sábado, 30 de maio de 2009

O essencial sobre as eleições europeias de dia 7 de Junho de 2009

Face à deterioração da nossa democracia e ao alheamento, mutismo e desencanto dos principais interessados na escolha dos seus representantes democraticamente eleitos, pertenço àquela (suposta) minoria que pensa que o voto devia ser obrigatório.

Estou convicto que se deve responsabilizar cada cidadão eleitor pelos pressupostos políticos que influenciam os propósitos legislativos e governativos do seu país; doutro modo resta à maioria abstencionista exprimir-se nas conversas de café ou no ocasional desabafo acerca do estado da situação que ela própria ajudou a criar através da negligência eleitoral.

Trata-se de um círculo vicioso potencialmente danoso para o sistema democrático desde logo pela etimologia da palavra “democracia” quer dizer “governo do povo”: se parte de um povo não vota ou delega noutros a escolha do futuro, não são aqueles abstencionistas responsáveis directos pelas consequências das escolhas que não fez?

E se tais consequências forem um risco de desagregação do próprio regime democrático por ausência participativa daqueles eleitores, sejam quais forem as razões da abstenção (férias, feriados, não deu tempo, os centro comerciais são mais apelativos, "os políticos são todos iguais", "eles querem é tacho", e outros amuos democraticamente irresponsáveis)?

Votar é um dever de cidadania que devia ser (mas ainda não é) exercido por todos os cidadãos. A obrigatoriedade do voto é no meu entender um factor de desenvolvimento da qualidade participativa do regime democrática português, sendo que não devia ser implementada sem uma concomitante e ampla campanha de educação cívica.

Quanto às próximas eleições europeias de dia 7 de Junho, lamento que o debate político não aborde temas essenciais sobre o objecto que realmente está em causa: o que é Parlamento Europeu, qual o seu papel na condução do destino dos povos da Europa e que políticas cada partido nacional propõe inserido nos grupos políticos do parlamento.

Tudo o resto que está acontecendo nesta campanha actual parece-me politiquice mesquinha, ataques deploráveis ao carácter dos candidatos e uma desagradável pré-campanha para outros momentos eleitorais que se avizinham.

O essencial sobre a campanha para as eleições europeias podia começar desde logo pela educação cívica dos eleitores portugueses incidindo à priori em 5 tópicos basilares e, partindo daí, informando os eleitores sobre quais as propostas partidárias que estão sendo divulgadas:

Tópico 1 - As eleições europeias são realizadas de cinco em cinco anos. É nessa data que os 27 países da União Europeia votam para elegerem os Membros do Parlamento Europeu que os irão representar. Cada país da UE tem um determinado número de lugares no Parlamento.

Tópico 2 - As principais reuniões do Parlamento têm lugar em Estrasburgo (França) e em Bruxelas (na Bélgica). Como todas as outras instituições da UE, o Parlamento trabalha nas 23 línguas oficiais da UE.

Tópico 3 - A principal função do Parlamento é aprovar as leis europeias. O Parlamento partilha esta responsabilidade com o Conselho da União Europeia (os Governos dos 27 Estados-Membros).

Tópico 4 - O Parlamento desempenha um papel activo na redacção de legislação que terá impacto na vida diária de todos nós. Desde a protecção ambiental à educação e à saúde, até ao fluxo livre de trabalhadores em toda a Europa.

Tópico 5 - No actual Parlamento Europeu, os Deputados estão agrupados em 8 grupos políticos:

1 - EPP-ED: Grupo do Partido Popular Europeu (democratas-cristãos) e Democratas Europeus
2 - PES: Grupo Socialista no Parlamento Europeu
3 - ALDE/ADLE: Grupo da Aliança dos Democratas e dos Liberais pela Europa
4 - UEN: Grupo da União para a Europa das Nações
5 - Green/EFA: Grupo dos Verdes / Aliança Livre Europeia
6 - GUE/NGL: Confederal Group of the European United Left / Nordic Green Left
7 - IND/DEM: Grupo Independência / Democracia
8 - NI: Membros não inscritos

...

How to destroy the world - Rubbish

quarta-feira, 13 de maio de 2009

A competição dominada pela inveja ou impotência do Homem em relação ao seu destino

...



Caravaggio - Alegoria da luta dos mais novos sobre os mais velhos


Escreveu recentemente Francesco Alberoni que a competição entre pai e filho muitas vezes é dominada pela inveja. Nessa tese, o sociólogo/jornalista projecta e generaliza que as pessoas se identificam mais com quem consideram melhor e mais forte.

Nesta linha de pensamento, Alberoni afirma que “nós identificamo-nos com quem consideramos melhor, mais forte, mais capaz ou mais hábil e queremos ser iguais. Se o amamos, admiramo-lo e consideramo-lo um líder. Se, pelo contrário, prevalece o rancor, invejamo-lo. Gostaríamos que não fosse tão valente, gostaríamos que se enganasse. E, para mostrar aos outros e a nós próprios que valemos mais que ele, caluniamo-lo, denegrimo-lo. E isto pode insinuar-se entre próximos. Surge entre amigos, entre irmãos, entre marido e mulher, colegas (...) quando um é bem-sucedido e o outro não”.

A propósito daquele raciocínio quasi-freudiano, recordemos o Complexo de Édipo: Freud afirmou que o filho varão ama o pai e pretende o lugar deste; admira-o mas ao mesmo tempo está em competição com ele. Segundo a teoria freudiana, aquele antagonismo explica com o desejo do menino em ter a mãe só para si (no caso das meninas, ter o pai só para si competindo desse modo com a mãe, o que se veio a denominar de "Complexo de Electra").

Para nomear a sua teoria acerca do drama encenado tipicamente por pai, mãe e filho, Freud utilizou a história de Édipo Rei, tragédia de Sófocles na qual, resumidamente, o Rei Laio tendo um filho de nome Édipo, resolve consultar o Oráculo para saber o destino e recebe a notícia de que o seu filho seria um dia seu parricida. Sabendo disto, pede a um de seus servos que leve a criança para longe dali e a mate.

Contudo, o servo poupa a vida da criança e leva-a para um lugar distante do reino. Acolhido por uma família, Édipo cresce e, quando adulto, volta ao seu reino de origem.

No regresso às origens, o jovem Édipo mata (por impulso de honra) um velho que encontra no caminho (que na realidade era o velho Rei Laio) e que lhe exigia que aquele jovem lhe desse primazia na passagem. Édipo, desconhecendo a identidade do seu opositor e num acting-out violento, concretiza o trágico destino familiar através do parricídio profetizado pelo oráculo.

Mais adiante no decorrer do enredo, também sem consciência do crime incestuoso, casa com a Rainha viúva Jocasta, sua mãe, que mais tarde compreende quem era o jovem que se fez Rei, e se suicida, não suportando a dor de saber que o seu filho antes perdido, se tornara seu Senhor e amante por tão tortuoso destino.

Não suportando também ele ver a verdade (assim como a consequência éticas e moral da censura social), Édipo comete um acto simbólico dramático ao arrancar os seus próprios olhos. Cego, fragilizado pela culpa e pela dor da consciência dos seus actos, renuncia ao poder e parte para um exílio errante.

A tragédia prossegue na narrativa de Sófocles, mas a essência do Mito foi daquele enredo retirada por Freud para denominar o constructo teórico edipiano.

O que Freud não considerou foi que, originalmente, a tragédia de Sófocles quis mostrar, no âmbito da sua época, a impotência do homem em relação ao seu destino. A inveja, o desejo, o egoísmo, o prazer, a violência, a posse, o medo da morte, a negação da realidade, a arte da fuga, o acto impulsivo, a culpa, a tristeza, a consciência de si, o crescimento doloroso, o ritual e o simbólico, a manipulação, a bondade, a revolta, a dúvida e a repressão, a inocência, a crueldade, a crença e o Divino, a luta pelo poder, a renovação do novo sobre o velho, são inúmeros os retalhos psíquicos e emocionais do imenso manto que cobre o Homem como actor cultural na representação de si face ao prolongamento revisto nos outros.

E isso tem muito mais interesse e explica muito mais daquilo que somos, o que queremos e o que fazemos enquanto Humanos do que os inúmeros e repetitivos padrões de encenação familiar.


...

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Vasco Granja



Vasco Granja morreu na madrugada de ontem, 5 de Maio, em Cascais, aos 83 anos. Foi um dos maiores divulgadores em Portugal da animação e da "banda desenhada" , cujo termo foi usado pela primeira por si num artigo publicado pelo «Diário Popular» em 19 de Novembro de 1966.

A sua dedicação à banda desenhada intensificou-se com a edição portuguesa do Tintim mas foi a televisão que o projectou para o grande público como apresentador do «Cinema de Animação», espaço de divulgação que durante cerca de 16 anos (e dez mil emissões) deu a conhecer ao público televisivo português cinema de animação proveniente de todo o Mundo, desde a realizada nos países do leste da Europa até à proveniente da América do Norte.

O seu programa regular sobre cinema de animação pôs várias gerações a verem animação do Leste europeu, Estados Unidos e a emblemática Pantera Cor de Rosa.

Vasco Granja ficará para sempre como uma referência maior para toda uma geração que se habituou a vê-lo nos ecrãs da RTP.

Obrigado Vasco, pelos inúmeros momentos de sonho e de alegria na minha infância, suporte emocional fundamental para o prazer que sinto hoje, como adulto, quando visiono "Cinema de Animação" ou leio "Banda Desenhada".


...

sexta-feira, 1 de maio de 2009

David e Golias: um Mito invertido



Um arquipélago terrestre eis a solução proposta para a resolução do problema da criação de um Estado Palestiniano: pulverizar (ou dividir) para Reinar parece ser a base política subjacente
àquela proposta de organização do território.

Não foi suficiente o Muro da vergonha antes erigido, cuja construção ainda prossegue para impor uma delimitação territorial forçada e a separação de facto entre dois povos. Prossegue uma política de hipocrisia e desconfiança, que semeia continuamente campos de violência futura.

A Paz não se constrói assim.

...