulação por forças invisíveis. A natureza humana é demasiado emocional para que tal deixe de acontecer.

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Esta foto é de uma árvore de Natal incendiada na Praça Sintagma, em pleno centro da belíssima Atenas.

Uma lástima, além de um simbólico mau-augúrio.

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quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Cooperação estratégica ou estratégia na cooperação?


Segundo as notícias divulgadas hoje, a Assembleia da República, por via da maioria absoluta que apoia o executivo governamental, prepara-se para aprovar o Decreto-Lei do novo Estatuto dos Açores apesar da insistente oposição do Presidente da República que motivou, inclusive, uma declaração política sob a forma de comunicado ao País.

Aguardemos a resposta do Presidente Cavaco Silva face ao conflito institucional que ameaça instalar-se entre o partido que suporta o Governo e a Presidência da República.

Contrariamente àqueles que pensam que perante tal ultraje o Presidente deveria tomar uma de duas atitudes - demitir-se ou dissolver a Assembleia da República - considero desde logo que uma hipotética dissolução da Assembleia da República traria, no actual momento político, uma muito provável maioria renovada do Partido Socialista por ausência de alternativa credível no actual panorama oposicionista.

Quanto à hipótese da demissão presidencial, atitude que seria puramente reactiva à crise institucional que se clarifica, trata-se de uma conjectura absurda além de uma resposta política totalmente inaceitável numa Democracia crível.

Penso que, perante a provável aprovação pela Assembleia do Decreto-Lei em causa, o Presidente da República deverá agir racionalmente, como bem sabe e antes já demonstrou no caso da Lei do Divórcio.

Pessoalmente, julgo ser crucial considerar a presente conjuntura antes de reagir à afronta legislativa, não sem concomitantemente a Presidência proceder desta vez ao esclarecimento categórico de quais as condições e objectivos prévios de boa governação do País que considera essenciais.

Nessa declaração política, considero desejável e até imperativo que fique claramente definido que da boa prática governativa (legitimada pelo cumprimento dos compromissos políticos assumidos no Programa do Governo viabilizado pela maioria parlamentar) ou do seu manifesto incumprimento implicará, respectivamente, a continuidade do Executivo ou a dissolução da Assembleia - com a consequente convocação de eleições legislativas (já que a actual composição parlamentar não pressupõe outra alternativa governativa que se afigure viável).

Aguardemos pois pela sucessão de acontecimentos (institucionais, partidários, económicos e sociais) dos próximos seis a oito meses. Eles farão a diferença quanto à próxima formação parlamentar e, logo, ao futuro Governo de Portugal.


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quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Celebrações do Dia Mundial da Luta Contra a SIDA - Plano de Prevenção do VIH/SIDA na UALG completa 6 anos de existência



A Universidade do Algarve tem a decorrer um Plano de Prevenção do VIH/SIDA desde Novembro de 2003.


Este programa de prevenção resultou da parceria entre o Gabinete de Psicologia e de Apoio Psicopedagógico dos Serviços de Acção Social da Universidade do Algarve e o C.A.D. de Faro (Centro de Aconselhamento e Detecção Precoce da Infecção VIH/SIDA de Faro).



O Plano de Prevenção do VIH SIDA da Universidade do Algarve contempla:

1 - Um rastreio semanal de VIH (gratuito e anónimo) em parceria com o CAD/CNLS com a deslocação semanal de uma Unidade Móvel para consulta de aconselhamento, recolha de sangue e despiste rápido de VIH. Os Rastreios das Quartas-feiras são efectuados no decorrer de cada mês, de semana para semana, no Campus de Portimão, na Escola Superior de Saúde de Faro, no Campus de Gambelas e no Campus da Penha, tendo sido efectuados entre Novembro de 2003 e o mês de Novembro de 2008 cerca de 125 rastreios.

2- A distribuição semanal gratuita de preservativos e de informação escrita actualizada a todos os utentes das cantinas e dos bares dos S.A.S.U.Alg assim como a todos os utentes das residências universitárias (desde Outubro de 2002).

3 – A formação pedagógica dos funcionários envolvidos no Plano de Prevenção VIH/SIDA e dos estudantes voluntários do programa de prevenção primária e de redução de danos denominado TU DECIDES que decorre anualmente no recinto da Semana Académica da Universidade do Algarve (desde Maio de 2003).


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quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Violência doméstica: Agressores detidos sem flagrante delito - FINALMENTE !!!


Saiu hoje esta notícia que, a corresponder à verdade, é de louvar. FINALMENTE!!!

«O Governo aprovou esta quinta-feira uma proposta para reforçar o combate à violência doméstica. A partir de hoje o agressor poderá ser detido mesmo não sendo apanhado em flagrante delito.

Outra novidade é o facto de os arguidos serem controlados à distância através da utilização de meios electrónicos.

De acordo com Jorge Lacão, secretário de Estado da Presidência, “de forma inovadora, define-se um estatuto de vítima de violência doméstica”, sendo que o diploma concederá às vítimas "uma protecção mais consistente".
Este conjunto de medidas representam um aperfeiçoamento significativo no que respeita à protecção da vítima", comenta Jorge Lacão.

Segundo o secretário de Estado, "serão usados meios técnicos de tele-assistência de apoio à vítima, meios electrónicos de controlo à distância para o cumprimento de decisões judiciais impostas ao arguido ou condenado, além da possibilidade de se configurar como urgente processos relativos a violência doméstica".

Considerado um processo como urgente, "poderá haver a possibilidade de aplicação de medidas urgentes de protecção às vítimas no prazo de 48 horas subsequente à constituição do arguido", explicou o membro do executivo.».

Como técnico voluntário de uma ONG só posso dizer sobre este tardio avanço na protecção efectiva das vítimas (isto partindo do princípio que será eficazmente aplicado): ATÉ QUE ENFIM!!!
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quinta-feira, 6 de novembro de 2008

The (White) House Of The Rising Sun



Em jeito de despedida, dedico esta música dos ANIMALS ao Presidente cessante e ao pessoal do respectivo Gabinete. Como não gosto de imagens de guerra, deploro derivas fascistas e repugna-me a tortura, escolhi esta música que fala de familias disfuncionais, de filhos perturbados, de dependência (de drogas, de jogo, de pessoas, do poder) e de arrependimento "dos pecados" ... e também de Nova Orleãs, outro grande sucesso(!) do consulado que agora finda.

Quanto ao novo ciclo político que se aproxima, ilusões eleitoralistas e propaganda ideológica à parte, é notório que a 4 de Novembro de 2008 ocorreu uma eleição histórica.

Tivemos o privilégio de assistir a uma sucessão de acontecimentos pioneiros, impensáveis há menos de 100 anos: todos os cidadãos de pleno direito tiveram a possibilidade de votar, homens e mulheres foram concorrentes em pé de igualdade e um afro-americano foi eleito Presidente dos E.U.A., um dos cargos políticos com mais poder no Mundo.

Per populum omnis potestas a Deo.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Gestão Financeira e Poupança para o Futuro





Existem regras tradicionais para a boa gestão financeira que foram esquecidas na última década em Portugal. São regras básicas que urge repor nos hábitos das pessoas:

1- Controlar as despesas face ao rendimento

Controlar escrupulosamente os gastos mensais identificando à priori as despesas fixas e o rendimento mensal.

Para que este controle seja efectivo há que estabelecer os gastos com luz, água, condomínio, educação, seguros, etc., e determinar quais são as parcelas que absorvem a receita mensal.

Após este controlo entre o que se gasta e aquilo que se recebe é necessário estabelecer prioridades em relação a cada despesa para que depois seja possível identificar as oportunidades para reduzir nas despesas.

As reduções dos gastos podem desde logo começar por pequenos gestos do dia-a-dia tais como cortar nas idas ao café, no consumo de tabaco, na compra de revistas, na escolha preferencial pela aquisição de produtos com marcas brancas, na racionalização dos gastos supérfluos (moda, pequenos luxos tecnológicos e gastos associados, jantar fora), na redução das deslocações em viatura própria, na troca frequente de viatura automóvel, nas férias no estrangeiro, na cedência às estratégias de marketing e de publicidade, nas compras a prestações, etc.

Quem tem créditos elevados deve focalizar-se na sua renegociação e concentrar-se em reduzi-los até ao patamar máximo de 33% do rendimento disponível (Regra do Terço).

Quanto aos cartões de crédito e agências de crédito fácil e imediato - nem pensar! São situações muito próximas à usura. Quem não tem dinheiro não tem vícios, dizia o povo e com razão - infelizmente, entretanto por via das artes ilusórias do consumismo, esse mesmo povo esqueceu-se daquela máxima que precavia a escravatura do crédito.

Se algo é desejável para adquirir, há que fazer um esforço adicional de boa gestão e de poupança de modo a poder acumular meios suficientes para tal aquisição. Grão a grão enche a galinha o papo... vox populi, vox Dei.


2 - Fixar até 33% do rendimento para créditos ou renda da casa

O meu avô (que morreu rico, abençoado seja) sempre me ensinou a “Regra do Terço”, isto é, as despesas com a renda da casa (ou o crédito) não podem ultrapassar 33% (ou aproximadamente 1/3 ) do vencimento mensal.


3 - Reservar mensalmente pelo menos 10% do rendimento mensal para a poupança

A poupança deve representar pelo menos 10% do total do orçamento mensal disponível. Este valor deverá ser colocado de parte logo no início do mês. Esta atitude requer perseverança e disciplina.


4 - Definir claramente os objectivos da poupança

Poupar sem objectivos definidos pode levar a situações de consumo impulsivo. Na poupança é fundamental estabelecer objectivos concretos.

Para começar, é recomendado possuir uma parcela disponível da poupança reservada para situações de emergência. O ideal seria até um ano de salários, sendo o mínimo recomendado 6 meses de salário.

Depois de atingir o patamar mínimo de poupança a ideia não é gastar tudo o que se acumulou mas sim continuar até perfazer pelo menos um ano de ordenado. Atingido este valor, pode-se então aplicar tais reservas na concretização do Plano de Poupança por Objectivos.

A poupança familiar estruturada deverá então ainda passar pela identificação de objectivos específicos, como futuras despesas de educação ou de saúde.

De igual modo, planear a idade da reforma para que seja possível manter o padrão de qualidade de vida após a aposentação é um objectivo de poupança pessoal que se deve começar a executar a partir dos 35 anos.

Outros objectivos da poupança passam ainda por amealhar semanalmente para as férias ou para situações inesperadas (despesas automóveis, substituição de electrodomésticos, etc.)

Identificar as poupanças por itens específicos permite organizar prioridades e disciplinar a gestão dos gastos e função de objectivos claros e definidos.

Depois de acumular um conjunto de valores atribuídos a diferentes objectivos (de curto, médio ou longo prazo) ou após amealhar um volume suficiente para permitir ter alguma segurança caso aconteça algum contratempo, a poupança acumulada deve ser colocada em investimentos, de preferência conservadores no caso das reservas de emergência, de modo a rentabilizar o que é amealhado face à inflação.

Quanto ao tipo de investimentos, deve-se analisar longamente todas as opções disponíveis, sempre considerando o grau de risco, os prazos associados e as condições legais ou financeiras implícitas.


5 - Investimento para a rentabilização da poupança

O controlo racional dos gastos face ao rendimento disponível é um bom início para a boa poupança mas pode ser pouco para alcançar os objectivos desejados.

É assim necessário fazer render o capital poupado, o que pode passar pelo investimento de parte dessas poupanças em diferentes produtos financeiros existentes no mercado.

Para os mais conservadores, existem os depósitos a prazo e os certificados de aforro. Existem também os produtos com vantagens fiscais, como os Planos Poupança Reforma e os Seguros de Vida e de Capitalização.

Para quem queira atingir maiores retornos, mesmo que para isso esteja disposto a assumir um pouco mais de risco, há que ter em conta a gestão profissional dos fundos de investimento ou o recurso aos mercados de acções, com investimentos para o longo prazo (5 a 10 anos) de modo a aproveitar as oportunidades das fases bear (como a actual) e bull dos ciclos económicos.

Neste último caso, recomenda-se a “Regra dos 100”, ou seja, destinar a este tipo de investimento o resultado da subtracção da sua idade ao valor 100.

Por exemplo, quem tem como poupança 100 euros disponíveis para investimento em áreas de riscos mais elevado (como é o caso dos mercados de capital) deve subtrair àquele valor a sua idade e investir o remanescente.

No meu caso a Regra dos 100 seria: 100 – 38 = 62 euros. O remanescente deve sempre ficar investido em produtos de poupança conservadora.


Como dizia o meu avô: no gastar e no poupar é que está o ganho.

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domingo, 19 de outubro de 2008

Monte do Casal - Algarve sem ALLgarve



O Algarve tem muitos encantos naturais, ainda.

Infelizmente, a ganância, a incompetência institucional e a má planificação têm vindo a destruir grande parte da beleza desta região.

Mas ainda há muitos locais de excepção, naturais e turísticos.

Neste fim-de-semana tive o privilégio (e a sorte) de ter usufruído deste lugar idílico.

Acordar hoje numa tranquilidade absoluta, num dia de sol radioso e ter à espera um suculento pequeno-almoço privado, com vista sobre a mata mediterrânica que se estende até Faro, foi ma-ra-vi-lho-so!

Brindo aos Deuses pela boa graça, aos anfitriões pela feliz ideia e ao Destino por me ter proporcionado o amabilíssimo convite.

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sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Ideologia e consciência política



Poder-se-á falar do desenvolvimento da consciência política quando ocorre uma dinâmica reconstrutiva na percepção das ideias dominantes - tidas como verdades intocáveis pelas vozes proeminentes da sociedade - mudança essa que se dá geralmente através da compreensão gradual de que aqueles dogmas poderão na verdade ser relativos, abertos à investigação e à mudança da doutrina.

Na ideologia, as opiniões emanadas pelo establishment são geralmente proclamadas com alta confiança (para não dizer desfaçatez e superioridade) e sustentam-se em factos tão inerentes à crença na verdade insofismável do pensamento ideológico quanto a demonstrabilidade da existência óbvia das árvores ou do céu.

Todavia, na perspectiva da consciência política a ideologia é um mero produto proveniente de seres particulares com interesses idiossincráticos, práticos e psicológicos, a defender.

Se aquela relatividade, subjacente mas negada, é dificilmente interiorizável pelos ideólogos tal recusa deve-se ao modo como as convicções ideológicas dominantes se esforçam, tipicamente, por fazer crer que são tão imunes à reflexão consciente dos homens como é imutável a órbita do Sol. Reclamam não fazer mais do que afirmar o óbvio.

A ideologia, reciclando o arcaico termo de Karl Marx, é um enunciado empenhado em promover subtilmente uma linha parcial de pensamento e de conceptualização teórico-prática, ao mesmo tempo que pretende argumentar sobre a impecável veracidade da sua fundamentação de modo neutral, não o sendo, de facto.

A essência das declarações ideológicas, salvo para quem tenha faculdades políticas muito apuradas, é passarem despercebidas. É nessa qualidade aparente que se perpassa a sua suposta intocabilidade conceptual.

Ademais, quando é dominante, a ideologia é permanentemente insinuada na sociedade, como um gás inodoro e incolor que influencia e envolve, sem que os sujeitos se apercebam conscientemente da sua plena e absoluta (in)validade.

No permanente afã de dominar, a ideologia coloca de parte a óbvia abordagem parcial, porventura ilógica ou injusta da sua imutável concepção do mundo, para dar humildemente a entender não fazer mais do que declarar verdades sempiternas que só um paranóico ou um tolo ousaria pôr em causa.

A ideologia – social, religiosa ou oficial – revela-se resistente à consciência política por múltiplas vias, impregnada que está nos jornais, nos anúncios, nos programas de televisão, nas ideias de senso comum, nos livros escolares, no âmago das famílias ou nas ideias preconcebidas de estabilidade dos Sistemas. Daí que não seja incomum (assim aconteceu milhares de vezes ao longo da História) que uma ideologia dominante não suporte (e até mesmo se inquiete, perseguindo violentamente) a consciência política por via da ameaça à estabilidade doutrinal.

No entanto, a consciência política - que possui no seu âmago o exercício do juízo crítico sobre o mundo e a relação entre os seus conteúdos - tende a ser o motor da dinâmica evolutiva, mesmo quando posteriormente os seus constructos se cristalizem em outras doutrinas ideológicas, até que novas perspectivas de consciência crítica emerjam para perpetuar o progresso e a ruptura sobre a noção das realidades, e assim por diante. Como disse Galileu Galilei - e pur si muove.

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quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Ventos da mudança profunda ou ir ao Prego para não afundar?


Mesmo que o plano Paulson de controlo da crise financeira proposto pela administração Bush - que já se sabe irá custar muito mais do que 700 mil milhões de dólares - venha a ser aprovado pelo Senado e pelo congresso dos EUA, isso não significa que ficam controlados os problemas financeiros actuais nem que está conseguida a eliminação da ameaça de estagnação (ou algo bem pior) para a economia mundial.

Quem nos faz reflectir sobre esta probabilidade não é uma qualquer publicação esquerdista ou umas quaisquer bocas internauticas mas sim a muito conservadora e prestigiada revista The Economist num artigo que vale bem a pena ler.

Também aqui na Europa, tal como na Ásia, as injecções de capital de emergência por parte dos bancos centrais sucedem-se dia após dia. São sinais muito claros de que a situação está à beira do colapso, mas que mesmo assim ainda se tenta a todo o custo evitar o pânico generalizado e atenuar o impacto das asneiras neoliberais no custo de vida dos cidadãos, actual e futuro.

No entanto, é certo que todo o esforço de contenção dos danos e de maior regulação da actividade financeira por parte dos governos e bancos centrais far-se-á pagar na totalidade, seja por esta geração seja pelas vindouras. Resta ver com que intensidade e durante quanto tempo.

No imediato podemos desde já concluir que a actual fúria de venda de activos - por parte das instituições financeiras em apuros - apenas agrava os seus problemas, entre eles a confiança dos investidores e das outras instituições de crédito, forçando a venda de mais activos e assim por diante.

Parece também evidente que as dificuldades dos bancos de investimento dos EUA afectam os seus hedge funds por sua vez fortemente ligados às actividades de negócio dos bancos comerciais. E neste aspecto todo o espectro financeiro mundial parece afectado, não se sabendo ainda a que nível exacto.

Mas mesmo com a contenção do medo instalado após a rebentamento da bolha especulativa do ciclo económico que agora termina, existe ainda o perigo adicional provocado por novos problemas na área financeira, isto porque as famílias e as empresas continuam sequiosas de crédito, seja este devido a hábitos desajustados de consumo ou seja pela pura necessidade de sobrevivência.

Hoje, as hipotecas são o problema actual mais relevante, mas no próximo ano a preocupação muito bem vir a ser com os cartões de crédito, o financiamento de automóveis e a dívida corporativa. Daqui até a novos aumentos das taxas de juro por força das pressões inflacionistas, ao acréscimo nas taxas de esforço para as famílias, à redução do consumo económico, à estagnação da produção, ao desemprego, ao incremento dos custos de apoio social e consequente aumento (ou impossibilidade de redução) de impostos, vai um fogo de palha. Cá como lá, maior contestação popular e mais instabilidade governativa é uma possibilidade não despicienda, caso um tal cenário se concretize.

Aguardemos para ver se a inflação americana será efectivamente controlada, porque senão a constipação poderá vir a ser uma virose altamente contagiosa e ao invés de uma Recessão estaremos a braços com uma Depressão, sendo isso um problema não só para os americanos mas de todos nós. É todo um ciclo vicioso de destruição de valor que poderá afectar toda a restante actividade económica globalizada, do topo até à base.

Resta às instituições governamentais a reposição da confiança de modo a aliviar os sentimentos de medo e ansiedade antecipatória, que esporadicamente tendem a culminar nos picos de pânico que conhecemos como crash, para já não falar sobre as consequências dos levantamentos em massa dos depositantes.

O restabelecimento da confiança deve ser baseada na honestidade e na clarificação da verdade económica, a começar pela da educação dos consumidores. Esta será uma medida urgente a implementar pelas autoridades, pois que também desta crise se tornou clara a evidência de que os consumidores são muito responsáveis porque cederam com demasiada inocência ao marketing agressivo das empresas, sem o necessário crivo do juízo crítico.

Neste sentido, penso que os consumidores são também eles responsáveis - e disso devem tomar consciência - na medida em que preferiram agir impulsivamente de modo a alimentarem a sua necessidade insaciável de status, irresponsabilidades essa que resultou na difícil situação de endividamento em que actualmente se encontram muitas famílias e indivíduos.

Com a verdade dos factos e boas estratégias de gestão dos recursos será possível agir em função da realidade financeira. Doutro modo, existe o risco da negação de dados significativos e o prolongamento das ilusões consumistas que até agora alimentaram o crescimento do modelo económico ainda vigente. E os sinais de que a terapia escolhida pelos EUA sabe muito a remédios antigos para novos males continuam implícitos na estratégia agora anunciada pelas autoridades americanas.

Um desses fortes sinais da tormenta escura que pode ainda vir por aí está na dívida total dos Estados Unidos que já ultrapassa 300 (!) por cento do PIB – um rácio muito superior ao máximo atingido durante a Grande Depressão (ver gráfico). Se este e outros sinais e acontecimentos drásticos que estão ocorrendo não comprova a gravidade da situação, não sei o que mais será preciso.

Resta ver como se comportarão os países BRIC, a Ásia, a Europa e o nosso canteiro à beira-mar plantado, no decorrer desta derrocada anunciada que se afigura global.

Uma coisa é certa: apesar de rara quanto à gravidade, esta é mais uma fase cíclica (como assim aqui postei no início de 2008). Resta a consolação que o povo diz e com razão que "depois da tempestade vem a bonança".

Haja por isso esperança em dias melhores.

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sábado, 27 de setembro de 2008

O Exorcismo da candidata confirma o erro de casting



O mundo corre um risco enorme caso o candidato republicano vença a eleições americanas de Novembro.

O problema nem está nos candidatos à presidência, ambos ver-se-ão compelidos a executar uma política de evolução na continuidade, com algumas diferenças de estilo e de propaganda mas não no fundamental da doutrina.

O potencial sarilho está na escolha dos vice-presidentes, mais exactamente na escolha republicana, o que não sucede na opção democrata.

Imagine-se o que seria se, por um danado acaso do destino, o presidente viesse a falecer ou ficasse impedido de exercer, por exemplo devido a uma doença grave.

Na hipótese republicana, a maior potência militar (e nuclear) teria - legitimamente - uma extremista de direita, politicamente ignorante, religiosamente fundamentalista e declaradamente crente no armagedão, subitamente colocada por força dos “desígnios divinos” (ilógicamente alheios à longeva idade de MacCain) no comando da Nação Americana - com tudo o que isso implica para o resto do mundo.

Com ou sem bruxaria, crendices psicóticas e exorcismos à mistura, esta escolha de casting não deixa de ser assustadora e potencialmente trágica.

Arrepiante.


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Post scriptum: Desejo muito sinceramente uma longa vida para o Senador John McCain, plena de saúde física e mental.

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sábado, 20 de setembro de 2008

Opinião pública, senso comum e auto-estima.





Há já muito tempo que os filósofos sugeriram que, quando começamos a escrutinar as opiniões dos outros, nos sujeitamos a fazer uma descoberta simultaneamente triste e curiosamente libertadora: as opiniões da maioria das pessoas sobre a maioria dos assuntos são extraordinariamente erróneas e confusas.

Correndo o risco de soar como um misantropo, sou forçado a concluir o mesmo que Chamfort: «a opinião pública é a pior de todas as opiniões»; e penso que podemos ainda acrescentar: o senso comum é o corolário daquela opinião pública e a justiça popular o seu braço armado.

O que explica aquela conclusão? Logo para começar, a relutância do público em submeter os seus pensamentos ao rigor de um exame racional e, pelo contrário, fundamentá-los meramente na sua fé ou na intuição, na emoção e no hábito.

O senso comum não passa geralmente de falta de senso visto que enferma de simplismo e de ilogismo, de preconceito e vacuidade.

Quando li Schopenhauer concluí tal como ele que acabaremos por tornar-nos indiferentes ao que se passa nas cabeças das outras pessoas à medida que formos adquirindo um conhecimento adequado da natureza fútil e superficial dos seus pensamentos, da estreiteza das suas opiniões, da torpeza dos seus sentimentos e da quantidade de erros em que incorrem.

Quando atingimos aquela consciência vemos então que quem atribui muito valor às opiniões dos outros lhes estará a reconhecer uma importância que não merecem.

Além disso, que dizer das opiniões emanadas de um povo cujo principal entretenimento é o jogo, as telenovelas e o endividamento consumista? Isto diz bem do valor de uma sociedade e da anunciada falência das ideias e dos pensamentos.

Será que devemos levar a opinião daquelas pessoas a sério?

Podemos realmente permitir que tais veredictos determinem aquilo que fazemos das nossas vidas, como dedicarmo-nos à ciência ou ao voluntariado ao invés de passarmos todo o tempo dedicado ao futebol ou não mudarmos de carro de 2 em 2 anos, evitando assim mergulhar acriticamente na escravidão do endividamento, só porque o vizinho do lado também o faz?

Poderá a nossa auto-estima ser justamente sacrificada a um grupo de treinadores de bancada e de jogadores da sorte e do azar, de telespectadores de romances enlatados e de escravos do consumo? E mesmo que estas pessoas viessem a respeitar os caminhos da vida que decidimos prosseguir, quanto é que vale um tal respeito?

Ou como escreveu Schopenhauer, «Será que um músico se sentiria lisonjeado pelos aplausos da plateia sabendo que ela era maioritariamente constituída por surdos?»

Fica pois, desde já, uma consolação: Uma reprovação pública só poderá magoar-nos na medida em que atinge o alvo.

Só aquilo que for simultaneamente condenatório e verdadeiro é que deve ser autorizado a abalar a nossa auto-estima. Quem souber, em plena consciência, que não merece reprovação pode e deve encará-la com desprezo.

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terça-feira, 16 de setembro de 2008

Investigador da Universidade do Algarve distinguido com prémio Erwin Schrödinger 2008


O Prof. Matthias Futschik, do Centro de Biomedicina Molecular e Estrutural (CBME) da UAlg, recebeu, no passado dia 11 de Setembro, em Berlim, o prémio Erwin Schrödinger 2008.

A Helmholtz Association of German Research Centres, uma das maiores sociedades científicas da Europa, reconheceu assim o mérito do trabalho desenvolvido pela equipa de investigadores da qual o alemão Matthias Futschik faz parte, que culminou na criação de um modelo único, capaz de mostrar, pela primeira vez, como interagem milhares de proteínas humanas.

Um dos investigadores do grupo que conseguiu desenhar o primeiro mapa da interacção de proteínas em humanos, e que desde o início de Setembro está a desenvolver a sua investigação na UAlg, foi distinguido na passada semana, a 11 de Setembro, com o prémio Erwin Schrödinger 2008. A cerimónia decorreu em Berlim, na Alemanha, durante a assembleia-geral da Helmholtz Association of German Research Centres, entidade que atribui anualmente este prémio e que integra 15 centros de investigação, constituindo-se como a maior organização científica da Alemanha.

A equipa do Prof. Matthias Futshik, liderada pelo Prof. Erich E. Wanker, do Max Delbrück Center for Molecular Medicine, sediado em Berlim, foi distinguida por ter desenvolvido, pela primeira vez em humanos, um mapa das interacções entre proteínas, projecto que abre novas possibilidades no que toca ao tratamento de, por exemplo, doenças neurológicas.

O grupo de investigadores, no qual se inclui o alemão Matthias Futschik, estudou a interacção entre as proteínas que compõem o corpo humano, realizando mais de 25 milhões de experiências individuais, com o objectivo de perceber se proteínas específicas interagem entre si. Foi desta forma que a equipa criou um mapa que mostra 3200 interacções entre 1700 proteínas humanas. Os investigadores foram ainda capazes de identificar 195 proteínas e respectivos parceiros, associando estas relações a diferentes patologias.

De acordo com Matthias Futschik – contratado pela UAlg ao abrigo do programa Ciência 2007 e que nos próximos 5 anos vai desenvolver o seu trabalho no CBME, centro de investigação da UAlg integrado no laboratório associado Instituto de Biotecnologia e Bioengenharia (IBB) –, o estudo da interacção entre proteínas permite conhecer melhor os mecanismos de algumas doenças, o que é essencial para desenvolver novos fármacos.

Do ponto de vista do investigador, este primeiro mapa "abre novas possibilidades na busca da cura para doenças como Parkinson, Alzheimer, ou a doença de Huntington, mais rara, mas que nos suscita particular interesse, uma vez que é causada pela mutação de um único gene".

O objectivo do trabalho que Futschik tem realizado em torno da doença de Huntington é tentar “desenvolver caminhos que indirectamente possam curar a doença", sendo que a estratégia passa por influenciar indirectamente uma proteína através de outras proteínas "suas parceiras", conclui.

Mais informação disponível no site oficial da Helmholtz Association of German Research Centres, em http://www.helmholtz.de/


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sexta-feira, 12 de setembro de 2008

A rainha que veio do gelo


Perante a crise no Cáucaso, a candidata à vice-presidência Norte Americana considera viável a hipótese da OTAN (NATO) declarar guerra à Rússia num eventual cenário de conflito entre o herdeiro do império soviético e os países da sua tradicional esfera de influência, como a Ucrânia e a Geórgia, no caso destes pertencerem à NATO.

Primarismo de análise política à parte, é certo que os Estados signatários da OTAN (NATO) estão vinculados à defesa de qualquer um dos seus aliados caso este seja atacado por um inimigo exterior.

Não é este o caso da Geórgia acerca do diferendo que a opõe à Rússia relativamente à Ossétia do Sul (ou tão pouco à abkhazia), ou seja: nem a Geórgia foi primeiro atacada - mas antes invadiu um território que considera ser parte integrante da nação georgiana (assim como a Sérvia considerava o kosovo)- assim como não faz parte da OTAN (NATO); e se fizesse, o tratado não visa apoiar agressões dos seus membros a outros países mas sim garantir a defesa dos subscritores do tratado perante ataques externos, pelo que nenhum membro estaria obrigado a acudir a uma reacção como foi a da Rússia perante a inicial ofensiva georgiana.

Ora é precisamente segundo o princípio de defesa mútua em caso de agressão exterior que não se justificou a presença de forças da NATO no Iraque, apesar dos aliados europeus terem caído na armadilha de enviá-las para o Afeganistão e para território ex-jugoslavo.

O Kosovo foi a caixa de Pandora que a diplomacia Americana abriu, na cegueira expansionista (político-económica) para a qual arrastou os Aliados. Deste precedente decorre a fragilidade do Direito Internacional quanto ao respeito e à reposição dos direitos de independência e de integridade territorial, por exemplo, da Geórgia; isto para não falar do Curdistão, do Tibete, de vários conflitos fronteiriços ou até mesmo das pretensões independentistas das regiões autonómicas espanholas e portuguesas. Daqui se compreende (e muito bem) a relutância Ibérica em resistir ao reconhecimento da independência kosovar.

Ora, depois de tanta trapalhada na política internacional da superpotência, não bastou que a candidata perdedora dos Democratas tivesse ameaçado obliterar o Irão; agora surge a ambiciosa Rainha do Gelo, autêntico ícone para a extrema-direita americana (e não só), a lançar uma semente para o Armagedão. Isto não é de admirar, já que a própria criatura é criacionista e acredita que o fim do mundo está para breve. Já aqui falei acerca da psicopatia na vida política, pelo que não me irei repetir.

Perante a viabilidade deste futuro assustador, arrisco dizer que a actual Presidência e o seu grupo neoconservador (que fez as guerras Pós-11 de Setembro) poderão, paradoxalmente, vir a deixar saudades. Isto, claro está, no caso de Obama perder as eleições.

São dias tenebrosos, estes que vivemos.

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quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Carta a um amigo homossexual





Caríssimo:

Já sabes o que digo sempre: a depressão é uma tomada de consciência quase sempre dolorosa mas que tem como objectivo a mudança (de atitudes, de comportamentos, de sentimentos e de percepção das coisas acerca de nós mesmos e dos outros e do mundo à nossa volta); pois não é que se as coisas estiverem bem connosco não temos muito em que pensar mudar?

A orientação sexual é um caminho pessoal e não é tão linear e rectilíneo como se apregoa por aí. Já lá diz o ditado: públicas virtudes, vícios privados. Mas não penses que com isto quero dizer que a homossexualidade, tal como a heterossexualidade ou a bissexualidade sejam um vício. Não, a concepção de vício é puramente moral, muito especialmente aquela de cariz religioso que influenciou em muito os julgamentos sociais acerca dos costumes individuais, por exemplo.

Nós, os Psis, sabemos que na realidade existem fronteiras muito difusas entre as orientações sexuais e que as coisas não são tão absolutas como a moral judaico-cristão (ou muçulmana, já agora) quer fazer acreditar.

Na verdade, às escondidas dos olhares públicos - por esses palheiros do interior, pelas matas nacionais a fora, nas dunas das nossas praias (que são como divãs, biombos indiscretos, como cantam os GNR), nos jardins públicos, nos balneários das piscinas, das saunas e dos ginásios da moda, nas cabines dos camionistas que param nas bermas dos pinhais para “descansar”, nas casas de banho públicas dos centros comerciais, das auto-estradas e das estações de comboios, nos hotéis e pensões de águas correntes a preços módicos ou em grandes vivendas de aparência respeitável - passam-se cenas tórridas e muito escaldantes entre pais de família com pais de família, entre mães e pais de famílias diferentes, entre mães de família, entre patrões e colaboradores ou entre colegas de trabalho, entre hetero “passivos” e bi “curiosos” ou entre 2, 3, 5, 6 ou mais pessoas na mesma cama, etc.

Enfim, nada de novo, os gregos, os romanos, os persas e muitos outros reflectiram profusamente sobre isso (até porque tinham grande experiência além do conhecimento de causa).

Hoje em dia - depois de um período recente relativamente que tem sido abundante no debate sobre a temática antecedido por outras anteriores épocas de censura total - não se fala muito mais sobre a realidade desta temática pelas mais variadas razões. Pessoalmente, nem sei se se deveria esgotar o tema, sinceramente, pois a intimidade sexual adulta pertence a uma mesma esfera de maior dimensão – a esfera da intimidade pessoal.

Para mim, o que importa na realidade é que cada pessoa adulta se sinta bem consigo mesma na relação íntima com os outros adultos e que forme inclusive relações afectivas profundas mais ou menos prolongadas mas equilibrantes (com partilha de afectos, emoções, experiências, cumplicidades, enfim, das coisas da vida), tudo dependendo da qualidade da relação entre as pessoas envolvidas e daquilo que procuram obter.

Além de tudo, importa também não esquecer que qualquer que seja a orientação sexual das pessoas envolvidas num relacionamento, encontrar a pessoa “certa” (para aqueles que isso procuram) nem sempre é fácil, pelo contrário.
O que é mais provável é existirem “pessoas certas” para certos momentos mais ou menos prolongados (alguns até são muito longos – por exemplo uniões ou matrimónios de 30, 40 ou mais anos), mas que muitos outros momentos relacionais (tanto para os hetero, homo ou bissexuais) são muito mais curtos apesar de intensos – as chamadas “paixões”; no extremo destas últimas existem ainda os acting-out fulminantes, de cariz pré-psicótico, a que se chamam “engates”.

Mas nada disto, se olharmos com distanciamento, é mais do que uma procura pessoal da felicidade a que cada ser humano tem direito. Com muitos erros à mistura.

Quanto à chamada Moral Social, é claro que existe ainda uma evidente descriminação das pessoas que são diferentes da maioria, em especial em meios pequenos e fechados à mudança ou em ambientes plenos de hipocrisia onde convém a existência de bodes-expiatórios; por mais leis que se façam isso será muito difícil de combater em uma ou em duas gerações. A mudança da consciência social depende da educação e da inteligência emocional dos povos, e nesse aspecto não podemos dizer que Portugal seja particularmente avançado.

A salvaguarda do embaraço ou do vexame público daqueles que legitimamente querem exercer o direito à felicidade pessoal minoritária, por agora, não pode ser alcançado a não ser através de uma atitude de low profile e de muita descrição acerca da vida íntima e pessoal.

Os americanos chamam à atitude de reserva pública da vida íntima sexual a politica don't ask, don't tell. Os portugueses, são mestres nisso, no jogo do faz-de-conta (nós não temos ainda um nome específico para essa atitude lusitana do jogo social “não-queremos-acreditar-que-seja-verdade-que-o-meu-menino-não-me-vai-dar-netos” ou “faz-de-conta-que-não-sabemos-o-que-está-na-cara-de-toda-gente”); talvez se lhe possa chamar a “politica portuguesa se-não-vejo-não-existe”, preferindo a plebe arriscar até em grandes e caríssimos casamentos de fachada que se prolongam durante algum tempo com muito álcool, antidepressivos e pancadaria à mistura, tudo para anestesiar a angústia e as dores da tomada de consciência das verdades às quais se fecharam os olhos…

Para mim, essa suposta normalidade das coisas é uma pura negação social – esse poderoso mecanismo de defesa do ego, alargado colectivamente, quando existe um sentimento de ameaça da estabilidade e da coesão do que está pré-concebido como supostamente equilibrante.

Mas claro está, cada pessoa tem o seu ritmo de tomada de consciência e o direito a dar muitas cabeçadas até aprender a dar valor ao que realmente interessa na vida, i. é o bem-estar latus sensu.

Por isso, meu caro amigo, não te sintas diferente porque na realidade não o és, sejas tu homossexual, bissexual ou heterossexual. És humano, tão-somente isso.

Para mim és um amigo que respeito, é-me indiferente que não gostes de azul, que Bach te faça dormir ou que comas tofu como se o mundo acabasse amanhã. Até podes gostar mais do Ken do que da Barbie, nada disso interfere com a minha percepção sobre a totalidade da tua pessoa, que identifico como honrada e digna.

Portanto, qualquer que seja a escolha do caminho da tua vida, penso que importa mesmo é que sejas feliz, de preferência muitas vezes e durante longos períodos de tempo, com respeito pelos direitos alheios como aquele que desejas que tenham por ti próprio. Isso requer auto-consciência e serenidade, total sinceridade para contigo mesmo e um espírito crítico e pouco iludido sobre a natureza das pessoas (mas sobre as ilusões envolvidas nas relações entre humanos fica a conversa para outro dia).

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quarta-feira, 11 de junho de 2008

Portugal - Reposição da Autoridade do Estado e da Ordem Pública


Ao cabo de 3 dias de desacatos, não será tempo de encontrar soluções pragmáticas e de repor a ordem pública inerente ao Estado de Direito? Se não se estabelecem limites bem claros o mais provável será o agravamento de outras situações com a abertura deste precedente para o futuro.

Um comunicado ao País seguido da reposição firme da legalidade e do cumprimento integral das regras de protesto cívico sem espaço para abusos: penso que poderia já ter sido essa a actuação das autoridades. Entendo que é o papel que o Estado assumir de imediato a garantia da ordem pública e prover às necessidades (e direitos) de toda a população - e não apenas continuar a defesa da colecta de impostos ou na tolerância fiscal para alguns, não actuando aparentemente muito mais do que na gestão negocial dos acontecimentos e na mera limitação de danos.

Será neste silêncio oficial que se sossega a população que começa a sentir as dificuldades da presente crise social? Espera então o Executivo que o futebol alivie as tensões acumuladas? Existe porventura esperança de resolução mágica da situação no pão e circo,(no caso presente mais circo do que pão), a velha receita romana?

Muito cuidado pois com a atitude de fuga em contenção, tal e qual a política de avestruz, perante a manifestação da revolta sem respeito pelas normas estabelecidas e com o atropelo dos direitos de quem não deseja exercer o direito à greve. Ignorar tais comportamentos de desrespeito dos direitos de todos em prol das reivindicações de alguns pode vir a dar muito mau resultado, agora e no futuro.

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quarta-feira, 4 de junho de 2008

Insónia - As 10 boas regras para promover um sono reparador




1.Mantenha um horário de sono alterando-o muito pouco, mesmo durante o fim-de-semana.

2.Tente não se esforçar por adormecer já que o sono deve surgir naturalmente. Quando aquele não chega quando se deseja o melhor é levantar-se e realizar qualquer actividade de relaxamento ou descontracção – uma sugestão poderá ser a de planificar na sua agenda a resolução dos assuntos pendentes para o dia seguinte ou arrefecer o corpo por alguns minutos (com os olhos abertos) e de seguida regressar à cama; isto providencia uma clara distinção entre o estado de vigília e o entorpecimento da insónia.

3.Pratique exercício físico de forma regular de modo a equilibrar os níveis de ansiedade e prevenir o stresse; a isto acresce que a prática diária de exercício físico seguido de relaxamento melhora a qualidade do sono por via das endorfinas. No entanto, é desaconselhável a actividade física antes de dormir.

4.Dormir com ruído, excesso de luz, demasiado calor ou frio não promove o sono, por isso providencie um ambiente adequado no quarto de dormir, sem a presença próxima de aparelhos eléctricos (tv, computador ligado, telemóvel ou despertador electrónico próximos).

5.Evite ingerir uma grande quantidade de comida antes de dormir; no entanto tentar adormecer com fome também não é o mais indicado, sendo aconselhável fazer uma leve refeição quinze minutos antes de dormir (por exemplo: um copo de leite morno e um par de biscoitos sem açucar).

6.Evite também o café e as bebidas com cafeína (chá preto e afins ou coca-cola ou outros refrigerantes) depois das 20 horas uma vez que aquelas são estimulantes do Sistema Nervoso Central.

7.O tabaco também funciona como estimulante assim como pequenas doses de álcool (em doses mais elevadas o álcool funciona como depressor), sendo que ambos devem ser evitados até 2 horas antes de dormir.

8.Evite dormir por períodos aleatórios durante o dia, com exepção para uma pequena sesta ou periodo de repouso (entre 20 a 30 minutos) depois do almoço.

9.Os estímulos electromagnéticos do televisor e do computador devem ser evitados cerca de uma ou duas horas antes de ir para a cama de modo a permitir que a actividade cerebral diminua durante o período que antecede o sono.

10.Se dormir mal uma noite procure não desesperar. Na noite seguinte deite-se à hora habitual.

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terça-feira, 27 de maio de 2008

Estabilidade de preços na versão infantil do BCE



O Banco Central Europeu explica a inflação às criancinhas. E para os papás, mais vale tarde do que nunca.

Foi pena que não tenham feito o mesmo ( e atempadamente) aos milhões de adultos (muitos deles agora insolventes) que se endividaram com o engodo dos empréstimos bancários a juros baixos - que o próprio BCE autorizou.

sábado, 17 de maio de 2008

Síndrome de Munchausen: fingir para obter atenção.




A síndrome de Munchausen, também denominada simulação patológica, não é estritamente um distúrbio somatoforme, mas as suas características são algo similares àquelas dos distúrbios psiquiátricos sob a aparência de uma doença orgânica. A diferença fundamental parece ser a seguinte: os indivíduos com a síndrome de Munchausen simulam (conscientemente e de modo credível) os sintomas da enfermidade ou do seu problema bio-psíquico grave, que mais tarde virá a ser alvo da atenção dos outros.

Os indivíduos com Síndrome de Munchausen tendem a inventar moléstias e desenvolver sintomas simulados (ou consequentes a danos auto-infligidos). Frequentemente vão de hospital em hospital em busca de tratamento de modo a alcançarem (inconscientemente) a atenção de que necessitam; disto diferem aqueles com Hipocondria que acreditam sentir sintomas físicos e mostram-se particularmente preocupados (obsessivamente focalizados) na presença de uma doença (em última análise, a Morte) que crêem firmemente padecer.

Em resumo: os Hipocondríacos sentem e acreditam possuir uma doença grave e focalizam nessa preocupação (tida como uma legítima ameaça) grande parte da sua atenção, enquanto que aqueles com a Síndrome de Munchausen querem fazer os outros acreditar na existência de uma situação supostamente perigosa ou grave para assim conseguirem a atenção de que (inconscientemente) necessitam.

Contudo, a Síndrome de Munchausen está associada a problemas emocionais graves ou severos geralmente associados à Perturbação da Personalidade, sendo aquela mais complexa do que a crença obsessiva focalizada na existência de doenças ou uma qualquer desonesta invenção e fingimento de sintomas para alcançar um ganho imediato (por exemplo: manipular uma determinada situação familiar, faltar ao emprego ou evitar uma obrigação legal).

Os indivíduos com Munchausen geralmente são inteligentes e possuem vários recursos; não somente sabem como simular doenças ou situações específicas mas também possuem um conhecimento sofisticado das práticas médicas ou daquelas envolvidas na situação que pretendem simular. São capazes de manipular os seus sintomas de modo a serem hospitalizados e submetidos a uma enorme quantidade de exames e tratamentos, incluindo cirurgias de grande porte.

Na Síndrome de Munchausen as fraudes são conscientes mas a sua motivação é em grande parte inconsciente - a busca incessante da atenção dos outros, por via de uma falha narcísica diriam uns, por Perturbação da Personalidade dizem outros, sendo que ambas as percepções estão correctas.

Uma variante desta síndrome é denominada Síndrome de Munchausen por Substituto ou Munchausen by Proxy . Neste distúrbio, uma criança (ou alguém dependente) pode ser utilizada como paciente passivo, geralmente por um dos progenitores.

Por exemplo: o progenitor falsifica a história médica da criança e pode intencionalmente causar-lhe danos através de medicamentos ou adicionando sangue; noutros casos são utilizados contaminantes bacterianos nas amostras de urina para análise orientando assim todo o esforço para simular uma doença no substituto, i.é, a criança doente.

Aquela criança substituto será o alvo inicial da atenção médica devida à gravidade da sua situação mas apenas parcialmente já que atenção obtida será também deslocada para o progenitor que cuida dela; são nestes ganhos secundários de atenção por substituição que o progenitor com Munchausen by Proxy obtém o que procura.

A motivação subjacente a tais comportamentos bizarros parece ser uma necessidade patológica de obter atenção dos outros e de manter uma relação intensa com a criança (substituto), por via de quem provêem toda a atenção ansiosamente desejada pelo progenitor.

Existem também o exemplo paradigmático da Falsa Gravidez, tipologia na qual a mulher desenvolve (simula e/ou provoca) sintomas semelhantes aos das gestantes.

No mesmo sentido, também podemos incluir nesta categoria de síndrome alguns casos de suposta violação ou abuso nos quais se poderão detectar com mais detalhe pericial que os danos físicos foram auto-infligidos apesar das narrativas serem aparentemente coerentes e credíveis numa primeira leitura.


Tratamento:

O tratamento é extremamente difícil que pode requer co-intervenção psicofarmacológica além da psicoterapêutica. Geralmente qualquer sugestão de que os sintomas em presença são psicológicos tende a produzir sentimentos de frustração e de raiva nos indivíduos.

No entanto, a praxis demonstra que o melhor tratamento está numa relação terapeuta-paciente de apoio, relaxada e firme, que provê alívio sintomático e protege o indivíduo (de procedimentos diagnósticos ou terapêuticos muito caros ou outros comportamentos possivelmente perigosos) através da aquisição de competências pessoais de percepção de si e dos outros através de uma intensa restruturação cognitiva e comportamental, frequentemente prolongada no tempo.

Entretanto, o profissional deve permanecer sempre alerta frente à natureza dramática das queixas e um comportamento exibicionista, dependente, manipulador e, algumas vezes, suicida do paciente. Trata-se de uma Perturbação de Personalidade, pelo que a sua rigidez é natural e omnipresente.

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segunda-feira, 12 de maio de 2008

TU DECIDES - Prevenção VIH / SIDA e Sinistralidade Rodoviária




Decorreu mais uma intervenção Tu Decides na XXIII Semana Académica do Algarve.

Mais uma vez, fez-se a intervenção preventiva a milhares de estudantes principalmente em duas áreas particularmente sensíveis ao tipo de evento em causa: a prevenção da condução automóvel sob efeito de álcool e a prevenção sobre comportamentos de risco de V.I.H (e outras DST`s).

Um modelo pragmático de (in)formação entre pares para a prevenção dos comportamentos de risco que conquistou o público a que se destina.

A organização da equipe de 40 estudantes voluntários durante as 9 noites esteve a cargo do GPAP assim como a gestão logística das acções de prevenção e de (in)formação entre os pares.

Um projecto, outrora pioneiro, que se transformou num plano de intervenção anual destinado aos milhares de alunos que festejam a Semana Académica da Universidade do Algarve, inspirados em Baco e pelos vapores das bacantes, com todas as consequências de risco que daí advêm.

A adesão tem sido, desde o início, elevada. Assim aconteceu uma vez mais neste ano de 2008 apesar de algumas dificuldades e outros entraves dos Velhos do Restelo, que sempre acabam por se revelar nas situações de mudança na acção.

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segunda-feira, 5 de maio de 2008

Educação dos adolescentes (e das crianças ? ) - Videojogos violentos afectam cérebro e o comportamento

O Professor Vincent Mathews, Docente de radiologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Indiana (EUA), concluiu recentemente que os videojogos violentos estimulam nos adolescentes a actividade das regiões do cérebro ligadas às emoções e reduzem as respostas das zonas que comandam o raciocínio e o auto controlo.

O investigador e a sua equipa efectuaram este estudo com 44 adolescentes com idades entre 13 e 17 anos escolhidos ao acaso e sem problemas relevantes de comportamento.

Metade do grupo jogou durante 30 minutos um videojogo que simulava um combate militar muito violento, enquanto que a outra metade se entreteve com um videojogo não violento mas interessante.

No final da sessão, os participantes fizeram testes para medir a concentração e a inibição, enquanto que o funcionamento do cérebro era observado em tempo real por ressonância magnética (IRM).

Os do grupo que jogou o videojogo violento mostraram uma maior actividade na amígdala, sede da excitação emocional no cérebro. Em contraste, os que jogaram o não violento revelaram uma maior estimulação da parte pré-frontal do cérebro, ligada ao auto controlo, precisou o investigador.

A investigação do Professor Vincent Mathews sugere que jogar certos videojogos violentos pode ter efeitos diferentes a curto prazo nas funções cerebrais do que jogar videojogos não violentos mas interessantes.

O conteúdo violento dos videojogos tem sido objecto de tentativas de regulamentação por alguns governos ocidentais que, até agora, só resultaram num sistema de classificação semelhante ao utilizado para os filmes.

Os resultados deste estudo parecem favorecer outras teses, nomeadamente aquela que defende que o tempo dispendido defronte a uma televisão ou ecrã multimédia com programas ou conteúdos televisivos violentos, sem mediação de adultos isentos, pode influenciar a resposta de agressividade dos espectadores e desde logo o grau de percepção e contacto com a realidade.

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