segunda-feira, 30 de março de 2009

Perguntas... de Mário Crespo, jornalista.


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Este homem é um Jornalista.


Como todo o bom jornalista que se preze e saiba honrar a profissão faz perguntas, mesmo quando opina.


As perguntas muitas vezes são incómodas. Quando isso acontece e não são adequadamente respondidas, suscitam mais perguntas, algumas meias-perguntas, muitas dúvidas e, consequentemente, muita boataria.


É o que, infelizmente, está acontecendo, com muitos danos, internos e externos, para Portugal.
Lamentável.


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domingo, 29 de março de 2009

Petição


Para ler e assinar a "Petição pela responsabilização efectiva das famílias nos casos de absentismo, abandono e indisciplina escolar" clique aqui
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O Medo do Insucesso Nacional

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Depois da publicação do Mitos da Economia Portuguesa, livro que já elogiei aqui , o Professor Álvaro Santos Pereira conseguiu novamente o prodígio de escrever outro livro de leitura muito acessível aos não especialistas, uma vez mais sobre o complexo tema da economia portuguesa.

Num registo equilibrado, entre o rigor técnico e o tom cordial - nalgumas passagens até mesmo provocador, humorada ou intimista - esta edição faz uma análise técnica, com um cunho pessoal marcadamente optimista e construtivo, sobre a evolução longitudinal da economia portuguesa contemporânea.

Apreciei e aprendi. Recomendo a leitura.


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quinta-feira, 19 de março de 2009

quinta-feira, 12 de março de 2009

Recado à Professora...e outra pérola trágico-cómica

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e outra pérola :


Sim, a minha primeira reacção foi rir, muito até. No final de um dia de trabalho intenso, sabe bem descontrair.

Depois de enxugar as lágrimas, caí novamente na dura realidade: com base no que ouço dos meus amigos docentes e vejo um pouco por todo o lado na sociedade em geral, parece-me cada vez mais evidente que ser Professor, hoje em dia, também é exercer uma profissão demasiado complicada. Até mesmo arriscada, a nível físico e mental.

É caso para dizer finis coronat opus, não é verdade caros amigos e concidadãos?

Ânimo! Força e coragem, oh valentes!

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segunda-feira, 9 de março de 2009

Portugal e a imprescindível Política da Verdade


Hoje, enquanto conversava com uma amiga de longa data, dei por mim defendendo a necessidade de fazer em Portugal uma grande revolução na ordem para evitar aquela outra que outros fatalmente poderão vir a fazer na desordem. Defendi que é preciso sentir a mesma ânsia de reforma e renovação construtiva que preconizou outros momentos da nossa história em que a nação se rejuvenesceu.

Para o efeito, há que distinguir os preconceitos dos princípios no actual estado da nossa civilização: sentir a revolta interior contra a injustiça, a imoralidade, a mentira, a hipocrisia, o parasitismo que vemos campear na vida política, económica, financeira e social do nosso país; reconhecer e afastar aqueles que vivem à sombra de venerandas mentiras sustentadas por indivíduos ou classes incapazes de se regenerar.

Há também que ter a coragem de não confundir nem comprometer o que existe de eternamente são, verdadeiro e belo, na nossa Sociedade, diluindo a crosta de erros, abusos e degenerescência que não são da sua essência nem constituem a sua força colectiva.

Onde encontrar os agentes dessa mudança? Na esquerda? Na direita? No centro? Onde quer que haja cidadãos desinteressados e nobres, consciências limpas e rectas, corações sedentos de verdade e de justiça, portugueses amantes de Portugal, nós podemos encontrar pontos de contacto, simpatias, solidariedades, apoio para a mudança de que necessitamos.

É cada vez mais evidente que existe uma profunda crise, para começar na Crise de Valores: estes sumiram-se, por anos seguidos de gastos públicos excessivos, de abusos impunes e actos de consumo impulsivos, numa exponencial orgia das notas e de crédito fácil; a organização do trabalho e da produção de riqueza perturbou-se gravemente e mostrou recentemente as consequências cada vez mais dramáticas das suas deficiências estruturais; a loucura das modas consumistas em tudo acrescentou o declínio até à demência colectiva, a começar pelas importações escusáveis e no endividamento externo; o desemprego vem cada vez mais como o último flagelo, inserido numa economia que abranda cada vez mais e se fragmenta numa globalização implacável.

O futuro mostra-se incerto, mas de facto é previsível: os nossos filhos terão mais dificuldades do aquelas que nós possuímos agora. Os anos vindouros serão de vacas magras e isso implica que se aprenda desde já a lidar com a realidade da carência de recursos.

Concordo com a tese implícita no último discurso de Ano Novo do Presidente da República: a um sistema de administração em que predomina a falta de sinceridade e de luz, impõe-se uma política de verdade. Tal é essencial para o restabelecimento do sentimento de confiança, absolutamente imprescindível para o bom funcionamento individual e colectivo e, desde logo Institucional, em suma de tudo, do todo que compõe a estrutura basilar de uma nação como Portugal.

Num sistema de vida social em que só os direitos assistencialistas competem sem contrapartida com os deveres contributivos, em que comodismos e as facilidades político-económicas se apresentam como a melhor regra de vida, anuncia-se, como condição necessária de salvamento, uma politica de elevada moral e ética doutrinária, de exigência, de rigor, disciplina e sacrifício. Uma Democracia que se deixa devorar pela fluidez dos seus desígnios colectivos e degeneração dos fundamentos éticos da sua Política corre o risco de implosão e, desde logo, de continar sendo uma verdadeira democracia.

Num Estado que foi dividido e deixado dividir-se em irredutibilidades sociais e em grupos de interesses, é cada vez mais necessária uma doutrina que restaure o sentido e a força de uma política verdadeiramente nacional que não repouse sobre várias mentiras: a mentira das previsões orçamentais, a mentira das promessas eleitorais, a mentira da Justiça, a mentira da Educação, a mentira da força pública do Estado, a mentira disciplinar, legislativa e de segurança dos cidadãos, a mentira do Estado Providência e providencial, a mentira da Saúde para todos, a mentira da justa tributação, a mentira dos investimentos faraónicos como modelo de desenvolvimento sustentado, e assim por diante.

Como se faz uma tal reforma - ou revolução - do País e das suas Instituições? A nossa história ensinou-nos como isso sucede, basta que percebamos até onde, infelizmente, teremos que chegar para que tal aconteça.


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terça-feira, 3 de março de 2009

Narciso, Eco e a etimologia do Narcisismo



Segundo o poeta Ovídeo, ao rio-deus Cefísio e à ninfa Laríope, nasceu um filho chamado Narciso, que parecia à sua dedicada mãe o mais belo dos meninos.

O rapaz cresceu de uma beleza rara, não só aos olhos da mãe mas aos de todos os que não fossem cegos. Não havia rapariga que não lhe lançasse olhares apaixonados; e os jovens menos favorecidos tinham de invejar os encantos que tornavam Narciso vaidoso acima de todas as criaturas da terra. Quando atingiu a flor da idade adulta, estava apaixonado apenas por si próprio.

Afastando-se de todos os que pretendessem ser seus companheiros, Narciso costumava passear sozinho por locais solitários, perdido na admiração pela graciosa figura que nenhuns olhos, excepto os seus, eram dignos de contemplar.

Um dia, quando vagueava por um bosque foi, sem dar por isso, visto por Eco, uma ninfa dos bosques que o amou à primeira vista, mas não queria abrir o coração até que ele lhe perguntasse o seu segredo: Hera, esposa de Zeus, rainha legítima do Olimpo, descontente com a língua tagarela da ninfa, retirou-lhe o dom da fala a não ser em resposta a outra voz.

Por isso agora, quando Narciso andava pelas matas, Eco acompanhava como uma sombra os passos daquele belo jovem; ansiosa como estava por se dirigir a ele, tinha de esperar que ele falasse primeiro, e nem se atrevia a mostrar-se a não ser por desejo dele.
Mas ele, entregue a doces pensamentos sobre a sua própria pessoa, continuava a caminhar silencioso e a donzela seguia-o amorosamente sem ser vista, até que, por fim, quando ele parou numa fresca fonte, aos seus ouvidos chegou um sussurro vindo das folhagens.

- “Quem está aí?” exclamou Narciso, levantando os olhos para perscrutar a sombra verde.
- “!” respondeu-lhe Eco, sem que ele visse quem falava.
- “De que tens medo?”, perguntou ele; e a voz invisível respondeu: “medo!”.
- “Vem aqui já!”, gritou espantado por suas palavras lhe serem devolvidas de forma trocista; mas a voz não se materializava.
-“!” foi a resposta; e então surgiu Eco toda corada, como se alguém lhe tivesse deitado os braços ao pescoço.
Mas na água cristalina da fonte o jovem captara outra imagem que agradava mais aos seus olhos; e pôs de parte rudemente a ninfa enamorada, com palavras duras.
-“O que te traz?”
-“Traz!”, gaguejou ela, recuando perante o seu ar carrancudo.
-“Vai-te embora!” mandou ele zangado. “Nada pode haver entre alguém como tu e o belo Narciso.”
-“Narciso!” suspirou Eco quase indistintamente; e fugiu nas pontas dos pés para esconder a cara envergonhada na sombra profunda da mata, rogando numa prece silenciosa à Deusa Némesis, que aquele jovem orgulhoso aprendesse por si próprio o que era amar em vão.

Quando ficou sozinho, Narciso, cheio de curiosidade, voltou-se para trás, para aquela água em que julgava ter visto um rosto mais belo. Como num espelho de prata, ela cintilava à luz do Sol, cercada por um anel de plantas floridas, como que a defendê-la das patas dos animais que ali costumavam beber. Ajoelhando-se na borda, estendeu a cabeça sobre a fonte clara, e lá viu um rosto e umas formas tão arrebatadoramente belas que estava pronto a saltar para a água para junto de tão formosa figura.
-“Quem és tu, assim tão belo?” exclamou Narciso; e os lábios da imagem mexeram-se, mas não escutou resposta.

Sorriu e o sorriso foi-lhe devolvido. Corou deliciado e o rosto na água cobriu-se de sangue rosado, com os olhos brilhando tal como os dele. Estendeu a mão e a linda forma fez-lhe o mesmo gesto; mas logo que a superfície da água foi tocada, a bela imagem desapareceu como um sonho, para regressar pouco depois em todo o seu encanto, enquanto ele se contentava em olhá-la, imóvel; e depois novamente ficou mais baça por baixo das lágrimas de aflição que ele derramava na água.

-“Não sou pessoa que se despreze”, argumentou ele com a imagem tímida que o encantava, “mas alguém que donzelas mortais e ninfas têm amado em vão”.
- “Vão!”, ressoou do bosque a voz triste de Eco.

Repetidamente ele se curvou para apertar aquela imagem encantadora nos braços, mas sempre ela lhe fugia; e quando ele lhe suplicou que se deixasse abraçar, a imagem limitou-se a imitar os seus gestos num silêncio inflexível.

Enlouquecido por tão grande encanto à sua semelhança, não podia afastar-se do espelho no qual a sua imagem continuava a troçar da sua imaginação.

-“Aí de mim!”, era o seu grito constante, que sempre lhe era devolvido em suspiros vindos do refúgio da rejeitada ninfa Eco.

Hora após hora, dia após dia ficou Narciso curvado sobre a borda da fonte em vigília, sem querer saber de comer ou de beber, clamando em vão por aquele objecto imaginado de adoração, até que, por fim, o coração deixou de bater de desespero, e ele caiu entre os lírios de água que lhe serviram de mortalha.

Os próprios Deuses foram tocados na compaixão por aquele cadáver tão belo; e assim se transformou Narciso na flor que tem o seu nome.

Quanto à pobre Eco, que pedira aquele castigo para o coração frio de Narciso, nada ganhou senão dor por sua prece ter sido ouvida. Solitária, foi chorando o seu amor desprezado, até que dela só restou uma voz inútil, que ainda hoje habita as montanhas onde nunca mais pôde ser vista por quaisquer olhos surpreendidos; mas sempre tem de lhe deixar a última palavra.



Inspirado no Mito de Narciso e no que subjaz às múltiplas versões do mesmo, i.é, o amor (obsessivo) que se tem pela imagem de si mesmo, o conceito de narcisismo tem sido desenvolvido pela psicanálise. Tudo começou quando Freud utilizou o termo Narcisismo como um conceito teórico que permitia explicar a psicose como um retorno da libido sobre o sujeito; mais tarde também foi utilizado como um conceito clínico que descreve um conjunto de atitude humanas dominadas por duas características principais: o desinteresse pelo mundo exterior e uma imagem grandiosa de si.

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