domingo, 27 de dezembro de 2009

A moda do empratamento ou a tradicional Travessa?




A propósito de uma potencialmente saborosa prenda de Natal que recebi - uma refeição no famoso Restaurante Tavares - faço hoje uma postagem que não desmerece essa futura experiência como excepção à regra mas que me afasta desta moda contemporânea do empratamento.

Assumo: como apreciador da boa gastronomia e até mesmo como aprendiz de feiticeiro das artes mágicas culinárias, por regra, eu prefiro a tradicional travessa. Só excepcionalmente numa experimentação gastronómica de texturas, aromas e sabores, tolero a apresentação por empratamento.

Por isso, transcrevo aqui uma passagem do Miguel Esteves Cardoso que traduz com graça uma aversão semelhante.

"Se há coisa que abomino é esta prática de levar com tudo já empratado. Os chefes contemporâneos deliciam-se a empratar cada criação de maneira igual, com as mesmísssimas quantidades e disposições, obrigando-nos a suportar a estética duvidosa e pseudo-artística que os anima.

Para mais, é sempre o mesmo prato gigante, com a mesma monótona lógica dos ponteiros do relógio, as torrezinhas dos ingredientes já determinadas; os mesmíssimos esguichos ridículos de molhos; as lâminas atravessadas de cebolinho; os salpicos pirosos de ervilhas e sei lá que mais.


(...)Nos restaurantes de vanguarda, são os próprios empregados que transmitem as instruções do chefe acerca da ordem e da maneira correcta de comer o metafórico prato: «Primeiro dá uma trinca no gelado de carapau; depois mistura uma colher de espuma de escabeche na boca; dá um golo deste vinho e, quando estiver prestes a engolir, levante a cabeça que dar-lhe-ei uma bombada de maresia de ostras no focinho.»

É caso para telefonar imediatamente para a Liga Anti-Nazi. Hoje em dia, com a insuportável prepotência dos novos chefes, a margem de liberdade do pobre almoçador regressou aos níveis de autonomia que tínhamos com três anos de idade."

in , Em Portugal Não se Come mal, Miguel Esteves Cardoso, 2008, Assírio & Alvim.

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segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Ágora



Fui ver esta produção espanhola e fiquei surpreendido pela positiva.

Também me fez pensar, uma vez mais, que os Homens constituem uma espécie dita racional mas de facto pouco permeável à compreensão de perspectivas divergentes e resistente à tolerância das diferenças.

Imersos por milénios de Cristianismo, Judaísmo e Islamismo aparentam bom senso e fraternidade mas persistem sendo emotivos, egoístas e cruéis. Tal como os calhaus submersos são estanques à água, apesar de molhados por fora pelo evoluir da civilização, permanecem duros e secos por dentro.

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quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Debates há muitos, a honestidade democrática é que rareia


A propósito de um anúncio de um suposto debate na Universidade do Algarve intitulado

«Capelania da UAlg promove debate sobre Casamento entre pessoas do mesmo sexo

Hoje, pelas 18h00, a Capelania da Universidade do Algarve, em colaboração com a Plataforma Algarve pela Vida, realiza um colóquio subordinado ao tema «Casamento entre pessoas do mesmo sexo: referendo e problemática». O evento decorre no anfiteatro Teresa Júdice Gamito, no Campus de Gambelas.

O tema, de grande actualidade, terá como oradores Jorge Bacelar Gouveia, professor catedrático da Universidade Nova de Lisboa, e Luís Seabra Galante, advogado especialista em direito matrimonial-canónico, radicado há já muitos anos no Algarve.»



Comentário adicional de um Social-Democrata, Cristão e Académico:

- Debater, com honestidade intelectual e equilíbrio entre as partes é saudável. Defendo sempre esse princípio. No entanto, organizar uma reunião para debater temas complexos com oradores parciais, sobre o patrocínio de organizações radicais que têm objectivos ideológicos bem definidos e fundamentalmente contrários ao que é anunciado, não é honesto e muito menos me parece um gesto democrático.

Não me surpreende que a Capelania da Universidade do Algarve, organização da Igreja Católica Apostólica Romana, patrocine um suposto debate deste género, que na verdade mais não é uma tentativa reaccionária de promover apoios para um Referendo (intrusivo das liberdades individuais) que visa objectivamente a recusa do reconhecimento de direitos de liberdade e de cidadania entre adultos que consentem; nem me surpreende igualmente que a "Plataforma Algarve Pela Vida" continue a sua egocêntrica, frustrante e radical acção de intromissão no Direitos dos outros que não pensam nem agem tal qual como eles, tal como já fizeram no referendo sobre a IVG.

O que surpreende é que uma Instituição Pública como a Universidade do Algarve patrocine ou apoie uma acção política conservadora e de direita radical, despudoradamente falsa e manipuladora porque assenta sobre pressupostos desde logo enganosos.

Um debate pressupõe equilíbrio no contraditório e não a parcialidade descarada dos debatentes, ainda por cima quando esse suposto debate mais não é do que um quase comício para a recolha de apoios que permitam a viabilização de um referendo sobre um tema que, tendo pertencido já a programas eleitorais entretanto sufragados nas últimas eleições, será em breve legitimamente votado no local próprio - a Assembleia da República.

Apoiar um embuste é uma vergonha para qualquer cientista ou para um democrata que se preze e eu lamento profundamente que tal assim tenha ocorrido nas instalações da Universidade do Algarve.

A Universidade do Algarve, tal qual já antes elegeu de facto representantes aos seus orgãos máximos por via de um plebiscito sobre uma lista única (isso sucedeu na eleição dos representantes dos funcionários ao Conselho Geral da Universidade), parece estar vezes demais alheia ou desatenta aos mecanismos básicos da Democracia que ocorrem na sua própria casa. E quando as elites, elas próprias, transgridem ou permitem que tal aconteça e até mesmo ignoram o que é essencial não é de admirar que tais práticas possam vir a ser impunemente generalizadas como acção comum na restante sociedade, mais cedo ou mais tarde.

Pela gravidade do acima exposto, peço desde já perdão às gerações futuras.


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quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

A Toscânia Lusitana



Uma viagem pelo Alto Alentejo a partir de Évora, pode ser uma experiência repetível sem se tornar monótona.

Desta vez, a partir de Évora, fomos até à inexpugnável Marvão, explorámos as trágicas ruínas do Castelo da Juromenha, deambulámos por Elvas, Alandroal, Alvito, Campo Maior, Avis e Estremoz.

Visitámos a Coudelaria de Alter e o Fluviário de Mora; a primeira é merecedora de uma estada demorada, o segundo mais adequado para regressar com os petizes.

Uma viagem pelos Castelos de encantar de Vilas e Cidades fortificadas no alto de colinas e montes vigilantes sobre terras a perder de vista, paisagens coloridas por magníficas tonalidades outonais.

Um guloso roteiro gastronómico regado com vinhos encorpados e sublimes. Este Alto Alentejo é uma pérola por redescobrir sempre. É a nossa Toscânia Lusitana.

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quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Sir Norman Fry Public Appology



Quantos Sir Norman Fry temos no parlamento português?
O que fundamenta o seu sentido de voto? A coerência? A ética? A moral? A hipocrisia? O vazio de ideais? Não interessa. Interessa é que o humor inglês é superior, de facto.

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terça-feira, 24 de novembro de 2009

O que se diz acerca do Clube Bilderberg ?




Existe um clube formado pelas maiores fortunas e por personalidades poderosas do planeta, cujas reuniões anuais, bem longe dos olhos da multidão, pretendem influenciam os grandes acontecimentos do planeta.

Existem também disponíveis várias publicações e relatos que sugerem que este clube tanto promoveu a ascensão dos Beatles e da lucrativa indústria da música pop em geral, como agiu com firmeza para definir o resultado das eleições norte-americanas que elegeram o Presidente George Bush.

A revisão da literatura existente permite ainda identificar fontes que referem que o comércio internacional de drogas e de armas (que levou quase uma década para desvendar) ou a história real por trás da crise Watergate que retirou do poder um presidente eleito legitimamente ou a verdade da tentativa de assassinato do papa João Paulo II ou até mesmo a repentina morte do seu antecessor, o Papa João Paulo I, são acontecimentos reescritos para a história pública por directa influência daquela associação restrita.

A organização Clube Bilderberg, fomentada há 52 anos pelo Príncipe Bernard da Holanda, existe de facto. Isso é incontestável. Nela constam os presidentes dos EUA vivos, os dirigentes das multinacionais Coca-Cola e Ford, do Banco Mundial, do FMI, da NATO, da OMC, da ONU, diversos primeiros-ministros, representantes de várias casas reais europeias e dos mais influentes meios de comunicação; inclui nomes como Henry Kissinger, Rockefeller e Rotschild, além de outros nomes da alta finança e do poder secular, entre os quais se incluem políticos em ascensão (ou que poderão vir a ser peças-chave para a estratégia bilderbergeriana).

Parece tratar-se de uma sociedade semi-secreta, aristocrática e global, que ambiciona orientar não só os governos mais poderosos do mundo mas também influenciar os rumos de todos os sectores da vida sobre a Terra. Os indivíduos do Grupo Bilderberg são um grupo de pessoas poderosas que se reúnem uma vez por ano, sob a protecção de membros da CIA, da Mossad, do MI6 britânico e de empresas de segurança da mais alta competência.

A estratégia de contra-informação que envolve a sua segurança dá azo às mais disparatadas hipóteses, incluindo as que confundem os Bilderbergers com os Illuminati ou a que postulam que os antecessores dos Bilderbergers foram os autores do Priorado de Sião e outras dislates do género literário. De facto, analisando as listas de participantes nas reuniões do clube, a composição desta sociedade é bem mais simples, sendo constituída por uma rede de poderosos interesses comerciais, bancários e políticos.

A sua estrutura parece muito semelhante ao modelo oligárquico financeiro da Veneza medieval conhecido como “fondi”, tal como o foram as Companhias Britânicas e Holandesas, antecessoras do Clube dos 300 e do Clube de Bilderberger. Entre os autores que estudam este tema, é unânime a opinião de que o objectivo final desta estrutura é a consubstanciação de uma sociedade pós-industrial de matriz sinarquista.

(Nota extra n.º 1: O vocábulo “sinarquismo” é usado para definir um novo conceito de alianças políticas numa irmandade internacional constituída por financeiros e industriais através da união de socialistas e anarquistas baseados em princípios fascistas. De acordo com as informações altamente secretas de 18 páginas da secreta militar francesa recentemente desclassificada, um resumo de um dossier com cem páginas sobre os grupos sinarquistas franceses, datado de Julho de 1941, esclarece: “o objectivo do movimento sinarquista é essencialmente derrotar todo país onde existam regimes parlamentares considerados insuficientemente dedicados aos interesses desses grupos e, portanto, difíceis demais de controlar devido ao número de pessoas requeridas para tal fim”.).

Portanto, a opinião comummente aceite entre vários autores, é que a intenção subjacente a todo e qualquer encontro regular do Clube Bilderberger tem sido a de fomentar uma “aristocracia de proposta sinarquista” entre a Europa e os EUA, com o intuito de alcançar um acordo mútuo em questões de política, de economia e estratégia para, em conjunto, influenciar directa e indirectamente as políticas dos governos.

A ideologia subjacente aos Bilderbergers não é nova e pode ser facilmente detectada ao longo da história da Humanidade. Tal como os romanos, outros povos tentaram, em vão, criar sua própria versão de um governo mundial; os persas ou os mongóis, à sua escala, também enveredaram por aquela via. Muitos outros o ambicionaram sem conseguir alcançar tal objectivo à escala global.

No entanto, se é verdade que os romanos instituíram o Império Romano, também é um facto que o seu grau de conhecimentos científicos não lhes permitiu a tecnologia e os meios para influenciar a população mundial à sua vontade. Com o advento da era digital e da globalização, estão hoje em dia bem mais reunidas as condições, os conhecimentos e os meios necessários à implementação de um governo mundial de facto.

Dizem ainda várias teorias que os Bilderbergers, entre outras organizações supranacionais que com este grupo estão interligadas, tentam expandir a sua concepção de Companhia Mundial em que todos, dos governos às pessoas estarão, sem se darem conta disso, sob influência daqueles. Deste raciocínio resulta a opinião de que, por detrás de algumas mortes “inexplicáveis”, assassinatos políticos, atentados chocantes, invasões militares, manutenção de guerras, pandemias, tratados políticos paradoxais, crises económicas e financeiras, campanhas de desinformação e contra-informação e outros factos estranhos ou bizarros, oculta-se algo muito maior e cada vez mais difícil de ignorar: a gradual implementação de um Governo Mundial Único.

A ONU, tal como o FMI, a OMC, o NAFTA, o Tribunal Internacional de Haia, a UE, OCDE – entre muitos outros – são assim considerados por alguns daqueles teóricos como sendo instrumentos de facto implementados mundialmente para que, sob sua influência, vários governos e nações não controlem totalmente os seus próprios destinos.

Também são comuns as opiniões de teóricos que vêem certas organizações supranacionais (por exemplo a NATO e a ONU) como instrumentos essenciais à legitimação de operações militares adequadas aos planos político-económicos de guerra continuada, na qual se incluem inclusivamente a chantagem nuclear.

Em última análise, aquele projecto global do Clube Bilderberg incluiria assim um só exército, um só sistema jurídico, além de sistemas económico e educacionais estandardizados.

Um tal desígnio teria como via a aplicação dos mais recentes meios de comunicação massificada e também de sofisticados métodos psicológicos já anteriormente experimentados e estrategicamente aplicados, inclusive os que concernem à generalização do consumo/tráfico de drogas e ao aparecimento da cultura de massas e do consumismo, entre outros acontecimentos marcantes para o século XX.

(Nota-extra 2: Exemplo pioneiro da globalização foi a massificação da música popular ou pop music. Não alheio a este fenómeno esteve o Instituto Tavistock que conceptualizou o novo conceito pop, designando-o como uma “mudança de paradigma” da sociedade.

Recordemo-nos que no início dos anos 60 os Beatles, não eram mais do que uma banda de música de clubes nocturnos; o advento de uma rebelião juvenil, aparentemente espontânea contra o antigo sistema social em vigor até aos anos 60 foi amplamente estudado como uma “Experiência de Massas Sobre Condicionamento Cultural na Sociedade Contemporânea”. Esta experiência maciça foi levada a cabo por eméritos cientistas do Instituto Tavistock, uma instituição pioneira na investigação aprofundada acerca da modelação psicológica, moral, espiritual, cultural, político e económico do Ocidente.

Naquela experimentação de controlo da população foi permitido o uso de drogas psicodélicas/psicotrópicas e de métodos de manipulação modelada da vontade (o marketing publicitário é um dos exemplos mais populares) que se revelaram altamente eficazes na alteração do estado de consciência das mentes e dos hábitos de vida, inclusive os de consumo económico. Daqui também resultaram dados cruciais bem como novas informações sobre os mecanismos de condicionamento do comportamento humano através da rádio, da televisão e outros meios tecnológicos de comunicação, utilizados para a manipulação das populações, aos quais hoje em dia podemos acrescentar a Internet.).

Na complexidade do mundo civilizado a realidade pode ser múltipla e ultrapassar a própria ficção.
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quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Sarabande, numa versão quase pop-metal



Não sei se Handel aprovaria esta orquestração do tema Sarabande (Suite no. 4 em Fá menor, HWV 437). Nem sei se estará a dar voltas no túmulo ou se hoje em dia, se fosse vivo, faria uma orquestração semelhante perante a enorme influência do consumismo no panorama criativo. Mas lá que esta versão moderna é reveladora que a música erudita pode ter muitos epítetos menos o de ser "clássica", lá isso é difícil negar.

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segunda-feira, 2 de novembro de 2009

António Sérgio


Morreu anteontem à noite, dia 31 de Outubro de 2009, o radialista António Sérgio, vítima de doença cardíaca.

Foi o último grande radialista português vivo, um mestre da rádio, autor de programas de referência que marcaram gerações, ao longo de 40 anos, tais como: "Som da Frente", "Lança-Chamas" ou "A Hora do Lobo".

Um Homem que inspirou o mainstream da rádio nacional e por este foi, injusta e imoralmente, subvalorizado e negligenciado.

R.I.P.

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quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Franco em 1940 decidiu preparar a invasão de Portugal


Eis uma notícia publicada no Jornal Público de 23 de Outubro e hoje republicada no jornal "i" por Patrícia Silva Alves.
Transcrevo o artigo mais recente porque confirma um assunto sobre o qual já havia postado aqui a minha opinião, baseado em alguns dados até ao momento existentes e que agora são inequívocamente reconfirmados.

« O Plano de Campanha n.º 1 (34) esteve 70 anos em segredo. Em 2005, Manuel Ros Agudo encontrou a prova de que o general espanhol queria conquistar Portugal :

Francisco Franco, o General que liderou Espanha com punho de ferro entre 1939 e 1975, planeou invadir Portugal durante a Segunda Guerra Mundial.

A intenção estratégica é confirmada por documentos que estiveram em segredo durante 70 anos e que o investigador Manuel Ros Agudo encontrou nos arquivos da Fundação Francisco Franco, em 2005.

O professor da Universidade de San Pablo, em Madrid, foi o primeiro a ler a frase escrita num documento produzido pelo estado-maior espanhol a pedido de Franco em 1940: "Decidi preparar a invasão de Portugal, com o objectivo de ocupar Lisboa e o resto da costa portuguesa". Era o Plano de Campanha n.o 1 (34), um documento com a classificação de ultra- -secreto revelado na conferência "A Península Ibérica na Segunda Guerra Mundial - Os planos de invasão e defesa de Portugal", do Instituto de Defesa Nacional (IDN).

O plano mostra que o Generalíssimo Franco tinha projectos expansionistas, apesar de não ter entrado na Segunda Guerra Mundial. Para os portugueses, é a confirmação de que as boas relações diplomáticas valiam sobretudo no papel.

O tratado de amizade e não agressão entre Portugal e Espanha tinha sido assinado em Março de 1939, mas em 1940 já Franco tinha o plano de campanha nas mãos.

António Telo, presidente do IDN, garante que se o plano fosse em frente Portugal sucumbiria: "Não tínhamos capacidade para nos defendermos, nem planos de ataque credíveis. Espanha tinha aumentado o seu arsenal na Guerra Civil e a Alemanha e a Itália tinham-na armado com tecnologia moderna de guerra."
À falta de meios somava-se a falta do apoio britânico, apesar da aliança entre Lisboa e Londres. "Inglaterra tinha outras prioridades. No máximo, os ingleses ajudavam-nos a ir para os Açores", defende o director do IDN.

Esse era o plano português, delineado para um eventual ataque espanhol: transferir os órgãos de soberania para o arquipélago.

Manuel Ros Agudo, professor de História Contemporânea, pensa que Salazar nunca soube das intenções do generalíssimo: "Era um documento secreto. Apenas Franco, o ministro da Defesa, o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas e os gráficos sabiam da sua existência."

Que futuro para Portugal?

Para Ros Agudo, ou os portugueses aceitavam o ocupante ou Portugal teria um governo marioneta temporário: "No caso de haver resistência e descontentamento, estou convencido de que Franco arranjava um governo de acordo. Não forçava a integração e poderia mesmo dar depois a independência a Portugal." O historiador espanhol admite que a invasão seria uma acção preventiva, para Espanha ganhar vantagem sobre um eventual avanço britânico na Península Ibérica.

O historiador Fernando Rosas, também presente na conferência, lembra que a principal operação para Franco seria a tomada de Gibraltar. E a entrada em Portugal era a tentativa de "remediar um erro". "Espanha chamava assim a parte que lhe competia, completando um velho desiderato das elites espanholas", que passava por retomar o poder em Portugal, perdido em 1640.

Os entraves dos planos aos actos, faltou a Franco a aprovação das forças do Eixo (Alemanha/Itália): invadir Portugal significava declarar guerra a Inglaterra e, após sete horas de conversa entre Franco e Hitler, em Hendaya, em 1940, o Führer não ficou convencido. "Era uma utopia que não se podia concretizar e Franco não arriscou", justifica Ros Agudo.

Mesmo que Franco planeasse a invasão à revelia do Eixo, Espanha ainda se debatia com dificuldades económicas e falta de preparação militar para os cinco anos que a invasão iria exigir. Precisaria sempre do apoio alemão e italiano, sobretudo se o Reino Unido reforçasse as fileiras lusas.

A cúpula espanhola considerava mesmo que a existência de Portugal não fazia sentido, como provam os registos de uma conversa entre ministros dos Negócios Estrangeiros de Espanha e da Alemanha em Setembro de 1940:

- "Ninguém pode deixar de dar conta ao olhar para o mapa da Europa que, geograficamente falando, Portugal na realidade não tem o direito de existir. Tem apenas uma justificação moral e política para a sua independência pelos seus quase 800 anos de existência", referia Serrano Suñer ao homólogo Joachim von Ribbentrop, revela Ros Agudo. "Serrano só dizia o que Franco queria que se soubesse", lembra o Historiador.

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segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Portugal está na linha da frente no acolhimento de cidadãos estrangeiros




As Nações Unidas consideram que Portugal está actualmente na vanguarda no acolhimento de imigrantes. É dos países, que cediam sobretudo mão-de-obra ao estrangeiro, que melhor se soube adaptar à transformação ocorrida nos últimos anos, tornando-se em pátria de acolhimento.

No relatório sobre o Índice de Desenvolvimento Humano, publicado este ano, a ONU dá destaque às migrações e, entre estes elogios, aponta também para um claro aumento no número de imigrantes que virão trabalhar para Portugal.

Em 2005, eram mais de 763 mil. No próximo ano de 2010 Portugal vai ter quase 920 mil imigrantes. A estimativa é das Nações Unidas que elogia a forma como Portugal acolhe os cidadãos estrangeiros.

Em contrapartida, como destino, três em cada cinco portugueses que saem do país escolhem emigrar para a Europa, sendo a América do Norte, o segundo destino mais procurado pelos emigrantes portugueses.

O Relatório de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas revela ainda que em todo o mundo, a maioria dos migrantes desloca-se dentro das próprias fronteiras. Há quase quatro vezes mais pessoas a mudarem-se dentro do próprio país do que para o estrangeiro.

Os mais pobres têm mais riscos, mas também mais benefícios na migração. Entre os benefícios, os rendimentos aumentam em média, 15 vezes mais, a mortalidade infantil cai para valores 16 vezes mais baixos. Entre os riscos, contam-se as despesas financeiras, o risco de exploração, abuso e encarceramento sobretudo dos imigrantes clandestinos.

Para melhorar as condições dos migrantes, a ONU apresenta um pacote de seis reformas: abrir os canais para mais trabalhadores, sobretudo os menos qualificados; garantir serviços básicos como a educação e os serviços médicos; baixar as despesas da migração; facilitar a migração interna; encontrar soluções benéficas para os migrantes e as comunidades de destino e por último, fazer da migração uma área estratégica.

O relatório anual das Nações Unidas sobre o Índice de Desenvolvimento Humano avalia o bem estar das pessoas e este ano Portugal caiu um lugar no ranking ocupando agora a posição
n.º 34, mas surge incluído no grupo de países com o índice de desenvolvimento mais elevado.


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domingo, 11 de outubro de 2009

The Winner Takes It All



Duas pessoas apaixonam-se. Criam expectativas, fazem planos de futuro, promessas de amor eterno. Vivem dias bons, outros assim-assim e dias maus. A névoa da ilusão dissipa-se pouco a pouco, a paixão esvai-se por entre crescentes mal-entendidos disfarçados de compreensão. O diálogo não as aproxima, instalam-se dúvidas e sentimentos contraditórios. A frustração cresce, às vezes mais num no que noutro. Um dia, um dos dois toma uma decisão e age contra ambos. Faz um gesto radical, diz algo proibido que quebra o elo comum. Dessa agressão à união emerge a ruptura iminente. Há resistência, até negação mas acontece. Surge a tristeza, a desilusão, a revolta, uma tempestade de sentimentos agitadores. Separados, cada um faz o luto da perda por caminhos mais ou menos longos, mais ou menos saudáveis, entre um campo de batalha muitas vezes com destruição afectiva e feridas emocionais. Ficam memórias, perdem-se recordações, reconstroem-se narrativas, saram-se as feridas no ego. Este ciclo geralmente recomeça e repete-se quando não se aprende e se corrige padrões de funcionamento anteriores.

É um percurso comum, com o qual milhões de pessoas se podem identificar. Estas vivências sentimentais, estas histórias vulgares – sejam de paixão sensual, de amarga desilusão, ou outras exaltações emocionais – porque são património comum da humanidade foram, desde sempre na história humana, contadas por prosa, verso e pela música. Foi a contemporânea sociedade de consumo que as massificou por via da indústria POP. E este esquema lírico de promoção à identificação projectiva de um património emocional comum às pessoas, neste caso aos potenciais consumidores, tendo sido usado com sucesso por muitos outros artistas (músicos, pintores, escritores, etc.) foi muito bem aplicado pelos ABBA, há que reconhecer, quer se goste ou não do género.

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terça-feira, 29 de setembro de 2009

A campanha eleitoral vai prosseguir ...




O Presidente da República fez hoje uma comunicação ao País.

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Ou muito me engano ou esta grave e insólita declaração do Presidente da República significa que a dissolução da Assembleia da República será efectuada bem mais cedo do que se pensa, talvez em menos de um ano ou pouco mais.
Se assim for, de seguida vamos assistir a um florentino período governativo, que será menos do que um exercício de bom Governo mas mais uma nova agenda politico-partidária de pré-campanha eleitoral para novas Legislativas.
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quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Ver a encenação para além das palavras ditas


Apesar do enjoo que vou começando a sentir cada vez que ouço a generalidade da propaganda política para as eleições que se avizinham, tem sido interessante e até divertido observar o comportamento dos candidatos e das respectivas entourages.

Durante os debates entre os candidatos dos partidos supostamente mais elegíveis, foi um verdadeiro maná humorístico desconstruir a coerência e as contradições entre o discursos e a linguagem corporal, mesmo quando se denota que aqueles e esta foram previamente estudados ou são fruto de uma tentativa de controlo da realidade ou resultado de uma longa experiência de intrujices bem sucedidas ao longo de uma bem sucedida actividade política.

A postura corporal dos candidatos fala por si apesar do esforço, nem sempre bem sucedido, na emissão de mensagens que conquistem eleitorado (mesmo sabendo ambos, no seu íntimo, que aquelas são muitas vezes ilusórias ou demagógicas): os braços cruzados, o olhar desviado para cima ou para baixo, a rotação da face em momentos cruciais, a colocação das mão e dos braços, a hesitação na linguagem, os actos falhados no conteúdo do discurso, uma mãozinha distraída que toca no nariz, um ligeiramente queixo afagado, uns lábios bem apertados, uma boquinha entreaberta, um esgar de sorriso que escapa ou o excesso teatral dos sorrisos falsos ou das expressões de duvidoso espanto ou exagerada indignação e muitos outros sinais de comunicação verbal significativos, sobre os quais pouco mais direi porque não convém entregar o ouro ao bandido … apenas digo que olhemos para os adultos, transparentes na sua inocência perdida, e lembremo-nos das crianças ou de como é fácil saber o que sentem ou quando mentem.

Por conseguinte, para um olhar minimamente treinado é relativamente simples aferir que são muitas as mensagens corporais contraditórias que têm ocorrido simultaneamente às verbalizações do discurso ao longo da presente campanha eleitoral... desta e de muitas outras, passadas e futuras encenações deste género.

Escrutinar tais contradições, assim como aferir da veracidade dos conteúdos ocultos e manifestos, converte ter que escutar a estopada repetitiva da campanha num exercício de cidadania bem mais divertido e estimulante.

Como antes já escrevi, em período eleitoral, desenvolve-se uma crença: o homem (ou mulher) político, que exerce ou pretende exercer altas funções, teria a capacidade ilimitada de influenciar todos os campos, de modificar tudo. Reencontramos aqui o sentimento infantil de omnipotência parental.

No momento das eleições, o cidadão tem um pouco a impressão de poder pedir ou desejar obter tudo o que quiser aos pais (os políticos). Em seguida esses pais idealizados (os políticos) vão concorrer entre eles para obter os favores daqueles filhos (os cidadãos eleitores), adulando-os ou fazendo-lhes promessas. Está aqui a fonte do famoso pacto entre o homem de poder e o seu povo, pacto que dura enquanto a ilusão persiste.

O político serve-se daquela projecção idealizante sobre si. É essa a regra do jogo social, incontornável, inclusive fundadora das relações do indivíduo com os seres humanos, o grupo, a família, as Instituições e o País.

Por fim, quanto à nossa realidade, há prémios para todos os nossos candidatos, mas nem eu sou júri nem este sítio é Hollywood, por isso ficam em privado. Apenas vou mencionar algumas categorias:

- Prémio "Falas Bem Mas Não Convences"

- Prémio "O Sonho Comanda a Vida"

- Prémio "Vira Para lá o Nariz Não me Vás Vazar um Olho"

- Prémio "Simpatia e Sinceridade Demagógicas"

- Prémio "O Hitler Começou Assim"

- Prémio "Abstinência Sexual é Uma Virtude Mas Foi Pena que os Vossos Paizinhos Não a Tivessem Praticado Sempre"

- Prémio "Mas Onde é que Já Ouvimos Isto?"

- Prémio "Por Amor de Deus Não Diga Mais Disparates"


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sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Madeira





Gostei muito das férias que passei na Ilha da Madeira durante uma parte do mês de Agosto.

Desde a chegada ao novo aeroporto que se percebe que o desenvolvimento da ilha está fortemente orientado para o turismo de qualidade e de nível superior. Existem no Funchal e arredores vários bons hotéis e quintas turísticas, muitos restaurantes com deliciosa gastronomia local e as novas estradas, com longos e excelentes túneis, crescem a olhos vistos facilitando as viagens em tempo, conforto e segurança.

O clima do Funchal é maravilhoso e deliciosamente variável por toda a Ilha conforme se está no planalto, na serra, no norte, a este, oeste ou no sul.

Pontos altos desta viagem de Agosto: o alojamento no Hotel sobre o Lido foi excelente, mas também de cinco estrelas foram as paisagens magníficas – muitas delas de tirar o fôlego ao sujeito menos impressionável - o verde das plantações de bananeiras e vinhas, a floresta laurissilva, a água corrente por todo o lado nas "levadas", a simpatia dos habitantes, as fajãs, a gastronomia, a poncha, o clima temperado, as noites suaves, as novas estradas que facilitam muito as viagens e a modernidade crescente que não colide com a beleza natural da Ilha.

Gostei tanto, e fiquei tão agradavelmente surpreendido, que ficou prometido regressar para rever locais e pessoas e conhecer também o Porto Santo.


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terça-feira, 28 de julho de 2009

Barómetros, estatísticas e outras desinformações



Jamais será inocente a emissão noticiosa de estatísticas sobre o embuste da solução Ibérica. Tais ideais iberistas poderão até ser tingidos pela cor unificadora da nova identidade europeia, mas têm implícitos a lusa crença sebastianista de que a nossa salvação virá de fora, numa qualquer manhã de nevoeiro.

Os repentes iberistas, inclusive em Portugal, não são novos. Mas entre os nossos vizinhos tais pretensões têm sido mais evidentes e nunca deixaram de fazer sentido para as elites do poder castelhano; com efeito, relembro que a tese de Doutoramento do Generalíssimo Franco era sobre como invadir Portugal em 48 horas - mais horas menos horas... e isto passou-se há menos de 70 anos.

Também recordo um excerto do diálogo entre um alto dignitário espanhol, o Capitão-General Muñoz-Grandes, e o nosso Embaixador Franco Nogueira, na altura Ministro dos Negócios Estrangeiros:

- "Eu lhe digo. Há, em relação a Portugal, duas classes de espanhóis. Há os que querem a integração, a anexação, o desaparecimento político de Portugal, e isso quase imediatamente, e por quaisquer meios que forem necessários. E há os que desejam o mesmo objectivo, mas a conseguir gradualmente, em cinquenta ou setenta anos. Os primeiros são cerca de 90%, os segundos formam os restantes 10%. Isto faz parte da alma espanhola, não vejo como modificá-lo. (...) Acredite, eu faço parte dos dez por cento, não quero violências, tudo em amizade",(in Franco Nogueira, ex-ministro do Negócios Estrangeiros, "Diário: 1960-1968" ).

Em suma:

Sempre que há maiores dificuldades económicas e sociais – ou maior consciência delas – surgem oportunidades para a propagação de ideias radicais ou de ruptura; a frustração pode gerar revolta e esta tende, de uma forma ou de outra, a manifestar-se algumas vezes impulsivamente.

Neste Portugal do início do século XXI, não deixa de ser preocupante notar como as necessidades económicas podem influenciar os princípios e fragilizar os valores de um Estado-Nação que tem quase Mil anos; é como se as actuais gerações, e dentro delas muitos cidadãos e políticos, desconhecessem ou não levassem em consideração a História dos seus antepassados e a do País em que vivem.


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sábado, 25 de julho de 2009

The Fairy Queen: O Let Me Weep



À ópera “The Fairy Queen” de Henry Purcell, tocada pela primeira vez em 1692, não se aplica o habitual paradigma operático que conhecemos hoje em dia, já que nesta obra de Purcell, inspirada em “Sonho de Uma Noite de Verão” de Shakespeare, não sobressai uma lógica dramática óbvia ou uma narrativa contínua.

Tal como sucede na peça de Shakespeare, Titania e o seu marido Oberon discutem a propósito de um jovem rapaz indiano. Por artes mágicas do cruel Oberon, Titania é colocada sob a influência de um feitiço poderoso e como resultado disso, ela envolve-se numa tórrida e bestial relação erótica com um jumento.

Quando o feitiço finalmente termina Titania fica horrorizada com o bestialismo que cometeu por causa do bruxedo lançado sobre si pelo seu amado marido, e mais destroçada fica quando se apercebe que durante o encantamento mágico foi publicamente aviltada e humilhada por Oberon.

É neste momento da Ópera de Purcell que Titania canta aquela que considero a mais famosa área “ O let me weep” (Oh, deixa-me chorar) ou igualmente conhecida como “The plaint” (O Pranto).

«O, let me forever weep;
My eyes no more shall welcome sleep.
I'll hide me from the sight of day,
And sigh my soul away.
He's gone, his loss deplore,
And I shall never see him more.»


É uma área magnífica de uma enorme beleza e simplicidade, na qual a voz é somente acompanhada por baixos contínuos e um solo de oboé que segue como um eco a intensidade emocional de cada lamentação de Titania.

O desafio para quem canta esta área está, primeiro, em conseguir manter a intensidade dramática durante as passagens cantadas e as de acompanhamento instrumental.

Um segundo desafio resulta da repetição do mesmo poema, sendo vital colorir cada passagem com uma tonalidade emocional diferente e apropriada às múltiplas emoções por que passa Titania ao longo do seu lamento. Esta representação é crucial de modo a que o ouvinte acompanhe todo o doloroso processo de tomada de consciência do fim da relação de Titania com cruel Oberon, isto é, o processo emocional de luto relacional que decorre desde do desgosto até à cólera depressiva, e finalmente na percepção do fim do seu casamento com o amado, mas muito cruel, marido Oberon.

Pergunto-me que músicas com mais de 300 anos de idade e tamanha beleza intemporal, intensidade emocional e realismo humano serão escutadas dentro de 3 séculos.~

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terça-feira, 14 de julho de 2009

Pérolas de Testes Teóricos de Música (Brasil)







«1. Agnus Dei é uma famosa compositora que escreveu música para igreja.

2. Handel era meio alemão, meio italiano e meio inglês.

3. Beethoven escreveu música mesmo surdo. Ele ficou surdo porque fez música muito alta. Ele caminhava sozinho pela floresta e não escutava ninguém, nem a Pastoral, uma MOSSA (moça) que poderia ser a sua Amada IMORTAU e inspirou ele a criar uma sinfonia muito romântica. Ele faliu em 1827 e mais tarde morreu por causa disto.

4. Uma ópera é uma canção que dura mais de 2 horas.

5. Henry Purcell é um compositor muito conhecido, mas até hoje ninguém ouviu falar dele.

6. O Bolero de Ravel foi composto pelo Ravel.

7. A harpa é um piano pelado.

8. Opus Póstuma é música composta quando o compositor compôs depois de morto.

9. Mozart morreu jovem. Sua maior obra é a trilha do filme "Amadeus".

10. A importância de "Tristão e Isolda" reside no fato de que é uma música muito triste. Mais triste que a "Tristesse" de SCHOPING.

11. Virtuoso no piano é um músico com muita moral.

12. Os maiores compositores do Romantismo são: Chopin, Schubert e Tchaikovsky. No Brasil temos Roberto Carlos e Daniel.

13. Música cantada por duas pessoas é um DUELO.

14. Eu sei o que é um sexteto, mas não sei dizer.

15. Stravinsky revolucionou o ritmo com "A MASSACRAÇÃO da Primavera".

16. Carlos Gomes compôs a PRÓTESEFONIA do programa de rádio "A Hora do Brasil".

17. "Carmen" é uma ópera e "CARMINHA Burana" é sua filha.

18. Muitos pesquisadores concordam que a Música Medieval foi escrita no passado.

19. A ópera mais Romântica é a Paixão de Mateus por Bach.

20. Tem dois tipos de Cantatas de Bach: as Cantatas religiosas e as CANTADAS DI PROFANAÇÃO, que ele usou no palácio.

21. Meu compositor preferido é Opus.

22. Chopin fez poucas baladas, pois sofria de tuberculose. Assim não dava para ele cair na gandaia à noite, dançar, beber e curtir as minas (meninas), MAIS parece que ele não era chegado.

23. Cage inventou os 4 minutos de silêncio.

24. Suíte é uma música de danceterias barrocas.

25. Há uma espécie de Corais feitas por Bach, que se chamam Florais e são usados como remédios milagrosos.

26. "Messias" é uma missa de Handel cuja originalidade é ter muitos aleluias.

27. Joseph van Damme, além da arte lírica, é adepto das artes marciais. Não assisti nenhuma ópera dele, mas tenho DVD de 3 filmes dele.

28. Os menestréis e trovadores transmitiam notícias e estavam nas festas. Andavam de cidade em cidade, de castelo em castelo e iam até nos shows de TV.

29. O regente de uma orquestra é igual a um guarda de trânsito maluco porque agita os braços controlando muitos instrumentos na sua frente.

30. "As 4 Estações" é o CD mais vendido da banda do Vivaldi, depois que fez sucesso num comercial de sabonete, que não me lembro o nome agora..

31. Os compositores Renascentistas reviveram a música, pois ela havia sido morta pela Inquisição.

32. As Fugas de Bach são famosas porque ele não queria ficar preso em nenhum sistema.

33. A música eletroacústica é a mais avançada das tendências da música eletrônica hoje em dia. Seus principais compositores são os DJs e a banda Craftwork.

34. O metrônomo foi inventado para os músicos não andarem depressa.

35. Barroco é uma palavra derivada de Bach.

36. Handel compôs muitas peças geniais para COURO.

37. Música atonal é aquela sem som ou que explora o não-som, mais ou menos quase um anti-som. Seus mais importantes criadores são da família Berg: Schoenberg, ALBANBERG e WEBERG.

38. Pierre Boulez e STOQUEHAUZEN são compositores contemporâneos. É raro ser contemporâneo, pois muitos contemporâneos não vivem até morrer.

39. A mais bela sinfonia é a ÓDIO À ALEGRIA de Beethoven.

40. Verdi, já diz o nome, tem sua cor preferida, mas compôs músicas de várias tonalidades.»


(Obrigado ao Sequeira Rodrigues pela partilha destas pérolas)

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domingo, 5 de julho de 2009

Lisboa



Sabe-me bem regressar a esta cidade. Meia dúzia de dias volta e meia, mesmo no estio, como agora.

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quarta-feira, 1 de julho de 2009

O SIADAP - Trabalhar para o Estado ou ter um Emprego Público




Trabalhar para o Estado é uma actividade de risco mental cada vez mais acrescido. Não tanto pelo contacto com o público, frequentemente mal-educado e agressivo, nem tão-pouco pelos constantes ataques populares e dos media, agressivamente directos ou torpemente insinuantes mas todos generalizantes, à função pública e aos seus funcionários.

Trabalhar em prol do Serviço Público é cada vez mais, para quem se dedica com empenho ao que faz, um gradual caminho para o desgaste psicofisiológico sendo tal actividade laboral uma prova permanente de resiliência e tolerância, pessoal e relacional.

É evidente que quando escrevo “trabalhar” não quero dizer “ter um emprego” e há de facto muitos funcionários públicos que somente estão nesta última circunstância. O que desconheço é se alguns daqueles que “têm um emprego público” terão começado ingenuamente por “trabalhar para o Estado” tendo gradualmente desistido do empenho inicial por força dos múltiplos factores de desgaste inerentes ao serviço público, acabando por se resignarem a terem apenas “um emprego público" ao serviço do Estado.

Uma recente machadada na “moral das tropas” foi a aplicação do SIADAP, um complexo sistema de avaliação do desempenho dos funcionários públicos que surgiu com a pretensão de avaliar o mérito dos funcionários no exercício das suas actividades, e com isso, permitir recompensar os melhores com promoções na carreira, prémios de desempenho e outras boas práticas laborais de recompensa e motivação dos trabalhadores.

Outra suposta vantagem de tão famoso sistema seria parar com a progressão automática na carreira em função da antiguidade dos funcionários e também bloquear alguns favoritismos e compadrios possíveis e existentes no anterior sistema de avaliação.

Mas, e como diz o povo pleno de razão na sua imensa sabedoria, «de boas intenções está o Inferno cheio».

Para além da complexa burocracia que implica este sistema de avaliação (digno de um qualquer Sir Humphrey Appleby português), o SIADAP não permite a justa avaliação do mérito de todos os funcionários, desde logo pela imposição de quotas para a atribuição das classificações.

Vamos fazer um exercício teórico simples: um Serviço com 10 funcionários é avaliado.
Imaginemos que todos eles trabalham num projecto coeso, inovador e eficiente, pelo que cada um e todos em conjunto, cumprem muito bem as funções que lhes foram atribuídas.
Ora a avaliação individual destes funcionários será desde logo injusta para a maioria dos 10. Porquê? Porque só 5% deles ou seja metade de um funcionário (presume-me que o torso e a cabeça!) poderá ser classificado como Excelente, o que neste caso em particular torna desde logo nula a possibilidade da classificação de Excelente.

Dos restantes funcionários, 20% (neste caso apenas 2 daqueles 10 iniciais) poderão ser classificados com Muito Bom (ou Desempenho Relevante), sendo que todos os restantes terão a classificação de Bom (ou Desempenho Adequado), não obstante todos eles serem muito bons nas respectivas funções, tal como definimos à priori no nosso exercício teórico.

Ou seja, em dez funcionários que são na prática muito bons, apenas 2 serão classificados como tal, ficando muito provavelmente os restantes a remoer a injustiça que lhes foi feita.

Sabendo aqueles 10 funcionários que cada classificação anual de Desempenho Adequado vale 1 ponto, a classificação de Desempenho Relevante vale 2 pontos e a raríssima classificação de Excelente vale 3 pontos, e que é necessária uma acumulação de 10 pontos para que um funcionários possa progredir na carreira (e mesmo assim tudo depende da disponibilidade financeira do Serviço ou da boa vontade dos Dirigentes), 8 elementos do nosso grupo original de funcionários terão que esperar 10 anos para progredir e mesmo assim tudo depende da aleatoriedade das condicionantes antes referidas.

É claro que algumas almas iluminadas podem dizer: «ah, então face às quotas, vamos fazer uma atribuição de classificações rotativa, ou seja, este ano são estes 2 funcionários, para o ano são outros 2, e assim sucessivamente». Ora, não basta a injustiça do sistema, vamos também torná-lo ainda mais ofensivo, descaradamente manipulável e absurdo?

Quais os efeitos que este actual sistema de avaliação têm na coesão dos grupos, ou na moral e motivação dos funcionários? Posso dizer, por experiência própria e pela experiência do atendimento clínico a funcionários severamente deprimidos em consequência do SIADAP, que os efeitos são graves e cruéis.

Além disso, não é necessário ser um génio para perceber que aquilo que subjaz à implementação de um tal sistema de avaliação não é um paradigma de justiça e de recompensa na avaliação do mérito mas outrossim a criação de um meio burocrático e artificial que impede a progressão dos funcionários, essencialmente por motivos orçamentais.

Mas se um suposto objectivo da implementação de um sistema de avaliação também seria o aumento da produtividade do sector público do Estado, como poderá isso ser alcançado num ambiente cada vez mais imbuído de desconfiança, de medo, de inveja, de desmotivação e de revolta pela acumulação de injustiça, pela arbitrariedade mascarada de rigor e a perspectiva da estagnação profissional quer se seja eficiente quer não?

Porque não se avalia agora então a percepção dos funcionários no que concerne à implementação do actual sistema de avaliação?

Afinal de contas o objectivo mais importante é, de facto, que os funcionários trabalhem e produzam cada vez mais e melhor sendo recompensados em função disso ou o pretende-se desmotivar sub-repticiamente o tecido produtivo do Estado, fazendo a apologia da mediocridade através da descrença e da desmotivação, para que haja justificação para a tão propalada redução de pessoal ou para a privatização de Serviços?

Quanto a mim, e sempre que fui avaliado absurda e injustamente (como pode ser comprovado se efectuarmos uma análise objectiva dos meus relatórios anuais de produtividade, que elaborei e publiquei por iniciativa própria desde 2001 muito antes deste actual sistema ser implementado), para descontrair-me do sistema kafkiano e de autêntica tortura chinesa que constituem as chamadas “reuniões de avaliação”, decidi usar um mecanismo de defesa mental enquanto decorre o suplício: tento “pensar no vazio” e visualizar o hemiciclo da Assembleia da República numa tarde de sexta-feira. Deu sempre resultado.

Não, esta não é uma boa reforma do sistema de avaliação do desempenho dos funcionários.
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sábado, 6 de junho de 2009

HOME



HOME, filme da autoria do realizador francês Yann Arthus-Bertrand, é constituído por paisagens aéreas do mundo inteiro e pretende sensibilizar a opinião pública mundial sobre a necessidade de alterar modos e hábitos de vida a fim de evitar uma catástrofe ecológica planetária.

Filme completo disponível em
http://www.youtube.com/watch?v=tCVqx2b-c7U

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sábado, 30 de maio de 2009

O essencial sobre as eleições europeias de dia 7 de Junho de 2009

Face à deterioração da nossa democracia e ao alheamento, mutismo e desencanto dos principais interessados na escolha dos seus representantes democraticamente eleitos, pertenço àquela (suposta) minoria que pensa que o voto devia ser obrigatório.

Estou convicto que se deve responsabilizar cada cidadão eleitor pelos pressupostos políticos que influenciam os propósitos legislativos e governativos do seu país; doutro modo resta à maioria abstencionista exprimir-se nas conversas de café ou no ocasional desabafo acerca do estado da situação que ela própria ajudou a criar através da negligência eleitoral.

Trata-se de um círculo vicioso potencialmente danoso para o sistema democrático desde logo pela etimologia da palavra “democracia” quer dizer “governo do povo”: se parte de um povo não vota ou delega noutros a escolha do futuro, não são aqueles abstencionistas responsáveis directos pelas consequências das escolhas que não fez?

E se tais consequências forem um risco de desagregação do próprio regime democrático por ausência participativa daqueles eleitores, sejam quais forem as razões da abstenção (férias, feriados, não deu tempo, os centro comerciais são mais apelativos, "os políticos são todos iguais", "eles querem é tacho", e outros amuos democraticamente irresponsáveis)?

Votar é um dever de cidadania que devia ser (mas ainda não é) exercido por todos os cidadãos. A obrigatoriedade do voto é no meu entender um factor de desenvolvimento da qualidade participativa do regime democrática português, sendo que não devia ser implementada sem uma concomitante e ampla campanha de educação cívica.

Quanto às próximas eleições europeias de dia 7 de Junho, lamento que o debate político não aborde temas essenciais sobre o objecto que realmente está em causa: o que é Parlamento Europeu, qual o seu papel na condução do destino dos povos da Europa e que políticas cada partido nacional propõe inserido nos grupos políticos do parlamento.

Tudo o resto que está acontecendo nesta campanha actual parece-me politiquice mesquinha, ataques deploráveis ao carácter dos candidatos e uma desagradável pré-campanha para outros momentos eleitorais que se avizinham.

O essencial sobre a campanha para as eleições europeias podia começar desde logo pela educação cívica dos eleitores portugueses incidindo à priori em 5 tópicos basilares e, partindo daí, informando os eleitores sobre quais as propostas partidárias que estão sendo divulgadas:

Tópico 1 - As eleições europeias são realizadas de cinco em cinco anos. É nessa data que os 27 países da União Europeia votam para elegerem os Membros do Parlamento Europeu que os irão representar. Cada país da UE tem um determinado número de lugares no Parlamento.

Tópico 2 - As principais reuniões do Parlamento têm lugar em Estrasburgo (França) e em Bruxelas (na Bélgica). Como todas as outras instituições da UE, o Parlamento trabalha nas 23 línguas oficiais da UE.

Tópico 3 - A principal função do Parlamento é aprovar as leis europeias. O Parlamento partilha esta responsabilidade com o Conselho da União Europeia (os Governos dos 27 Estados-Membros).

Tópico 4 - O Parlamento desempenha um papel activo na redacção de legislação que terá impacto na vida diária de todos nós. Desde a protecção ambiental à educação e à saúde, até ao fluxo livre de trabalhadores em toda a Europa.

Tópico 5 - No actual Parlamento Europeu, os Deputados estão agrupados em 8 grupos políticos:

1 - EPP-ED: Grupo do Partido Popular Europeu (democratas-cristãos) e Democratas Europeus
2 - PES: Grupo Socialista no Parlamento Europeu
3 - ALDE/ADLE: Grupo da Aliança dos Democratas e dos Liberais pela Europa
4 - UEN: Grupo da União para a Europa das Nações
5 - Green/EFA: Grupo dos Verdes / Aliança Livre Europeia
6 - GUE/NGL: Confederal Group of the European United Left / Nordic Green Left
7 - IND/DEM: Grupo Independência / Democracia
8 - NI: Membros não inscritos

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How to destroy the world - Rubbish

quarta-feira, 13 de maio de 2009

A competição dominada pela inveja ou impotência do Homem em relação ao seu destino

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Caravaggio - Alegoria da luta dos mais novos sobre os mais velhos


Escreveu recentemente Francesco Alberoni que a competição entre pai e filho muitas vezes é dominada pela inveja. Nessa tese, o sociólogo/jornalista projecta e generaliza que as pessoas se identificam mais com quem consideram melhor e mais forte.

Nesta linha de pensamento, Alberoni afirma que “nós identificamo-nos com quem consideramos melhor, mais forte, mais capaz ou mais hábil e queremos ser iguais. Se o amamos, admiramo-lo e consideramo-lo um líder. Se, pelo contrário, prevalece o rancor, invejamo-lo. Gostaríamos que não fosse tão valente, gostaríamos que se enganasse. E, para mostrar aos outros e a nós próprios que valemos mais que ele, caluniamo-lo, denegrimo-lo. E isto pode insinuar-se entre próximos. Surge entre amigos, entre irmãos, entre marido e mulher, colegas (...) quando um é bem-sucedido e o outro não”.

A propósito daquele raciocínio quasi-freudiano, recordemos o Complexo de Édipo: Freud afirmou que o filho varão ama o pai e pretende o lugar deste; admira-o mas ao mesmo tempo está em competição com ele. Segundo a teoria freudiana, aquele antagonismo explica com o desejo do menino em ter a mãe só para si (no caso das meninas, ter o pai só para si competindo desse modo com a mãe, o que se veio a denominar de "Complexo de Electra").

Para nomear a sua teoria acerca do drama encenado tipicamente por pai, mãe e filho, Freud utilizou a história de Édipo Rei, tragédia de Sófocles na qual, resumidamente, o Rei Laio tendo um filho de nome Édipo, resolve consultar o Oráculo para saber o destino e recebe a notícia de que o seu filho seria um dia seu parricida. Sabendo disto, pede a um de seus servos que leve a criança para longe dali e a mate.

Contudo, o servo poupa a vida da criança e leva-a para um lugar distante do reino. Acolhido por uma família, Édipo cresce e, quando adulto, volta ao seu reino de origem.

No regresso às origens, o jovem Édipo mata (por impulso de honra) um velho que encontra no caminho (que na realidade era o velho Rei Laio) e que lhe exigia que aquele jovem lhe desse primazia na passagem. Édipo, desconhecendo a identidade do seu opositor e num acting-out violento, concretiza o trágico destino familiar através do parricídio profetizado pelo oráculo.

Mais adiante no decorrer do enredo, também sem consciência do crime incestuoso, casa com a Rainha viúva Jocasta, sua mãe, que mais tarde compreende quem era o jovem que se fez Rei, e se suicida, não suportando a dor de saber que o seu filho antes perdido, se tornara seu Senhor e amante por tão tortuoso destino.

Não suportando também ele ver a verdade (assim como a consequência éticas e moral da censura social), Édipo comete um acto simbólico dramático ao arrancar os seus próprios olhos. Cego, fragilizado pela culpa e pela dor da consciência dos seus actos, renuncia ao poder e parte para um exílio errante.

A tragédia prossegue na narrativa de Sófocles, mas a essência do Mito foi daquele enredo retirada por Freud para denominar o constructo teórico edipiano.

O que Freud não considerou foi que, originalmente, a tragédia de Sófocles quis mostrar, no âmbito da sua época, a impotência do homem em relação ao seu destino. A inveja, o desejo, o egoísmo, o prazer, a violência, a posse, o medo da morte, a negação da realidade, a arte da fuga, o acto impulsivo, a culpa, a tristeza, a consciência de si, o crescimento doloroso, o ritual e o simbólico, a manipulação, a bondade, a revolta, a dúvida e a repressão, a inocência, a crueldade, a crença e o Divino, a luta pelo poder, a renovação do novo sobre o velho, são inúmeros os retalhos psíquicos e emocionais do imenso manto que cobre o Homem como actor cultural na representação de si face ao prolongamento revisto nos outros.

E isso tem muito mais interesse e explica muito mais daquilo que somos, o que queremos e o que fazemos enquanto Humanos do que os inúmeros e repetitivos padrões de encenação familiar.


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quarta-feira, 6 de maio de 2009

Vasco Granja



Vasco Granja morreu na madrugada de ontem, 5 de Maio, em Cascais, aos 83 anos. Foi um dos maiores divulgadores em Portugal da animação e da "banda desenhada" , cujo termo foi usado pela primeira por si num artigo publicado pelo «Diário Popular» em 19 de Novembro de 1966.

A sua dedicação à banda desenhada intensificou-se com a edição portuguesa do Tintim mas foi a televisão que o projectou para o grande público como apresentador do «Cinema de Animação», espaço de divulgação que durante cerca de 16 anos (e dez mil emissões) deu a conhecer ao público televisivo português cinema de animação proveniente de todo o Mundo, desde a realizada nos países do leste da Europa até à proveniente da América do Norte.

O seu programa regular sobre cinema de animação pôs várias gerações a verem animação do Leste europeu, Estados Unidos e a emblemática Pantera Cor de Rosa.

Vasco Granja ficará para sempre como uma referência maior para toda uma geração que se habituou a vê-lo nos ecrãs da RTP.

Obrigado Vasco, pelos inúmeros momentos de sonho e de alegria na minha infância, suporte emocional fundamental para o prazer que sinto hoje, como adulto, quando visiono "Cinema de Animação" ou leio "Banda Desenhada".


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sexta-feira, 1 de maio de 2009

David e Golias: um Mito invertido



Um arquipélago terrestre eis a solução proposta para a resolução do problema da criação de um Estado Palestiniano: pulverizar (ou dividir) para Reinar parece ser a base política subjacente
àquela proposta de organização do território.

Não foi suficiente o Muro da vergonha antes erigido, cuja construção ainda prossegue para impor uma delimitação territorial forçada e a separação de facto entre dois povos. Prossegue uma política de hipocrisia e desconfiança, que semeia continuamente campos de violência futura.

A Paz não se constrói assim.

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terça-feira, 21 de abril de 2009


O actual Santo Padre tem parcialmente razão num aspecto: o uso do preservativo, só por si, não resolve o problema da pandemia do VIH e neste ponto termina a infalibilidade Papal sobre o assunto.

Há todavia uma conclusão técnica, baseada em anos e anos de ciência e de experiência, que já foi possível deduzir: o uso do preservativo é uma medida de Prevenção e de Redução de Riscos absolutamente necessária para prevenir a propagação da pandemia do VIH/SIDA.

Aqui, na Universidade do Algarve, tenho a honra de ter desenvolvido (em parceria com o CAD e a CNLCS), desde 2002, um Programa de Prevenção de Comportamentos de Risco que envolve:

1 - A distribuição semanal (e gratuita) de preservativos com informação anexa a todos os alunos das residências universitárias e aos alunos e funcionários que frequentam os bares, cantinas e serviços médicos da Universidade;

2- Um rastreio de VIH efectuado todas as semanas, alternadamente em cada pólo da UAlg;

3 - Sessões de formação ao longo do ano e uma intervenção anual - chamada de TU DECIDES -que decorre durante toda a semana das festividades da Queima das Fitas (que aqui se chama "Semana académica"), evento anual esse que alia a vertente da prevenção formativa sob 2 aspectos de redução de riscos: o VIH/SIDA e a condução sob efeito do álcool.

Ao longo destes anos que decorre o Programa de Prevenção da UALg distribuímos mais de 500 mil preservativos, efectuámos mais de 200 rastreios semanais de VIH/Sida (e 3600 testes de alcoolemia durante as semanas académicas).

Resultado quanto ao tema do VIH/SIDA? Agora, ao contrário de quando iniciámos, fala-se abertamente sobre a prevenção das DST em geral, os homens aderem cada vez mais ao programa (no início eram mais as mulheres), o feedback sobre o Programa de Prevenção é positivo em 96% dos casos (dados do último Inquérito interno de 2007, cuja tendência parece manter-se no de 2008 ainda em análise) e somos solicitados regularmente pelos alunos para intervir em sessões de esclarecimento sobre o tema e a prosseguir com as actividades de prevenção.

Os números, a mim, apesar do sucesso interessam-me relativamente: basta-me o facto que salvámos vidas. Nem que fosse apenas uma, já tinha valido o esforço. Pois não é que Quem Salva uma Vida, salva a Humanidade?

O Santo Padre e o Cardeal Patriarca que recentemente fizeram afirmações dúbias, lamentáveis e que não lhes fazem justiça, não sabem ou não querem saber, mas a Verdade - Divina - é que a ignorância, mesmo que seja a Santa Ignorância, mata!

Que Deus lhes perdoe.

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quinta-feira, 16 de abril de 2009

A culpa morre solteira


Familiares das vítimas de Entre-os-Rios poderão ter de pagar 57 mil euros


Depois das seis pessoas levadas à barra do Tribunal pela queda da Ponte Hintze Ribeiro terem sido absolvidas, a Justiça veio agora reclamar aos familiares das vítimas o valor das custas judiciais.

Ao que parece, porque o Tribunal concluiu que a queda da Ponte se deveu a causas naturais, não serão efectuadas quaisquer diligências no sentido do apuramento da responsabilidade pela morte daquelas mais de cinco dezenas de inocentes. Uma vez mais, a culpa morre solteira.

Parece assim que os culpados pela tragédia foram as vítimas que passaram naquele local à hora errada e os familiares que quiseram, por via judicial, apurar as responsabilidades daquele sinistro acontecimento.

Por se atreverem a pedir justiça por aquela tragédia tenebrosa, além de pagar com a dor imensa da perda que sofreram, os queixosos pagarão também em numerário (ou cheque ou prisão, caso não tenham como pagar as custas judiciais que lhes forem imputadas).

Algo está muito podre no sentido de Justiça da jurisprudência portuguesa.

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domingo, 5 de abril de 2009

Com amigos assim não precisamos de inimigos






















O nosso Tratado de Aliança com a Inglaterra - geralmente referenciado como Aliança Luso-Britânica sendo em Portugal conhecida vulgarmente como Aliança Inglesa - é a tida como a mais antiga aliança diplomática do mundo ainda em vigor, tendo sido assinada em 1373.

A meu ver, tal Aliança foi sempre mais proveitosa para os ingleses do que para nós, mesmo não esquecendo as guerras napoleónicas e a invasão de Portugal pelos franceses (precisamente por causa do nossa aliança com os bretões que nos obrigava a rejeitar o célebre Bloqueio Continental imposto à Inglaterra). Ao longo dos séculos, numa perspectiva longitudinal, foram mais os prejuízos do que as vantagens. Aquela que penso ser a mais evidente contribuição desse tratado político-militar foi no jogo de forças relativo à nossa independência face ao contínuo apetite de anexação castelhano… e pouco mais.

A subserviência portuguesa ao Reino Unido pode ser perspectivada como um facto histórico, tendo começado muito antes do Ultimato Inglês de 11 de Janeiro de 1891.

É certo que tivemos esporadicamente algumas respostas pífias de indignação, que é como quem diz sacudidelas ao peso da pata do Leão Inglês sobre o lombo do Zé Povinho, mas tais respostas foram muito mais manifestações de reacção emocional colectiva do que a execução de políticas afirmativas de independência efectivas. Muitas dessas resistências aconteceram sob a forma satírica: por exemplo, algumas pessoas não sabem mas a letra do Hino Nacional originalmente escrita tinha uma letra um tanto ou quanto diferente da actual: onde hoje se diz no Hino "contra os canhões marchar, marchar", dizia-se originalmente "contra os bretões, marchar, marchar.

Para ser justo, admito que houve um ou outro período de alguma excepção e de resistência efectiva às interferências inglesas nos assuntos internos de Portugal. Na nossa História contemporânea tal ocorreu por exemplo com a base militar dos Açores e deveu-se em muito à posição de neutralidade-à-portuguesa que conseguimos estabelecer durante a Segunda Grande Guerra Mundial, do novo equilíbrio geoestratégico emergente no pós-guerra não sendo estes dois factores estranhos às características manifestamente nacionalistas da ditadura salazarista, reflexo explícito da personalidade do ditador português de então.

É claro que após a nossa entrada na CEE, actual União Europeia, tivemos oportunidade para aliviar alguma da pressão acima referida, apesar de ser patente que foi estabelecida (e redesenhada) uma distribuição de influência geopolítica dos grandes países sobre os mais pequenos, à qual (e dentro da qual) nós não somos excepção.

Aquela redistribuição permite-nos agora influenciar mais eficaz e diplomaticamente algumas opções políticas de relacionamento privilegiado com outros Estados que o Interesse Nacional determinar como mais conveniente, sendo este um factor real de maior independência face aos grandes países. As novas relações - regidas pelo Princípio da Igualdade entre Estados (apesar de alguns grandes serem mais iguais do do que outros mais pequenos...) - que podemos estabelecer dentro da esfera da União permitem uma maior margem de manobra fora da influência dos nossos aliados ou com os adversários tradicionais. Isto não é novo, Nicolas Maquiavel escreveu profusamente sobre isto no “O Príncipe” .

O famigerado slogan “Espanha, Espanha, Espanha”, é um bom exemplo dessa inversão estratégica; não teve apenas um objectivo económico subjacente, foi um risco de afirmação política controlado, assim como não é inocente a nossa persistente tentativa de nos colocarmos em bico-de-pés perante a encenação dos actores principais do teatro político Mundial. Este padrão emergente faz parte - ou assim parece - da permanente necessidade, algumas vezes esquecida por alguns, de continuar a garantir a Portugal o seu lugar como Estado de pleno Direito, internacionalmente reconhecido como tal.

Bem entendido, não reprovo esse caminho aparentemente hercúleo: rentabilizar o capital (cultural, políco e económico) resultante das boas relações que temos vindo a estabelecer ao longo dos séculos, particularmente junto das paragens onde outrora estivemos, pode ser uma boa solução para a continuidade da nossa sobrevivência como País indepencente; diversificar além da Europa, numa focalização cirúrgica calculada (CPLP, Mediterrâneo, alguns Estados da Índia, uns quantos países da Ásia) pode ser a chave para o nosso futuro.

Aquele capital é único, sendo que poucos pequenos países o poderão invocar (e aplicar) como nós; apenas nos falta outro tipo de recursos, por exemplo a motivação, a competência, a planificação, a persistência, mas isso é outra conversa. Ora, eu sou um dos que pensa que desde os Descobrimentos que não tínhamos tão boas condições para nos afirmarmos com sucesso no Mundo globalizado. Só nos parece faltar que tal seja um objectivo nacional muito distante da habitual mentalidade de acomodação catastrofista, tão bem simbolizada por Camões na figura do Velho do Restelo.

Também penso que não existem hoje em dia fortes motivos para subserviência acima referida nem temos que ter medo dos leões desdentados que outrora nos intimidaram. Ainda podem ser perigosos, é certo, mas perderam muito da sua genica e poder. Basta que fiquemos atentos e que respondamos às provocações ou às tentativas – umas mais ou menos directas outras subtis e cobardes - de interferência com a certeza da nossa razão e da legitimidade com Estado multissecular de Direito.

Este caso mundialmente mediático dos McCann envergonha-nos a todos, portugueses e ingleses.

A propósito da vinda a Portugal de uma equipa de filmagens acompanhada pelo pai da criança desaparecida para fazer uma suposta reconstituição do caso McCann para o Channel 4, ontem, antes de um jantar de família, entre uns quantos Portos brancos gelados para abrir o apetite, os vapores dionisíacos permitiram aliviar a auto-censura de algumas pessoas presentes ao que, às páginas tanta, uma delas disse-me despudoradamente: “… e este caso da Praia da Luz foi abafado contra nossa vontade pelos Ingleses, e só não vê quem não quer ver que o do freeport é uma retaliação, quase como uma tentativa de Golpe de Estado”.

Como não me quis aborrecer nem azedar o efeito de um Porto Ferreira Branco tão delicioso – e quem melhor do que os Ingleses, mais uma vez os Ingleses, para invejosamente o comprovarem – respondi apenas que se fosse Juiz submeteria imediatamente (a propósito desta desavergonhada vinda a Portugal para mais uma encenação mediática depois de ser ter recusado repetidamente antes em participar numa reconstituição aquando das investigações) o pai McCann à legislação portuguesa, reabrindo o processo e detendo-o imediatamente para interrogatório.

Sem medo e com a dignidade de quem está escudado na aplicação da lógica racional, baseado naquilo que penso ser a Moral implícita no Direito (repito, se fosse eu - mero mortal - um Juiz), seria aquela a minha decisão. Isso com certeza que teria muito mais efeito do que mil encenações mediáticas pagas com o pecúlio infame que acumularam.

Hoje de manhã, porque algo me indispôs a digestão do excelente jantar de ontem e me fez ter alguns pesadelos durante a noite, fui consultar o Código Penal e encontrei no Artigo 138.º (Exposição ou Abandono) o seguinte:

« 1. Quem colocar em perigo a vida de outra pessoa:

a) Expondo-a em lugar que a sujeite a uma situação
de que ela, só por si, não possa defender-se; ou

b) abandonando-a sem defesa, sempre que ao agente
coubesse o dever de a guardar, vigiar ou assistir: “o agente é punido com pena de prisão de 1 a 5 anos”.

2. Se o facto for praticado por ascendente
(i.é, pai ou mãe): “o agente é punido com pena de prisão de 2 a 5 anos”.

3. Se do facto resultar:
a) Ofensa à integridade física grave: “o agente é punido com pena de prisão de 2 a 8 anos”;

b) A morte: o agente é punido com pena de prisão de 3 a 10 anos.
»

Foi lamentável a Lei não ter sido aplicada. Digo eu, que não sou nem Juiz, nem advogado ou tão-pouco polícia.

Como cidadão, e porque por enquanto ainda posso, penso que, mais uma vez, neste caso McCann funcionaram as vértebras serviçais habituais e os brandos costumes de sempre, pelo que tudo ficou em águas-de-bacalhau, para indignação, revolta e vergonha de muitos e desprestígio de todos; devemos - principalmente todos os pais e mães portugueses e ingleses - perguntar: porquê e para quê.