domingo, 27 de dezembro de 2009

A moda do empratamento ou a tradicional Travessa?




A propósito de uma potencialmente saborosa prenda de Natal que recebi - uma refeição no famoso Restaurante Tavares - faço hoje uma postagem que não desmerece essa futura experiência como excepção à regra mas que me afasta desta moda contemporânea do empratamento.

Assumo: como apreciador da boa gastronomia e até mesmo como aprendiz de feiticeiro das artes mágicas culinárias, por regra, eu prefiro a tradicional travessa. Só excepcionalmente numa experimentação gastronómica de texturas, aromas e sabores, tolero a apresentação por empratamento.

Por isso, transcrevo aqui uma passagem do Miguel Esteves Cardoso que traduz com graça uma aversão semelhante.

"Se há coisa que abomino é esta prática de levar com tudo já empratado. Os chefes contemporâneos deliciam-se a empratar cada criação de maneira igual, com as mesmísssimas quantidades e disposições, obrigando-nos a suportar a estética duvidosa e pseudo-artística que os anima.

Para mais, é sempre o mesmo prato gigante, com a mesma monótona lógica dos ponteiros do relógio, as torrezinhas dos ingredientes já determinadas; os mesmíssimos esguichos ridículos de molhos; as lâminas atravessadas de cebolinho; os salpicos pirosos de ervilhas e sei lá que mais.


(...)Nos restaurantes de vanguarda, são os próprios empregados que transmitem as instruções do chefe acerca da ordem e da maneira correcta de comer o metafórico prato: «Primeiro dá uma trinca no gelado de carapau; depois mistura uma colher de espuma de escabeche na boca; dá um golo deste vinho e, quando estiver prestes a engolir, levante a cabeça que dar-lhe-ei uma bombada de maresia de ostras no focinho.»

É caso para telefonar imediatamente para a Liga Anti-Nazi. Hoje em dia, com a insuportável prepotência dos novos chefes, a margem de liberdade do pobre almoçador regressou aos níveis de autonomia que tínhamos com três anos de idade."

in , Em Portugal Não se Come mal, Miguel Esteves Cardoso, 2008, Assírio & Alvim.

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segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Ágora



Fui ver esta produção espanhola e fiquei surpreendido pela positiva.

Também me fez pensar, uma vez mais, que os Homens constituem uma espécie dita racional mas de facto pouco permeável à compreensão de perspectivas divergentes e resistente à tolerância das diferenças.

Imersos por milénios de Cristianismo, Judaísmo e Islamismo aparentam bom senso e fraternidade mas persistem sendo emotivos, egoístas e cruéis. Tal como os calhaus submersos são estanques à água, apesar de molhados por fora pelo evoluir da civilização, permanecem duros e secos por dentro.

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quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Debates há muitos, a honestidade democrática é que rareia


A propósito de um anúncio de um suposto debate na Universidade do Algarve intitulado

«Capelania da UAlg promove debate sobre Casamento entre pessoas do mesmo sexo

Hoje, pelas 18h00, a Capelania da Universidade do Algarve, em colaboração com a Plataforma Algarve pela Vida, realiza um colóquio subordinado ao tema «Casamento entre pessoas do mesmo sexo: referendo e problemática». O evento decorre no anfiteatro Teresa Júdice Gamito, no Campus de Gambelas.

O tema, de grande actualidade, terá como oradores Jorge Bacelar Gouveia, professor catedrático da Universidade Nova de Lisboa, e Luís Seabra Galante, advogado especialista em direito matrimonial-canónico, radicado há já muitos anos no Algarve.»



Comentário adicional de um Social-Democrata, Cristão e Académico:

- Debater, com honestidade intelectual e equilíbrio entre as partes é saudável. Defendo sempre esse princípio. No entanto, organizar uma reunião para debater temas complexos com oradores parciais, sobre o patrocínio de organizações radicais que têm objectivos ideológicos bem definidos e fundamentalmente contrários ao que é anunciado, não é honesto e muito menos me parece um gesto democrático.

Não me surpreende que a Capelania da Universidade do Algarve, organização da Igreja Católica Apostólica Romana, patrocine um suposto debate deste género, que na verdade mais não é uma tentativa reaccionária de promover apoios para um Referendo (intrusivo das liberdades individuais) que visa objectivamente a recusa do reconhecimento de direitos de liberdade e de cidadania entre adultos que consentem; nem me surpreende igualmente que a "Plataforma Algarve Pela Vida" continue a sua egocêntrica, frustrante e radical acção de intromissão no Direitos dos outros que não pensam nem agem tal qual como eles, tal como já fizeram no referendo sobre a IVG.

O que surpreende é que uma Instituição Pública como a Universidade do Algarve patrocine ou apoie uma acção política conservadora e de direita radical, despudoradamente falsa e manipuladora porque assenta sobre pressupostos desde logo enganosos.

Um debate pressupõe equilíbrio no contraditório e não a parcialidade descarada dos debatentes, ainda por cima quando esse suposto debate mais não é do que um quase comício para a recolha de apoios que permitam a viabilização de um referendo sobre um tema que, tendo pertencido já a programas eleitorais entretanto sufragados nas últimas eleições, será em breve legitimamente votado no local próprio - a Assembleia da República.

Apoiar um embuste é uma vergonha para qualquer cientista ou para um democrata que se preze e eu lamento profundamente que tal assim tenha ocorrido nas instalações da Universidade do Algarve.

A Universidade do Algarve, tal qual já antes elegeu de facto representantes aos seus orgãos máximos por via de um plebiscito sobre uma lista única (isso sucedeu na eleição dos representantes dos funcionários ao Conselho Geral da Universidade), parece estar vezes demais alheia ou desatenta aos mecanismos básicos da Democracia que ocorrem na sua própria casa. E quando as elites, elas próprias, transgridem ou permitem que tal aconteça e até mesmo ignoram o que é essencial não é de admirar que tais práticas possam vir a ser impunemente generalizadas como acção comum na restante sociedade, mais cedo ou mais tarde.

Pela gravidade do acima exposto, peço desde já perdão às gerações futuras.


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quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

A Toscânia Lusitana



Uma viagem pelo Alto Alentejo a partir de Évora, pode ser uma experiência repetível sem se tornar monótona.

Desta vez, a partir de Évora, fomos até à inexpugnável Marvão, explorámos as trágicas ruínas do Castelo da Juromenha, deambulámos por Elvas, Alandroal, Alvito, Campo Maior, Avis e Estremoz.

Visitámos a Coudelaria de Alter e o Fluviário de Mora; a primeira é merecedora de uma estada demorada, o segundo mais adequado para regressar com os petizes.

Uma viagem pelos Castelos de encantar de Vilas e Cidades fortificadas no alto de colinas e montes vigilantes sobre terras a perder de vista, paisagens coloridas por magníficas tonalidades outonais.

Um guloso roteiro gastronómico regado com vinhos encorpados e sublimes. Este Alto Alentejo é uma pérola por redescobrir sempre. É a nossa Toscânia Lusitana.

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