
Caminhamos inconscientemente para um Estado Totalitário, inocentemente crentes numa Democracia em cujo povo não admite a essência Oligárquica de legitimidade border-line dos seus Senhores.
Tal como na Alemanha nos anos 30, a maioria da população urbana e toda a população rural, agora info-excluída além de iletrada, não compreende o que se passa. Não entendem porque desconhecem a informação indispensável. Não querem sequer gastar tempo a entender o que se passa em seu redor porque estão entretidos com as telenovelas, o futebol e a miragem de uma vida como-a-da-vida-dos-ricos-e-famosos.
Na ilusão que lhes proporcionaram, apenas desejam ser deixados em paz, para continuar a monótona e eterna luta de sobrevivência entre o início e o fim do mês, aguardando o parco soldo, atolados na preocupação de fazer face aos custos da armadilha neo-feudal que estimulou o facilitismo consumista "em suaves prestações".
Compreende-se que seja difícil, toda esta situação decorre num clima de anestesia psicossocial permanentemente enfatizado por ameaças várias que fazem jus ao provérbio "
para pior, antes assim". No ventre da paranoia utilitária estão incluídas dois gémeos siameses: a ameaça do terrorismo fundamentalista islâmico e o risco do colapso económico, tal qual um Frankenstein esquizofrénico de paternidade neo-conservadora e útero islamista, amplamente mediatizados por influência dos interesses, obscuros, do verdadeiro Poder.
O
medo quando eficientemente exagerado, pode resultar em terror e entorpece; portanto, pode ser muitíssimo útil para alguns, apesar do incómodo para a maioria.
O torpor actual da população portuguesa é também repetidamente reforçado pelo receio ansioso de perder os parcos meios de subsistência por causa de uma qualquer falência surpresa ou pela ameaça velada de serem alvos fáceis de uma qualquer penhora consequente ao emergir da insolvência por excesso de créditos. O que se poderá dizer ou fazer quando se sabe que educar decentemente um filho custa o equivalente a dois salários mínimos?
Muitos foram aqueles que, crédulos e dignos, aquilatavam que o Estado pós 25 de Abril iria finalmente querer acabar com o Mal, sendo já são apenas uns quantos que têm vindo a descobrir que a chamada "Revolução" descurou quem deveria proteger. De serve a nobreza e o bom carácter quando imersas num atoleiro de torpeza?
A geração da revolta estudantil de 1969, na minha opinião, falhou. Falharam as chamadas elites políticas, de quem o país esperava um mundo novo e obteve uma aldeia endividada.
Aquelas elites, à esquerda e à direita, do alto do seu egocentrismo, cantam repetidamente desde aquela época fadunchos após touradas ou temas de intervenção arranhados em guitarradas ébrias entre amigalhaços nostálgicos, enquanto catrapiscam algumas franguinhas/os encantadas/os pela hipnose branca das cobras velhas. Tudo garganta, muita parra pouca uva (encarquilhada e seca).
Envelhecidos pelos excessos, obesos com as artérias entupidas, inebriados por abusos sucessivos, por taras inenarráveis e pervertidos por anos a fio de habituação a fetiches banalizados entre concretizações esgotantes de perversas fantasias, já não possuem energia para a recriação do Amor que antes glorificaram. Agora, apenas podem ambicionar ao prazer fácil, imediato e dúbio, que pouca culpa lhes trará, experientes que estão na ausência crescente de insensibilidade perante a pureza e da falta de remorsos perante a destruição do outro.
Assim como a tal posição sexual, a elite governativa da utópica geração de
69 fecha sobre si um círculo de auto-gratificação que dá prazer aos intervenientes directos, mas que é limitativo na gestação de prole e, por isso mesmo, frustrante na continuidade melhorada da
situação. Há porém, uma verdade inultrapassável: o decorrer do Tempo será o melhor juiz de todas as coisas.
Quanto à minha própria geração - aquela outra das efémeras manifestações anti-PGA e dos pífios movimentos anti-propinas - na sua maioria aguardam pacientemente a oportunidade de intervir, (des)crentes que estão na (des)honestidade legítima dos agentes do Estado, eleitos ou nomeados para defender o
Bem da Nação. Pois sim: aos queridos colegas da minha década, a de 70, aos jotinhas já crescidos e afins, não lhes auguro grandes sucessos se imitarem ou se apenas reformarem superficialmente os procedimentos vigentes da geração anterior. Viu-se bem no que deu a
evolução na continuidade da
Primavera Marcelista .
Se o sucesso de Portugal pode implicar uma continuidade, um corte ou uma ruptura, não me compete opinar publicamente - disso não tenho qualquer obrigação e muito menos para tal sinto vontade; Apenas direi que o sucesso
lato senso depende de uma vasta equação que contém, entre muitas outras variáveis, a gestão racional das emoções, a aplicação sensível da racionalidade e do desempenho audaz da administração por pessoas competentes.
A propósito de (in)competência: têm sido alguns os sintomas que evidenciam ultimamente uma deriva autoritária emergente, entre outros sinais corrupcionais preocupantes; convém pois, permanecer alerta, construtivo e jamais abdicar da nossa responsabilidade de intervir como cidadãos em prol da sociedade. Ora a propósito disto, diz-me um querido amigo do alto da sua prudência abonada, que quem pensa e escreve
certas coisas poderá até mesmo vir a ser acusado de desobediência civil. Agradeço o aviso e reconheço em algumas situações recentes tornadas públicas aquele aviso.
Se assim for, teremos chegado à re-legitimação do defunto "Delito de Opinião" mas principalmente ao atropelo descarado, perverso e fatal da Constituição da III República. Será por isso que se fala, nos tempos que correm, em mudar a dita cuja?
Não descarto a possibilidade de que a tal absurda e kafkiana hipótese acusatória um dia me possa vir a suceder, a mim ou a qualquer outra alma realista que ouse manifestar-se sem ser politicamente correcta, como alías já ocorreu num passado muito recente. Mas descanse o meu caro amigo porque se tal um dia suceder, aceitarei o seu poderoso patrocínio que sei que paternalmente me imporá. Tudo porque também reconheço, que sendo desprovido de substanciais meios, sou rico em amizades fraternais, estando assim obrigado a não ser estupidamente orgulhoso.
Sendo assim sejamos claros: hoje penso que, para quem está atento ao decorrer dos pormenores do tempo, existem vários sinais que revelam um insidiosa tendência para a fundação de um Estado neo-Totalitário, um híbrido anormal travestido de roupagens da Democracia, mas com uma Oligárquica matriz interior, de traços e instintos absolutistas: regulamentação para tudo, dependência para quase todos. Ainda recentemente fomos testemunhas silenciosas e colaborantes (por inacção)de um golpe de Estado constitucional que veio a resultar numa posterior maioria absoluta que, por enquanto, se mantêm. O povo, essa imensa massa heterogénea que não têm uma só opinião, deixa-se influenciar com facilidade. Doutro modo, não existiriam, agora e no passado, ditadores eleitos democraticamente.
E é dentro desta dependência pela liderança
pater família que, envoltos nos longos braços dos pastores que detém o cajado e os cães de guarda, dormimos como ovelhas no redil. Um povo que dorme assim é porque tem a consciência leve ou então é crente ou é ingénuo, ou é tudo isto em simultâneo, sendo tal facto enternecedor sem deixar de ser preocupante. – Mas… e se os pastores forem também eles, afinal, os lobos? Será pois caso para recordar a locução latina que desculpará quem os legitimou:
beati pauperes spiritu.
A ser assim, no mínimo um destes dias acordaremos numa Cadeia, em consequência de uma qualquer decisão aleatória de prisão preventiva emitida pela infalibilidade dos meritíssimos semi-deuses que seguem à letra os ditames normativos feitos à medida dos interesses da
situação.
Quando abrirmos tardiamente os olhos para o pesadelo, veremos no beliche de cima o vizinho que festejou o aniversário e bebeu uns copos arriscando ir para casa de carro: teve azar, não foi previamente avisado por um amigo da esquadra sobre a operação-stop dessa noite.
Na cela do lado estarão também o merceeiro e o dono do café da esquina, a passar o tempo de detenção por fraude após inábil fuga ao fisco tentada para evitar a falência depois de mais uma subida dos impostos que lhes prometeram não subir ou em consequência da abertura de mais um Centro Comercial. Uma ficção, não é verdade?
Continuando este irrealista cenário, no pátio encontraremos o arrumador a quem costumávamos dar umas moedas e que foi detido por tráfico para consumo. Chegados ao refeitório, podemos almoçar com homem do talho, preso por ter dado uma estalada no filho grosseirão. Quando regressarmos pelos corredores lúgubres à cela, se sobrevivermos ao stresse das ameaças de violação e às agressões físicas dos "soldados" que cumprem pena para salvar as hierarquias do polvo, talvez consigamos ambicionar o sonho de emigrar se formos libertados vivos e sãos. Na cadeia estaremos todos garantidos disto: vamos aprender a amaldiçoar o dia em que nascemos inocentes, crédulos e pobres, sem qualquer hipótese viável de sermos "empreendedores de sucesso" ou de termos conseguido obter um fluxo financeiro relevante para a contratação dos serviços de um escritório de advogados especialistas ou de um lobbie que nos promova uma revisão legal das normas, ou outros
serviços de limpeza regiamente pagos por contas instaladas num qualquer offshore.
Deus tenha Piedade de nós.