sábado, 27 de setembro de 2008

O Exorcismo da candidata confirma o erro de casting



O mundo corre um risco enorme caso o candidato republicano vença a eleições americanas de Novembro.

O problema nem está nos candidatos à presidência, ambos ver-se-ão compelidos a executar uma política de evolução na continuidade, com algumas diferenças de estilo e de propaganda mas não no fundamental da doutrina.

O potencial sarilho está na escolha dos vice-presidentes, mais exactamente na escolha republicana, o que não sucede na opção democrata.

Imagine-se o que seria se, por um danado acaso do destino, o presidente viesse a falecer ou ficasse impedido de exercer, por exemplo devido a uma doença grave.

Na hipótese republicana, a maior potência militar (e nuclear) teria - legitimamente - uma extremista de direita, politicamente ignorante, religiosamente fundamentalista e declaradamente crente no armagedão, subitamente colocada por força dos “desígnios divinos” (ilógicamente alheios à longeva idade de MacCain) no comando da Nação Americana - com tudo o que isso implica para o resto do mundo.

Com ou sem bruxaria, crendices psicóticas e exorcismos à mistura, esta escolha de casting não deixa de ser assustadora e potencialmente trágica.

Arrepiante.


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Post scriptum: Desejo muito sinceramente uma longa vida para o Senador John McCain, plena de saúde física e mental.

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sábado, 20 de setembro de 2008

Opinião pública, senso comum e auto-estima.





Há já muito tempo que os filósofos sugeriram que, quando começamos a escrutinar as opiniões dos outros, nos sujeitamos a fazer uma descoberta simultaneamente triste e curiosamente libertadora: as opiniões da maioria das pessoas sobre a maioria dos assuntos são extraordinariamente erróneas e confusas.

Correndo o risco de soar como um misantropo, sou forçado a concluir o mesmo que Chamfort: «a opinião pública é a pior de todas as opiniões»; e penso que podemos ainda acrescentar: o senso comum é o corolário daquela opinião pública e a justiça popular o seu braço armado.

O que explica aquela conclusão? Logo para começar, a relutância do público em submeter os seus pensamentos ao rigor de um exame racional e, pelo contrário, fundamentá-los meramente na sua fé ou na intuição, na emoção e no hábito.

O senso comum não passa geralmente de falta de senso visto que enferma de simplismo e de ilogismo, de preconceito e vacuidade.

Quando li Schopenhauer concluí tal como ele que acabaremos por tornar-nos indiferentes ao que se passa nas cabeças das outras pessoas à medida que formos adquirindo um conhecimento adequado da natureza fútil e superficial dos seus pensamentos, da estreiteza das suas opiniões, da torpeza dos seus sentimentos e da quantidade de erros em que incorrem.

Quando atingimos aquela consciência vemos então que quem atribui muito valor às opiniões dos outros lhes estará a reconhecer uma importância que não merecem.

Além disso, que dizer das opiniões emanadas de um povo cujo principal entretenimento é o jogo, as telenovelas e o endividamento consumista? Isto diz bem do valor de uma sociedade e da anunciada falência das ideias e dos pensamentos.

Será que devemos levar a opinião daquelas pessoas a sério?

Podemos realmente permitir que tais veredictos determinem aquilo que fazemos das nossas vidas, como dedicarmo-nos à ciência ou ao voluntariado ao invés de passarmos todo o tempo dedicado ao futebol ou não mudarmos de carro de 2 em 2 anos, evitando assim mergulhar acriticamente na escravidão do endividamento, só porque o vizinho do lado também o faz?

Poderá a nossa auto-estima ser justamente sacrificada a um grupo de treinadores de bancada e de jogadores da sorte e do azar, de telespectadores de romances enlatados e de escravos do consumo? E mesmo que estas pessoas viessem a respeitar os caminhos da vida que decidimos prosseguir, quanto é que vale um tal respeito?

Ou como escreveu Schopenhauer, «Será que um músico se sentiria lisonjeado pelos aplausos da plateia sabendo que ela era maioritariamente constituída por surdos?»

Fica pois, desde já, uma consolação: Uma reprovação pública só poderá magoar-nos na medida em que atinge o alvo.

Só aquilo que for simultaneamente condenatório e verdadeiro é que deve ser autorizado a abalar a nossa auto-estima. Quem souber, em plena consciência, que não merece reprovação pode e deve encará-la com desprezo.

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terça-feira, 16 de setembro de 2008

Investigador da Universidade do Algarve distinguido com prémio Erwin Schrödinger 2008


O Prof. Matthias Futschik, do Centro de Biomedicina Molecular e Estrutural (CBME) da UAlg, recebeu, no passado dia 11 de Setembro, em Berlim, o prémio Erwin Schrödinger 2008.

A Helmholtz Association of German Research Centres, uma das maiores sociedades científicas da Europa, reconheceu assim o mérito do trabalho desenvolvido pela equipa de investigadores da qual o alemão Matthias Futschik faz parte, que culminou na criação de um modelo único, capaz de mostrar, pela primeira vez, como interagem milhares de proteínas humanas.

Um dos investigadores do grupo que conseguiu desenhar o primeiro mapa da interacção de proteínas em humanos, e que desde o início de Setembro está a desenvolver a sua investigação na UAlg, foi distinguido na passada semana, a 11 de Setembro, com o prémio Erwin Schrödinger 2008. A cerimónia decorreu em Berlim, na Alemanha, durante a assembleia-geral da Helmholtz Association of German Research Centres, entidade que atribui anualmente este prémio e que integra 15 centros de investigação, constituindo-se como a maior organização científica da Alemanha.

A equipa do Prof. Matthias Futshik, liderada pelo Prof. Erich E. Wanker, do Max Delbrück Center for Molecular Medicine, sediado em Berlim, foi distinguida por ter desenvolvido, pela primeira vez em humanos, um mapa das interacções entre proteínas, projecto que abre novas possibilidades no que toca ao tratamento de, por exemplo, doenças neurológicas.

O grupo de investigadores, no qual se inclui o alemão Matthias Futschik, estudou a interacção entre as proteínas que compõem o corpo humano, realizando mais de 25 milhões de experiências individuais, com o objectivo de perceber se proteínas específicas interagem entre si. Foi desta forma que a equipa criou um mapa que mostra 3200 interacções entre 1700 proteínas humanas. Os investigadores foram ainda capazes de identificar 195 proteínas e respectivos parceiros, associando estas relações a diferentes patologias.

De acordo com Matthias Futschik – contratado pela UAlg ao abrigo do programa Ciência 2007 e que nos próximos 5 anos vai desenvolver o seu trabalho no CBME, centro de investigação da UAlg integrado no laboratório associado Instituto de Biotecnologia e Bioengenharia (IBB) –, o estudo da interacção entre proteínas permite conhecer melhor os mecanismos de algumas doenças, o que é essencial para desenvolver novos fármacos.

Do ponto de vista do investigador, este primeiro mapa "abre novas possibilidades na busca da cura para doenças como Parkinson, Alzheimer, ou a doença de Huntington, mais rara, mas que nos suscita particular interesse, uma vez que é causada pela mutação de um único gene".

O objectivo do trabalho que Futschik tem realizado em torno da doença de Huntington é tentar “desenvolver caminhos que indirectamente possam curar a doença", sendo que a estratégia passa por influenciar indirectamente uma proteína através de outras proteínas "suas parceiras", conclui.

Mais informação disponível no site oficial da Helmholtz Association of German Research Centres, em http://www.helmholtz.de/


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sexta-feira, 12 de setembro de 2008

A rainha que veio do gelo


Perante a crise no Cáucaso, a candidata à vice-presidência Norte Americana considera viável a hipótese da OTAN (NATO) declarar guerra à Rússia num eventual cenário de conflito entre o herdeiro do império soviético e os países da sua tradicional esfera de influência, como a Ucrânia e a Geórgia, no caso destes pertencerem à NATO.

Primarismo de análise política à parte, é certo que os Estados signatários da OTAN (NATO) estão vinculados à defesa de qualquer um dos seus aliados caso este seja atacado por um inimigo exterior.

Não é este o caso da Geórgia acerca do diferendo que a opõe à Rússia relativamente à Ossétia do Sul (ou tão pouco à abkhazia), ou seja: nem a Geórgia foi primeiro atacada - mas antes invadiu um território que considera ser parte integrante da nação georgiana (assim como a Sérvia considerava o kosovo)- assim como não faz parte da OTAN (NATO); e se fizesse, o tratado não visa apoiar agressões dos seus membros a outros países mas sim garantir a defesa dos subscritores do tratado perante ataques externos, pelo que nenhum membro estaria obrigado a acudir a uma reacção como foi a da Rússia perante a inicial ofensiva georgiana.

Ora é precisamente segundo o princípio de defesa mútua em caso de agressão exterior que não se justificou a presença de forças da NATO no Iraque, apesar dos aliados europeus terem caído na armadilha de enviá-las para o Afeganistão e para território ex-jugoslavo.

O Kosovo foi a caixa de Pandora que a diplomacia Americana abriu, na cegueira expansionista (político-económica) para a qual arrastou os Aliados. Deste precedente decorre a fragilidade do Direito Internacional quanto ao respeito e à reposição dos direitos de independência e de integridade territorial, por exemplo, da Geórgia; isto para não falar do Curdistão, do Tibete, de vários conflitos fronteiriços ou até mesmo das pretensões independentistas das regiões autonómicas espanholas e portuguesas. Daqui se compreende (e muito bem) a relutância Ibérica em resistir ao reconhecimento da independência kosovar.

Ora, depois de tanta trapalhada na política internacional da superpotência, não bastou que a candidata perdedora dos Democratas tivesse ameaçado obliterar o Irão; agora surge a ambiciosa Rainha do Gelo, autêntico ícone para a extrema-direita americana (e não só), a lançar uma semente para o Armagedão. Isto não é de admirar, já que a própria criatura é criacionista e acredita que o fim do mundo está para breve. Já aqui falei acerca da psicopatia na vida política, pelo que não me irei repetir.

Perante a viabilidade deste futuro assustador, arrisco dizer que a actual Presidência e o seu grupo neoconservador (que fez as guerras Pós-11 de Setembro) poderão, paradoxalmente, vir a deixar saudades. Isto, claro está, no caso de Obama perder as eleições.

São dias tenebrosos, estes que vivemos.

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quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Carta a um amigo homossexual





Caríssimo:

Já sabes o que digo sempre: a depressão é uma tomada de consciência quase sempre dolorosa mas que tem como objectivo a mudança (de atitudes, de comportamentos, de sentimentos e de percepção das coisas acerca de nós mesmos e dos outros e do mundo à nossa volta); pois não é que se as coisas estiverem bem connosco não temos muito em que pensar mudar?

A orientação sexual é um caminho pessoal e não é tão linear e rectilíneo como se apregoa por aí. Já lá diz o ditado: públicas virtudes, vícios privados. Mas não penses que com isto quero dizer que a homossexualidade, tal como a heterossexualidade ou a bissexualidade sejam um vício. Não, a concepção de vício é puramente moral, muito especialmente aquela de cariz religioso que influenciou em muito os julgamentos sociais acerca dos costumes individuais, por exemplo.

Nós, os Psis, sabemos que na realidade existem fronteiras muito difusas entre as orientações sexuais e que as coisas não são tão absolutas como a moral judaico-cristão (ou muçulmana, já agora) quer fazer acreditar.

Na verdade, às escondidas dos olhares públicos - por esses palheiros do interior, pelas matas nacionais a fora, nas dunas das nossas praias (que são como divãs, biombos indiscretos, como cantam os GNR), nos jardins públicos, nos balneários das piscinas, das saunas e dos ginásios da moda, nas cabines dos camionistas que param nas bermas dos pinhais para “descansar”, nas casas de banho públicas dos centros comerciais, das auto-estradas e das estações de comboios, nos hotéis e pensões de águas correntes a preços módicos ou em grandes vivendas de aparência respeitável - passam-se cenas tórridas e muito escaldantes entre pais de família com pais de família, entre mães e pais de famílias diferentes, entre mães de família, entre patrões e colaboradores ou entre colegas de trabalho, entre hetero “passivos” e bi “curiosos” ou entre 2, 3, 5, 6 ou mais pessoas na mesma cama, etc.

Enfim, nada de novo, os gregos, os romanos, os persas e muitos outros reflectiram profusamente sobre isso (até porque tinham grande experiência além do conhecimento de causa).

Hoje em dia - depois de um período recente relativamente que tem sido abundante no debate sobre a temática antecedido por outras anteriores épocas de censura total - não se fala muito mais sobre a realidade desta temática pelas mais variadas razões. Pessoalmente, nem sei se se deveria esgotar o tema, sinceramente, pois a intimidade sexual adulta pertence a uma mesma esfera de maior dimensão – a esfera da intimidade pessoal.

Para mim, o que importa na realidade é que cada pessoa adulta se sinta bem consigo mesma na relação íntima com os outros adultos e que forme inclusive relações afectivas profundas mais ou menos prolongadas mas equilibrantes (com partilha de afectos, emoções, experiências, cumplicidades, enfim, das coisas da vida), tudo dependendo da qualidade da relação entre as pessoas envolvidas e daquilo que procuram obter.

Além de tudo, importa também não esquecer que qualquer que seja a orientação sexual das pessoas envolvidas num relacionamento, encontrar a pessoa “certa” (para aqueles que isso procuram) nem sempre é fácil, pelo contrário.
O que é mais provável é existirem “pessoas certas” para certos momentos mais ou menos prolongados (alguns até são muito longos – por exemplo uniões ou matrimónios de 30, 40 ou mais anos), mas que muitos outros momentos relacionais (tanto para os hetero, homo ou bissexuais) são muito mais curtos apesar de intensos – as chamadas “paixões”; no extremo destas últimas existem ainda os acting-out fulminantes, de cariz pré-psicótico, a que se chamam “engates”.

Mas nada disto, se olharmos com distanciamento, é mais do que uma procura pessoal da felicidade a que cada ser humano tem direito. Com muitos erros à mistura.

Quanto à chamada Moral Social, é claro que existe ainda uma evidente descriminação das pessoas que são diferentes da maioria, em especial em meios pequenos e fechados à mudança ou em ambientes plenos de hipocrisia onde convém a existência de bodes-expiatórios; por mais leis que se façam isso será muito difícil de combater em uma ou em duas gerações. A mudança da consciência social depende da educação e da inteligência emocional dos povos, e nesse aspecto não podemos dizer que Portugal seja particularmente avançado.

A salvaguarda do embaraço ou do vexame público daqueles que legitimamente querem exercer o direito à felicidade pessoal minoritária, por agora, não pode ser alcançado a não ser através de uma atitude de low profile e de muita descrição acerca da vida íntima e pessoal.

Os americanos chamam à atitude de reserva pública da vida íntima sexual a politica don't ask, don't tell. Os portugueses, são mestres nisso, no jogo do faz-de-conta (nós não temos ainda um nome específico para essa atitude lusitana do jogo social “não-queremos-acreditar-que-seja-verdade-que-o-meu-menino-não-me-vai-dar-netos” ou “faz-de-conta-que-não-sabemos-o-que-está-na-cara-de-toda-gente”); talvez se lhe possa chamar a “politica portuguesa se-não-vejo-não-existe”, preferindo a plebe arriscar até em grandes e caríssimos casamentos de fachada que se prolongam durante algum tempo com muito álcool, antidepressivos e pancadaria à mistura, tudo para anestesiar a angústia e as dores da tomada de consciência das verdades às quais se fecharam os olhos…

Para mim, essa suposta normalidade das coisas é uma pura negação social – esse poderoso mecanismo de defesa do ego, alargado colectivamente, quando existe um sentimento de ameaça da estabilidade e da coesão do que está pré-concebido como supostamente equilibrante.

Mas claro está, cada pessoa tem o seu ritmo de tomada de consciência e o direito a dar muitas cabeçadas até aprender a dar valor ao que realmente interessa na vida, i. é o bem-estar latus sensu.

Por isso, meu caro amigo, não te sintas diferente porque na realidade não o és, sejas tu homossexual, bissexual ou heterossexual. És humano, tão-somente isso.

Para mim és um amigo que respeito, é-me indiferente que não gostes de azul, que Bach te faça dormir ou que comas tofu como se o mundo acabasse amanhã. Até podes gostar mais do Ken do que da Barbie, nada disso interfere com a minha percepção sobre a totalidade da tua pessoa, que identifico como honrada e digna.

Portanto, qualquer que seja a escolha do caminho da tua vida, penso que importa mesmo é que sejas feliz, de preferência muitas vezes e durante longos períodos de tempo, com respeito pelos direitos alheios como aquele que desejas que tenham por ti próprio. Isso requer auto-consciência e serenidade, total sinceridade para contigo mesmo e um espírito crítico e pouco iludido sobre a natureza das pessoas (mas sobre as ilusões envolvidas nas relações entre humanos fica a conversa para outro dia).

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