A propósito de um anúncio de um suposto debate na Universidade do Algarve intitulado
«
Capelania da UAlg promove debate sobre Casamento entre pessoas do mesmo sexoHoje, pelas 18h00, a Capelania da Universidade do Algarve, em colaboração com a Plataforma Algarve pela Vida, realiza um colóquio subordinado ao tema «Casamento entre pessoas do mesmo sexo: referendo e problemática». O evento decorre no anfiteatro Teresa Júdice Gamito, no Campus de Gambelas.
O tema, de grande actualidade, terá como oradores Jorge Bacelar Gouveia, professor catedrático da Universidade Nova de Lisboa, e Luís Seabra Galante, advogado especialista em direito matrimonial-canónico, radicado há já muitos anos no Algarve.»Comentário adicional de um Social-Democrata, Cristão e Académico:
- Debater, com honestidade intelectual e equilíbrio entre as partes é saudável. Defendo sempre esse princípio. No entanto, organizar uma reunião para debater temas complexos com oradores parciais, sobre o patrocínio de organizações radicais que têm objectivos ideológicos bem definidos e fundamentalmente contrários ao que é anunciado, não é honesto e muito menos me parece um gesto democrático.
Não me surpreende que a
Capelania da Universidade do Algarve, organização da Igreja Católica Apostólica Romana, patrocine um suposto debate deste género, que na verdade mais não é uma tentativa
reaccionária de promover apoios para um Referendo (intrusivo das liberdades individuais) que visa objectivamente a recusa do reconhecimento de direitos de liberdade e de cidadania entre adultos que consentem; nem me surpreende igualmente que a "
Plataforma Algarve Pela Vida" continue a sua egocêntrica, frustrante e radical acção de intromissão no Direitos dos outros que não pensam nem agem tal qual como eles, tal como já fizeram no referendo sobre a
IVG.
O que surpreende é que uma Instituição Pública como a Universidade do Algarve patrocine ou apoie uma acção política conservadora e de direita radical, despudoradamente falsa e manipuladora porque assenta sobre pressupostos desde logo enganosos.
Um debate pressupõe equilíbrio no
contraditório e não a parcialidade descarada dos
debatentes, ainda por cima quando esse suposto debate mais não é do que um quase comício para a recolha de apoios que permitam a viabilização de um referendo sobre um tema que, tendo pertencido já a programas eleitorais entretanto sufragados nas últimas eleições, será em breve legitimamente votado no local próprio - a Assembleia da República.
Apoiar um embuste é uma vergonha para qualquer cientista ou para um democrata que se preze e eu lamento profundamente que tal assim tenha ocorrido nas instalações da Universidade do Algarve.
A Universidade do Algarve, tal qual já antes elegeu
de facto representantes aos seus
orgãos máximos por via de um plebiscito sobre uma lista única (isso sucedeu na eleição dos representantes dos funcionários ao Conselho Geral da Universidade), parece estar vezes demais alheia ou desatenta aos mecanismos básicos da Democracia que ocorrem na sua própria casa. E quando as elites, elas próprias, transgridem ou permitem que tal aconteça e até mesmo ignoram o que é essencial não é de admirar que tais práticas possam vir a ser impunemente generalizadas como acção comum na restante sociedade, mais cedo ou mais tarde.
Pela gravidade do acima exposto, peço desde já perdão às gerações futuras.
....