quinta-feira, 27 de março de 2008

(in)Disciplina e (des)autoridade numa escola. A educação vs a instrução.Vergonha na Escola Carolina Michaelis.



Video "9º C em grande - pp vs stora françes" (sic) - da autoria de Isaac Daniel Martins.
Escola Secundária Carolina Michaellis, Porto.
Colocado no YouTube em 13-3-2008 sob a categoria "Comedy" »

Serei breve, até porque não tenho paciência para argumentar acerca das teorias educacionais dos anos 80 e 90 que originaram o miserável e dispendioso paradigma educacional vigente.

Penso que as escolas devem instruir, as famílias devem educar, o Estado deve zelar pelo cumprimento daquelas tarefas. Todos têm que ser responsabilizados pelas respectivas obrigações; nos casos de incumprimento, as punições têm que ser exemplares.

Nesta situação visionada, tanto são passíveis de sanções disciplinares a aluna indisciplinada assim como os alunos que a protegeram e os que filmaram a cena com comentários inaceitáveis inclusos.

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segunda-feira, 24 de março de 2008

Crise e Desemprego - O que deve fazer se for despedido



As primeiras 24 horas após a tomada de conhecimento do despedimento podem ser as mais críticas. Existem alguns comportamentos que poderão piorar a situação de quem acaba de se ver envolvido num processo de despedimento.

Eis algumas orientações para que sejam tomadas atitudes positivas através de uma tomada de consciência de que é simplesmente uma fase da carreira que se está a encerrar, e que se encontra numa nova etapa com novas oportunidades.

O que for dito ou feito imediatamente ao saber deste novo estatuto irá influenciar a forma de pesquisa de um novo emprego e mesmo as referências que possam vir a ser nomeadas. Muito Importante: deverá necessariamente manter a calma, a disciplina pessoal, a planificação de estratégias de procura de emprego e a organização do tempo.

Sete conselhos em caso de despedimento

Eis sete situações que não deverão ser tomadas por quem acabou de ser despedido:

1 - Primeiro, não se vitimize. Sentir que foi posto de lado, ou que de certa forma é o responsável pela situação em que se encontra pode não ser somente errado, como também é contraproducente. Em vez de se deixar tomar por atitudes negativas, coloque as suas energias em encontrar um novo emprego.

2 - Segundo, não deixe os sentimentos ganharem sobre a razão. Pessoas que se deixam levar pelas suas emoções sentem frequentemente pena de si próprias, desmotivam-se ao enfrentar os seus medos, perdem a fé, culpam outros pela sua situação e acham difícil prosseguir as suas vidas. Mas aqueles que se regem pelo intelecto, geralmente, avaliam as circunstâncias em que se encontram, analisam as suas capacidades e potencial, planeiam o seu futuro e seguem em frente.

3 - Não se distraia durante a reunião de saída. É fácil deixar que a mente imagine o que é que o futuro lhe espera, como é que a família vai reagir ou como vai sentir saudades da rotina de trabalho a que se está habituado. Durante a reunião de despedida com o ex-empregador é importante prestar atenção e conseguir manter-se na realidade do presente.

4 - Não conte histórias incoerentes sobre a razão de ter perdido o emprego. Decida como irá explicar o despedimento e mantenha sempre a mesma versão. Se começar a contar diversas versões com toda a certeza elas virão a ensombrá-lo no futuro. O melhor é ser honesto.

5 - Não esconda dos familiares e amigos que foi despedido. Ao esconder o despedimento não só estará a recusar oportunidades de emprego através desta rede social e o apoio que a família e amigos oferecem, bem como irá desgastar-se emocionalmente a tentar esconder a verdade.

6 - Não critique o seu anterior empregador. Por mais compreensível que seja poder estar magoado, deverá manter em mente que os futuros empregadores pensam sempre duas vezes em contratar alguém que critica a sua anterior empresa durante uma entrevista de emprego.

7 - Por último, não perca o controlo das finanças. Analise criteriosamente a sua situação financeira e desenvolva um plano de gastos adequado. Na maioria dos casos, não implica que terá de cortar de modo radical mas deixar de fazer algumas despesas que não sejam custos fixos, evitando aumento da carga de créditos e prestações desnecessárias, e redireccionar todo o dinheiro que possa obter para poupança.

E se depois de ler esta listagem não estiver satisfeito, não se esqueça, deverá continuar a perseguir os sonhos pessoais e tomar responsabilidade de se manter fiel a estes sonhos.

Deverá fazer planos, diariamente e de longo prazo, e agir. Cuide bem de si e da sua imagem, da sua saúde física e mental. Organize o seu tempo livre em função dos seus objectivos de procura de emprego mas também de modo a descomprimir o stresse que a situação geralmente provoca. Estando física e mentalmente equilibrado para enfrentar a procura de emprego, será mais fácil de concentrar-se para atingir o objectivo de encontrar um novo emprego.

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sábado, 15 de março de 2008

Cães perigosos ou donos delinquentes? Propaganda a quanto obrigas


Surgem notícias de que o actual Ministro da Agricultura pretende assinar um despacho que vai proibir a importação, criação e reprodução de cães de sete raças consideradas perigosas e de todos aqueles que resultem do cruzamento de animais destas raças ou com outras espécies. As raças são: Pit bull, Rottweiler, Cão de fila brasileiro, Dogue argentino, Staffordshire terrier americano, Staffordshire bull terrier e Toza inu.

Ora sabe-se que nenhum animal referenciado nas notícias dos ataques a humanos era de criadores registados e profissionais. Quem possui animais destas raças sabe da sua docilidade, apego e obediência aos donos.

São, pela sua envergadura e características físicas em geral, animais possantes e potencialmente perigosos se forem utilizados por delinquentes. Podem também vir a tornar-se dominantes se os donos forem pessoas incapazes de assumir a responsabilidade de treiná-los com afecto e firmeza.

Todavia, a generalização de que são alvo é um erro grave e lamentável. Uma medida como aquela que se anuncia, imposta sem qualquer preparação, vai gerar uma reacção que vitimará os animais e não será eficaz quanto à responsabilização dos donos.

Suponho que quem vai pagar a factura são os animais que serão abandonados já que muitas serão as pessoas que vão querer furtar-se a estas condições entregando-os aos canis e gatis municipais. Quem estava ilegal vai continuar ilegal e ninguém vai fazer nada. Até porque uma parte está em zonas dominadas por delinquentes nas quais a polícia não entra e não vai entrar, i.é, o mercado paralelo, não o legal.

Eu tenho um Pit bull com 6 anos. É um cão dócil, meigo, obediente, extremamente sociável e nunca teve qualquer reacção agressiva fosse para quem fosse. Tem um micro-chip, as vacinas em dia, um seguro obrigatório e a devida licença camarária. Quando tem que circular na rua, usa trela e açaime (o que o coloca muitas vezes em perigo de ser mordido face às dezenas de cães que andam à solta e que já o tentaram atacar várias vezes). Agora dizem-me que, além de tudo ainda o terei que esterilizar. Não o farei! Não vou colocar em perigo a vida de um cão adulto, de estimação e totalmente inofensivo apenas para fazer cumprir uma lei absurda e mal direccionada. Era o que faltava. Prefiro passar a ser um fora-da-lei e mesmo assim dormir descansado com a minha consciência.

O Senhor Ministro da Agricultura que faça cumprir a normas já existentes, que caso fossem integralmente cumpridas seriam mais do que suficientes.

Já agora seja coerente e proceda de modo a tornar eficazes os mecanismos de fiscalização e de punição para com os donos que não cumprem com os procedimentos de segurança actualmente já regulamentados e pare com medidas eugénicas radicais, de genocídio canino e de pura propaganda administrativa.

Os responsáveis pela perigosidade dos animais são os donos inaptos para assumirem tal condição e são esses mesmos donos que deverão ser responsabilizados. Seja coerente com o que defende e com aquilo que é acertado fazer, não ceda ao facilitismo primário e à histeria, seja um Homem!

Uma coisa é certa: caso venha a ser legislada uma lei de tal calibre, nunca me esquecerei desta afronta fascizante às liberdades dos cidadãos decentes e aos direitos dos animais, agora e no futuro, aquando da campanha eleitoral que se avizinha e perante a mesa de voto. Dou-lhe a minha Palavra de Honra!

domingo, 2 de março de 2008

Uma noite nas Urgências do Hospital Distrital de Faro





Sou hemofílico, uma condição física que me coloca em risco acrescido permanente e que aprendi a relativizar de modo a viver uma existência não condicionada pela ameaça da doença.

Ontem de manhã tive uma hemorragia. O sabor férreo do sangue na boca começou de manhã, pelas 8horas, após o pequeno-almoço. Como estava a mais de 100 km de distância do Hospital Distrital de Faro e porque já sabia o que me esperava (este verbo é o verbo certo – esperar), tomei precauções e adiei o inevitável: bebidas geladas, gelo triturado, repouso e a esperança que os 20% de Factor VIII que a genética me concedeu fizesse o seu trabalho de coagulação. Não fez.

Pelas 17 horas, já farto de me sentir um Drácula de mim mesmo, fiz-me ao caminho, sozinho de carro, até ao Hospital Distrital de Faro. Durante a viagem, pela Via do Infante, telefonei para o Hospital e pedi para falar com a Hematologia, porque sei que geralmente nestas situações o especialista administra 1000 unidades de factor VIII: “ah, Hematologia não temos, só Serviço de Sangue. Vai ter que vir até às urgências.”… senti um arrepio, agradeci e desliguei o telefone.

Continuei a viagem temeroso do tormento antecipado.

No atendimento inicial, às 19 horas, tudo foi muito bem. Explicado ao funcionário do guiché a minha condição e estado, fui encaminhado para o atendimento de triagem dentro da Urgência.

E pronto, havia chegado ao purgatório.

A enfermeira da triagem, criatura inexpressiva perante a minha informação de que era hemofílico e sangrava desde das 8 horas da manhã, atribuiu-me uma fita amarela (Método de Triagem de Manchester – do menos grave para o mais grave: verde-amarelo-laranja-vermelho) e fui para uma sala denominada apropriadamente de “Sala de Espera”. Lá dentro as pessoas sofriam, o que é espectável num hospital. E sofriam com dores? Sim, também, mas não só. Desesperavam com a espera e a ausência de informações.

No final de tudo, às 00:15 minutos do dia seguinte, conclui que a espera desesperante, desde a cor verde até à cor laranja inclusive, não foi para todos eles inferior a 5 horas.

Assisti, entre o purgatório da sala e o inferno da Urgência própriamente dita, a algumas cenas verdadeiramente deploráveis e inaceitáveis. Os corredores estavam apinhados de macas com doentes, dezenas, quase todos idosos. Vários gritavam e choravam sem que lhes fosse dada qualquer atenção digna desse nome. O cheiro a fezes e urina era impressionante.

Da sala de (des)espera até à sala de atendimento havia apenas uma estreitíssima passagem por entre as macas amontoadas de doentes. São cerca de 50 ou 60 metros que percorri 8 vezes, ida e volta: às 20 horas, perplexo, quando fui atendido por um médico extenuado que estava de banco desde o dia anterior; depois, horrorizado, às 21horas quando me fizeram análises ao sangue entre macas e uma confusão de gente; novamente às 22:00 quando me administraram o Factor VIII; e às 00:15, quando finalmente me foi dada alta sem quaisquer outras recomendações.

A brutalidade das condições físicas do espaço e principalmente a desumanidade com que alguns dos funcionários se dirigem aos doentes merece este comentário: observei gritos de funcionários para com alguns doentes perante o olhar impávido dos médicos presentes, vi gestos de humilhação pública - entre outros, a prática da mudança das fraldas aos incontinentes à vista de toda a gente. Também assisti, como todos os utentes que passam pelo longo corredor por entre as macas até ao balcão de atendimento, ao banho sem condições de privacidade e reserva da intimidade, tudo desnudadamente feito entre discursos de contenção pseudo-técnicos que infantilizam os enfermos que se queixam, uns entre gritos lancinantes, outros entre queixumes ininterruptos. Um horror inaceitável.

Faz-me recordar, infelizmente, os meus tempos de estágio em Coimbra, quando numa visita do então Ministro da Saúde - não aquela ilustre personagem de má memória para os cidadãos com hemofilia e para as famílias dos hemofílicos contaminados com VIH – os doentes que estavam depositados como meros objectos nos corredores das urgências foram retirados pelos elevadores para os pisos superiores de modo a esvaziar o Serviço até passar sua Excelência e a comitiva de jornalistas que o acompanhavam, tudo para efeitos de propaganda. Ninguém me contou, eu assisti.

Ontem, tal como outrora, ninguém me relatou seja o que for, eu vi e sobrevivi à situação, não sem sair dela outra vez com desgosto profundo e memórias visuais do absoluto sofrimento e da miséria.