
Apesar do enjoo que vou começando a sentir cada vez que ouço a generalidade da propaganda política para as eleições que se avizinham, tem sido interessante e até divertido observar o comportamento dos candidatos e das respectivas
entourages.
Durante os debates entre os candidatos dos partidos supostamente mais elegíveis, foi um verdadeiro
maná humorístico desconstruir a coerência e as contradições entre o discursos e a linguagem corporal, mesmo quando se denota que aqueles e esta foram previamente estudados ou são fruto de uma tentativa de controlo da realidade ou resultado de uma longa experiência de intrujices bem sucedidas ao longo de uma bem sucedida actividade política.
A postura corporal dos candidatos fala
por si apesar do esforço, nem sempre bem sucedido, na emissão de mensagens que conquistem eleitorado (mesmo sabendo ambos, no seu íntimo, que aquelas são muitas vezes ilusórias ou demagógicas): os braços cruzados, o olhar desviado para cima ou para baixo, a rotação da face em momentos cruciais, a colocação das mão e dos braços, a hesitação na linguagem, os actos falhados no conteúdo do discurso, uma mãozinha distraída que toca no nariz, um ligeiramente queixo afagado, uns lábios bem apertados, uma boquinha entreaberta, um esgar de sorriso que escapa ou o excesso teatral dos sorrisos falsos ou das expressões de duvidoso espanto ou exagerada indignação e muitos outros sinais de comunicação verbal significativos, sobre os quais pouco mais direi porque não convém entregar o ouro ao bandido … apenas digo que olhemos para os adultos, transparentes na sua inocência perdida, e lembremo-nos das crianças ou de como é fácil saber o que sentem ou quando mentem.
Por conseguinte, para um olhar minimamente treinado é relativamente simples aferir que são muitas as mensagens corporais contraditórias que têm ocorrido simultaneamente às verbalizações do discurso ao longo da presente campanha eleitoral... desta e de muitas outras, passadas e futuras
encenações deste género.
Escrutinar tais contradições, assim como aferir da veracidade dos conteúdos ocultos e manifestos, converte ter que escutar a estopada repetitiva da campanha num exercício de cidadania bem mais divertido e estimulante.
Como antes já escrevi, em período eleitoral, desenvolve-se uma crença: o homem (ou mulher) político, que exerce ou pretende exercer altas funções, teria a capacidade ilimitada de influenciar todos os campos, de modificar tudo. Reencontramos aqui o sentimento infantil de omnipotência parental.
No momento das eleições, o cidadão tem um pouco a impressão de poder pedir ou desejar obter tudo o que quiser aos pais (os políticos). Em seguida esses pais idealizados (os políticos) vão concorrer entre eles para obter os favores daqueles filhos (os cidadãos eleitores), adulando-os ou fazendo-lhes promessas. Está aqui a fonte do famoso pacto entre o homem de poder e o seu povo, pacto que dura enquanto a ilusão persiste.
O político serve-se daquela projecção idealizante sobre si. É essa a regra do jogo social, incontornável, inclusive fundadora das relações do indivíduo com os seres humanos, o grupo, a família, as Instituições e o País.
Por fim, quanto à nossa realidade, há prémios para todos os nossos candidatos, mas nem eu sou júri nem este sítio é Hollywood, por isso ficam em privado. Apenas vou mencionar
algumas categorias:
- Prémio "
Falas Bem Mas Não Convences"
- Prémio "
O Sonho Comanda a Vida"
- Prémio "
Vira Para lá o Nariz Não me Vás Vazar um Olho"
- Prémio "
Simpatia e Sinceridade Demagógicas"
- Prémio "
O Hitler Começou Assim"
- Prémio "
Abstinência Sexual é Uma Virtude Mas Foi Pena que os Vossos Paizinhos Não a Tivessem Praticado Sempre"
- Prémio "
Mas Onde é que Já Ouvimos Isto?"- Prémio "
Por Amor de Deus Não Diga Mais Disparates"
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