
Existem regras tradicionais para a boa gestão financeira que foram esquecidas na última década em Portugal. São regras básicas que urge repor nos hábitos das pessoas:
1- Controlar as despesas face ao rendimento Controlar escrupulosamente os gastos mensais identificando
à priori as despesas fixas e o rendimento mensal.
Para que este controle seja efectivo há que estabelecer os gastos com luz, água, condomínio, educação, seguros, etc., e determinar quais são as parcelas que absorvem a receita mensal.
Após este controlo entre o que se gasta e aquilo que se recebe é necessário estabelecer prioridades em relação a cada despesa para que depois seja possível identificar as oportunidades para reduzir nas despesas.
As reduções dos gastos podem desde logo começar por pequenos gestos do dia-a-dia tais como cortar nas idas ao café, no consumo de tabaco, na compra de revistas, na escolha preferencial pela aquisição de produtos com marcas brancas, na racionalização dos gastos supérfluos (moda, pequenos luxos tecnológicos e gastos associados, jantar fora), na redução das deslocações em viatura própria, na troca frequente de viatura automóvel, nas férias no estrangeiro, na cedência às estratégias de marketing e de publicidade, nas compras a prestações, etc.
Quem tem créditos elevados deve focalizar-se na sua renegociação e concentrar-se em reduzi-los até ao patamar máximo de 33% do rendimento disponível (Regra do Terço).
Quanto aos cartões de crédito e agências de crédito fácil e imediato - nem pensar! São situações muito próximas à usura.
Quem não tem dinheiro não tem vícios, dizia o povo e com razão - infelizmente, entretanto por via das artes ilusórias do consumismo, esse mesmo povo esqueceu-se daquela máxima que precavia a
escravatura do crédito.
Se algo é desejável para adquirir, há que fazer um esforço adicional de boa gestão e de poupança de modo a poder acumular meios suficientes para tal aquisição.
Grão a grão enche a galinha o papo... vox populi, vox Dei.
2 - Fixar até 33% do rendimento para créditos ou renda da casaO meu avô (que morreu rico, abençoado seja) sempre me ensinou a “
Regra do Terço”, isto é, as despesas com a renda da casa (ou o crédito) não podem ultrapassar 33% (ou aproximadamente 1/3 ) do vencimento mensal.
3 - Reservar mensalmente pelo menos 10% do rendimento mensal para a poupança A poupança deve representar pelo menos 10% do total do orçamento mensal disponível. Este valor deverá ser colocado de parte logo no início do mês. Esta atitude requer perseverança e disciplina.
4 - Definir claramente os objectivos da poupança Poupar sem objectivos definidos pode levar a situações de consumo impulsivo. Na poupança é fundamental estabelecer objectivos concretos.
Para começar, é recomendado possuir uma parcela disponível da poupança reservada para situações de emergência. O ideal seria até um ano de salários, sendo o mínimo recomendado 6 meses de salário.
Depois de atingir o patamar mínimo de poupança a ideia não é gastar tudo o que se acumulou mas sim continuar até perfazer pelo menos um ano de ordenado. Atingido este valor, pode-se então aplicar tais reservas na concretização do Plano de Poupança por Objectivos.
A poupança familiar estruturada deverá então ainda passar pela identificação de
objectivos específicos, como futuras despesas de educação ou de saúde.
De igual modo, planear a idade da reforma para que seja possível manter o padrão de qualidade de vida após a aposentação é um objectivo de poupança pessoal que se deve começar a executar a partir dos 35 anos.
Outros objectivos da poupança passam ainda por amealhar semanalmente para as férias ou para situações inesperadas (despesas automóveis, substituição de electrodomésticos, etc.)
Identificar as poupanças por itens específicos permite organizar prioridades e disciplinar a gestão dos gastos e função de objectivos claros e definidos.
Depois de acumular um conjunto de valores atribuídos a diferentes objectivos (de curto, médio ou longo prazo) ou após amealhar um volume suficiente para permitir ter alguma segurança caso aconteça algum contratempo, a poupança acumulada deve ser colocada em investimentos, de preferência conservadores no caso das reservas de emergência, de modo a rentabilizar o que é amealhado face à inflação.
Quanto ao tipo de investimentos, deve-se analisar longamente todas as opções disponíveis, sempre considerando o grau de risco, os prazos associados e as condições legais ou financeiras implícitas.
5 - Investimento para a rentabilização da poupançaO controlo racional dos gastos face ao rendimento disponível é um bom início para a boa poupança mas pode ser pouco para alcançar os objectivos desejados.
É assim necessário fazer render o capital poupado, o que pode passar pelo investimento de parte dessas poupanças em diferentes produtos financeiros existentes no mercado.
Para os mais conservadores, existem os depósitos a prazo e os certificados de aforro. Existem também os produtos com vantagens fiscais, como os Planos Poupança Reforma e os Seguros de Vida e de Capitalização.
Para quem queira atingir maiores retornos, mesmo que para isso esteja disposto a assumir um pouco mais de risco, há que ter em conta a gestão profissional dos fundos de investimento ou o recurso aos mercados de acções, com investimentos para o longo prazo (5 a 10 anos) de modo a aproveitar as oportunidades das fases
bear (como a actual) e
bull dos ciclos económicos.
Neste último caso, recomenda-se a “
Regra dos 100”, ou seja, destinar a este tipo de investimento o resultado da subtracção da sua idade ao valor 100.
Por exemplo, quem tem como poupança 100 euros disponíveis para investimento em áreas de riscos mais elevado (como é o caso dos mercados de capital) deve subtrair àquele valor a sua idade e investir o remanescente.
No meu caso a
Regra dos 100 seria:
100 – 38 = 62 euros. O remanescente deve sempre ficar investido em produtos de poupança conservadora.
Como dizia o meu avô:
no gastar e no poupar é que está o ganho.
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