
O Que é a Procrastinação?
A procrastinação consiste em atrasar ou adiar sistematicamente a realização de actividades relevantes. Estas actividades dividem-se em duas categorias sobrepostas: a procrastinação de manutenção e a de desenvolvimento.
As pessoas que adiam actividades de manutenção fazem coisas como deixar chegar o quarto a um estado de desorganização incontrolável, deixar empilhar a loiça na cozinha, entregar os livros na biblioteca muito depois do prazo, tirar fotocópias apenas na véspera dos exames, estudar para determinadas cadeiras apenas antes dos exames, entre muitas outras.
A procrastinação de desenvolvimento ocorre quando a pessoa adia actividades de desenvolvimento pessoal que podem levar a uma melhoria das condições de saúde, das condições psicológicas ou outras formas de proveito pessoal. Estas pessoas começam a ter dificuldades em encontrar maneiras de alegrar as suas vidas e melhorar a sua aceitação pessoal, a sua auto-estima, a sua sensação de auto-eficácia e as competências sociais ou profissionais, sendo que nos casos mais graves as pessoas sentem-se deprimidas,imobilizadas ou frustradas.
Procrastinar implica deixar que as tarefas de baixa prioridade (menos importantes) antecipem as de alta prioridade (mais importantes). Por exemplo, socializar com os colegas quando temos um projecto para entregar na próxima semana, ver televisão ou
jogar computador em vez de estudar, falar acerca de coisas superficiais com a namorada em vez de aprofundar os assuntos e preocupações relacionados com a relação, ou arrumar o quarto e organizar tudo até ao mais ínfimo pormenor, mas acabar por não estudar. O conceito de tarefa abrange assim uma vasta amplitude de domínios.
Qualquer tipo de procrastinação envolve a decisão de adiar. Esta decisão pode levar a um alívio temporário imediato, mas a médio ou longo prazo pode conduzir a uma baixa sensação de auto-eficácia,sentimentos de culpa, inadequação, autodepreciação, depressão, incerteza, ansiedade, para além das consequências adversas que advêm da não realização das tarefas (oportunidades desperdiçadas, fraco desempenho; notas baixas, aumento do stress, sensação de falta de domínio ou controlo, deixar de conseguir acompanhar as cadeiras, etc.). Os resultados da procrastinação podem facilmente interferir com sucesso das pessoas.
O facto de a procrastinação constituir ou não um problema depende da gravidade e da extensão do comportamento. Ela torna-se num problema mais sério quando afecta a auto-estima, os sentimentos de valor e de controlo pessoal e de auto-eficácia, quando a qualidade do trabalho é significativamente mais baixa do que as capacidades do indivíduo, quando os outros já não podem confiar ao indivíduo a responsabilidade de completar o seu trabalho, quando coloca obstáculos que interferem com a persecução de metas e objectivos pessoais e profissionais, quando provoca sentimentos negativos no indivíduo ou resulta em resultados inesperados e leva a problemas de saúde ou a relações conflituosas.
A procrastinação encontra-se ligada ao conceito físico de inércia – uma massa em repouso tende a permanecer em repouso. Como tal, são necessárias mais forças para iniciar a mudança do que para a manter, o que convida ao adiamento do início das tarefas. Por sua vez, este adiamento ou evitamento, ao proporcionar uma sensação de conforto temporário, reforça a própria procrastinação, o que torna ainda mais difícil começar a agir no sentido inverso.
Estamos, portanto, perante um ciclo de funcionamento que se alimenta a si próprio e que tende a perpetuar e a alastrar cada vez a mais áreas ou a assumir cada vez uma maior intensidade. Uma vez que se trata de um comportamento aprendido, este também pode ser desaprendido ainda que por vezes não seja muito fácil. O primeiro passo para a mudança consiste na consciencialização dos nossos processos de procrastinação.
As Várias Formas de ProcrastinaçãoNo sentido de nos consciencializarmos dos nossos processos psicológicos podemos atender aos nossos comportamentos, sentimentos e pensamentos. Vejamos alguns exemplos de indícios e formas de procrastinação com os quais se pode identificar.
Pensa que ao ignorar uma tarefa ela desaparecerá? Age de acordo com esta ideia?
Vive para o momento? Tem uma baixa tolerância à frustração? Adia sistematicamente as tarefas sempre que tal é possível e, quando não é, queixa-se dizendo que se sentes pressionado pelos prazos apertados e que é incapaz de trabalhar tão bem como poderia caso tivesse mais tempo? Tenta proteger-se (i.e. evitar) dos sentimentos de responsabilidade pelo seu próprio destino?
Estabelece objectivos perfeccionistas e irrealistas? Receia não conseguir desempenhar tão bem quanto sonhava? Tem dificuldades em passar da fantasia à acção? Está consciente dos seus limites e ainda assim acha que “deve” e “tem” de conseguir aqueles objectivos?
Persiste de forma sistemática em apenas uma parte ínfima da tarefa? Escreve e volta a escrever o parágrafo introdutório de um texto, descurando o corpo e a conclusão do mesmo?
Engana-se a si próprio substituindo uma tarefa importante por outra aparentemente relevante? Imagine que arruma o quarto em vez de escrever o seu relatório sobre um assunto importante para entregar amanhã – apreciar um quarto arrumado é natural, mas se essa arrumação só se torna importante quando tem de fazer um relatório exigente será que está a procrastinar?
Procura constantemente agradar os outros? Sente que precisa da aprovação dos outros para ter confiança em si próprio? Tem dificuldade em estabelecer limites e em tomar decisões próprias? É facilmente persuadido? Acaba por sentir-se sobrecarregado e excessivamente comprometido? Deixa de fazer as suas tarefas para ir ao encontro das expectativas ou necessidades dos outros?
Será que dramatiza o seu compromisso para com uma determinada tarefa em vez de a realizar? Imagina que leva os seus livros de estudo técnico para férias e nunca os abre, ou até recusa convites para acontecimentos sociais – mas não é verdade que acaba por ficar em casa sem fazer nada, nem relaxar-se, nem divertir-se? Será que desta forma não permanece num estado constante de contemplação improdutiva sem nunca trabalhar, realmente?
Acredita que os sucessivos pequenos atrasos são inofensivos? Quando pensa em adiar a realização de trabalhos ou de estudos para ver 5 minutos de televisão ou para verificar o correio electrónico será que não fica pela televisão ou pela Internet o resto do tempo sem fazer o mínimo trabalho agendado?
Fica paralisado a decidir entre escolhas alternativas?
Vê-se a si próprio como irresponsável, indisciplinado e preguiçoso? Sente-se submerso na armadilha da procrastinação e encara as suas dificuldades como parte do seu destino? Sobrestima as capacidades dos outros e subestima as suas acabando por sentir que não tem grande valor nesta ou naquela área (ou em todas) e que jamais conseguirá alterar o rumo dos acontecimentos?
Engana-se a si próprio afirmando que um desempenho ou uns objectivos medíocres são aceitáveis para si? Será que esta decisão não terá influência no seu projecto de carreira? Será que isto não o impedirá de fazer escolhas acerca de objectivos importantes na sua vida?
Será que subestima o trabalho envolvido na tarefa ou sobrestima as suas capacidades e recursos?
Será que procrastina relativamente às tentativas para mudar os seus comportamentos de procrastinação e simplesmente goza do estatuto social que essa atitude lhe confere?
Se prestar atenção aquilo que diz a si próprio encontrará pensamentos deste género: “Vou esperar que tenha vontade para começar”; “Mereço celebrar hoje. A dieta começa amanhã”; “O meu problema de saúde não é muito grave. O tempo acabará por curar...”; “Tenho muito tempo para fazer isto”; “Tenho que arrumar tudo antes de começar a trabalhar”; “Porque é que o professor nos dá tanto trabalho para fazer? Não é justo”; “Não sei por onde começar”; “Trabalho melhor sobre pressão por
isso não preciso de o fazer agora”; “Tenho muitas outras coisas para fazer antes desta”; “Sei que posso fazer isto no último momento, porque na última vez safei-me bem”; “Vou poupar tempo e esforço e fazer isto no último instante”; “Espero que chegue o mês de Outubro, pois por essa altura os exames já terão passado independentemente daquilo que eu tenha feito”?
Estas são apenas algumas formas e sinais de procrastinação que o poderão ajudar a identificar aquelas em que mais se revê.